Amanhã arranca a 15.ª edição do MOTELX. Com 70 filmes, incluindo dois da trilogia inacabada de Joaquim Leitão.
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Os fãs do cinema de terror já não passam sem o MOTELX, Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. E a edição número 15, que acontecerá mais uma vez no Cinema São Jorge, surge cheia de novidades. Exemplo disso é o filme nunca visto do mestre George Romero, a atenção dedicada a um serial killer no feminino, o olhar panorâmico sobre o que de melhor tem sido apresentado nos últimos meses neste género, a recuperação dos dois títulos da trilogia inacabada de Joaquim Leitão sobre a guerra colonial portuguesa e a indispensável secção competitiva de curtas nacionais.
O festival abre amanhã à noite, com a antestreia de "A lenda do cavaleiro verde" (chega às salas na quinta-feira), uma releitura da lenda arturiana de Sir Gawain, realizada por David Lowery e interpretada por Dev Patel. A sessão de encerramento, com a entrega de prémios, decorrerá no próximo domingo, com a exibição de "The night house" (já com distribuição nacional assegurada), em que uma mulher viúva, interpretada por Rebecca Hall, decide permanecer na casa à beira de um lago que o marido lhe construíra, começando a ter sonhos e visões fantasmagóricas.
Filmes a concurso
Nessa altura, os espectadores do MOTELX já terão passado por toda a espécie de emoções fortes, sobretudo na secção Melhor Longa Europeia, cujo vencedor estará na corrida pelo Mélies d"Or e que será julgada por um júri composto por Adriana Molder, Ana Moreira e o espanhol Diego López-Fernández.
Há oito filmes a concurso, oriundos de Espanha, França, Rússia, Itália e Suécia. Mas o principal destaque vai para a portuguesa "Um fio de baba escarlate", de Carlos Conceição.
O realizador, que já tem várias curtas premiadas, como "Boa noite Cinderela" e "Coelho mau", e que já terminou a rodagem da próxima longa, "Adeus King Kong", relata-nos aqui a vida pacata de um serial killer lisboeta cuja vida é abalada quando uma jovem que acabara de saltar de um prédio lhe pede um último beijo, transformando-o num ídolo das redes sociais. Um filme que promete sangue, transgressão e delírio visual. É interpretado por Matthieu Charneau, Joana Ribeiro e Leonor Silveira.
Retrospetiva clássica
A secção Room Service, sempre uma das mais concorridas, oferece várias surpresas, nomeadamente filmes de origens inesperadas para um festival deste género, como a Tunísia, o Cazaquistão ou a África do Sul, ou obras de cinematografias históricas no cinema de horror, como a norte-americana ou a japonesa.
Entre outros, vão seguramente impressionar, mesmo os mais destemidos, filmes como o taiwanês "The sadness", sobre a pandemia, o francês "Barbecue", que se ambienta num talho muito especial, o japonês "Fukushima 50", sobre um grupo de trabalhadores que decidiu permanecer no interior da central nuclear, ou os feministas "Black Medusa" ou "Violation".
Estes títulos fazem ponte para um programa especial retrospetivo, intitulado Fúria Assassina: Mulheres Serial Killers, no qual podem ser vistos ou revistos clássicos como o japonês "Audition", o francês "Baise-moi" ou os americanos "Monster" ou "Serial mom".
Num programa que engloba 70 filmes, incluindo documentários e filmes para os mais novos, o cinema português tem também uma forte presença. O módulo Serviço de Quarto, que tem resgatado do esquecimento filmes portugueses de género, é composto pelo programa "O coração das trevas português", com a exibição dos dois únicos títulos da trilogia inacabada de Joaquim Leitão sobre a guerra colonial, "Inferno" e "20,13 Purgatório".
Por seu lado, o Prémio MOTELX - Melhor Curta de Terror Portuguesa promoveu a rodagem de dezenas de obras nos últimos meses, de onde foram selecionadas 12, realizadas por Guilherme Daniel, Marcos Koe, Jacapo Wassermann, Inês Albuquerque, Emanuele Bosco, Tiago Pimentel, José Miro, Francisco Lacerda, Luís Costa, Ricardo M. Leite, Chico Noras e Raquel Martins.
Estes filmes, onde coexistem melodramas familiares, thrillers de sobrevivência, serial killers, slasher amnésicos e paranoias contemporâneas, vão ainda concorrer, com mais onze títulos, ao Mélies d"Argent - Melhor Curta Europeia.
O filme renegado do realizador George Romero
Autor da mais importante saga de filmes de zombies, o realizador nova-iorquino George Romero morreu em 2017, mas volta a meter-nos medo, com um filme recentemente descoberto, intitulado "The amusement park". Originalmente produzido em 1973, é o resultado de uma encomenda da Sociedade Luterana da Pensilvânia, que não terá ficado satisfeita com o resultado final de um filme acerca da ocupação na terceira idade, que Romero transformou numa crítica à forma como a sociedade trata os mais velhos. No filme, um idoso vai para aquilo que imagina ser um dia normal no parque de diversões, mas que se transforma num pesadelo infernal. O filme nunca fora exibido, mantendo-se na prateleira, até ser descoberta uma cópia em 16 mm, que Romero ainda veria. Devidamente restaurado, o filme passou em 2019 em Pittsburgh, a cidade que o realizador adotara e estreou comercialmente nos Estados Unidos o ano passado. O MOTELX traz o filme pela primeira vez ao convívio com o público português.