Serralves inaugura exposição dos cem anos a conectar a cidade do Porto à Natureza
Numa contínua celebração do centenário do Parque de Serralves, inaugura esta sexta-feira a exposição multidisciplinar “Interconectados. 100 anos do Parque de Serralves”. Esta é dedicada à história rica deste espaço, desde as espécies que o habitam, aos edifícios que o compõem.
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Quando os portões principais de Serralves abrem, a primeira imagem icónica e singular deste parque é a Alameda de Liquedâmbares. As árvores imponentes que formam aquele corredor repleto de natureza, são consideradas um símbolo de equilíbrio, de cura e da interconexão de todos os seres vivos.
Nem por nada esta exposição reflete sobre todos os elementos que fazem deste lugar um espaço tão especial da cidade do Porto. Para falar dos cem anos é necessário viajar até às origens, à história, por isso foram convidadas para realizar a curadoria Maria Fernanda Rollo e Inês José.
A exposição está localizada no Largo e Celeiro da Quinta de Serralves, que só pode ser acedida pelo público, após percorrerem todo o Parque. As curadoras desde logo identificaram o que define Serralves e a Diretora do Parque, Helena Freitas, não poderia estar mais de acordo.
Em entrevista com o JN, Helena Freitas admite que na escolha do espaço, “realmente há uma intenção aqui. Este é um espaço muito privilegiado para as crianças, para as famílias. Para trazermos uma dimensão muito única que Serralves tem, que é da educação. Isto é absolutamente determinante”.
A programação de Serralves tem sempre em principal preocupação o aspeto pedagógico. Este não poderia existir se não estivesse interconectado com a dimensão do espaço rural, “esta dimensão hoje faz imensa falta, na forma como temos necessariamente de perceber o mundo e os novos equilíbrios. A dimensão da ruralidade tem de fazer parte do nosso futuro, e temos que perceber como”.
Ao construir esta exposição marcante, no Largo e Celeiro, há uma nova apropriação e alargamento de Serralves, tornando-se cada vez mais otimizado e plural, podendo assim chegar-se mais perto da comunidade.
Dos aspetos mais singulares do Porto é a interconexão entre o espaço urbano e rural, em que a natureza existe em comunhão. Onde entre os prédios, as árvores mantêm-se donas do seu espaço e Serralves é o perfeito exemplo desta particularidade da cidade.
“Este espaço acaba por manter o diálogo com o aspeto rural e, ao mesmo tempo inspira a construção do espaço urbano. Esta Quinta é determinante nesta transformação, porque ela inspira também a transição do espaço urbano, que ainda hoje olha para Serralves”, reflete a diretora do Parque.
A exposição centenária é, no seu cerne, uma homenagem, não só aos Liquidâmbares, mas às crianças, às famílias, aos namorados, que por Serralves passaram. Mas também a quem assegura a identidade de Serralves. Para os honrar, foram ainda produzidos dois documentários, que passam continuamente na exposição. Um destes é exclusivamente sobre os jardineiros de Serralves.
A diretora do Parque, Helena Freitas, confessa que se deixou “comover particularmente pelo filme em homenagem aos jardineiros e eu acho que eles são tipicamente, infelizmente, as pessoas que são as mais esquecidas. Não fazem parte dos acervos e são a verdadeira alma de Serralves. Acho que é um filme lindíssimo que devolve este acervo para os próximos cem anos”.
A mesma adianta ainda que está a ser trabalhado um livro, onde estes cem anos serão imortalizados em papel, “porque é uma forma de respeitar a memória”. Ficará assim arquivado o impacto de Serralves na cidade do Porto e na comunidade.
A história é notável. Como na vida, existiram momentos altos e baixos, mas a Diretora Helena Freitas acredita que soubesse “sempre fazer a escolha certa”. O que se comprava pelo peso evidente que este espaço emblemático carrega para o Porto. Contudo, na visão da mesma, “acho que (o peso de Serralves) vai muito para além do que a própria cidade percebe”.
“Acho que Serralves é um espaço único que não é só do Porto”, acrescenta, pois, mesmo nascendo na região e continuar a sua evolução em prol da cidade, Serralves acaba por revelar-se no país e no mundo. O mesmo é comprovado nos prémios internacionais e no valor que lhe foi atribuído no palco global.
“Eu penso que hoje o Porto terá sempre em Serralves uma das suas referências e uma das suas pérolas. Não tenho dúvida nenhuma que será sempre um espaço acarinhado. Até porque Serralves contaminou gerações”.
Interconectados é apenas uma perspetiva dos cem anos do parque, porque na realidade é pedaço de história inquantificável. Contudo, é um primeiro passo para relembrar aqueles que fizeram de Serralves o marco histórico que é atualmente.
Depois de uma centena, o trabalho continua. Hoje homenageasse, para amanhã poder-se manter o trabalho. A Diretora do Parque, ciente da responsabilidade que este centenário carrega, promete “continuar a afirmar esta história de qualidade e de respeito pela integridade, pela beleza, pela estética, pelo saber fazer, pelas pessoas”. Este processo começa por antecipar a linguagem do futuro, “visível na programação atual e vai ser cada vez mais notável”.
Interconectados pela história, pela memória coletiva de um espaço tão imponente do Porto, que mesmo localizado numa das zonas mais opulentas da cidade, acabou sempre por juntar comunidades e nunca separá-las. “Poderia ser um espaço considerado elitista, mas Serralves desmonta este conceito e desmontar isso é extraordinário e só acontece porque de facto este espaço toca as pessoas”, diz a mesma responsável.
Exatamente por isso é que “Interconectados. 100 anos do Parque de Serralves” foi pensado por pessoas, para os portuenses e todos aqueles curiosos sobre a essência deste lugar especial.