O novo disco de Caramujo, "Ao Encontro da Alegria", reúne poemas de Nuno Higino e composição de Fernando Lapa, num trabalho de "ânimo" dedicado (e protagonizado) à solista Carla Caramujo.
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A soprano portuguesa aproveitou a "generosa oferta" que lhe foi concedida para gravar um novo trabalho, um álbum editado pelo Movimento Patrimonial para a Música Portuguesa (MPMP), gravado com o ensamble deste grupo e o pianista Duarte Pereira Martins, e que, além do ciclo "Ao Encontro da Alegria", reúne outros trabalhos.
O disco de música clássica, com a voz inconfundível de Caramujo sempre presente, oferece ao público "um ciclo inédito" - "a primeira audição deste ciclo encontra-se nesta gravação", conta a soprano ao "Jornal de Notícias". "E foi realmente especial porque chegou às minhas mãos num momento muito difícil, durante o primeiro confinamento da pandemia, e teve um efeito de cura na minha vida."
Sobre o álbum, Caramujo aguça o apetite com a promessa de atualidade: "com poesia de José Manuel Mendes, de Eduarda Freitas e do Nuno Higino, temos acesso a poetas contemporâneos". "Vão ouvir um disco todo em língua portuguesa e com música nova e surpreendente." O ciclo "Ao Encontro da Alegria" andará pelo país, mas a estreia aconteceu na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão no mês passado, acompanhada de uma conversa com o compositor Fernando Lapa. Segundo Caramujo, a apresentação "correu muito bem". "Foi muito gratificante e emocionante poder apresentar estas obras pela primeira vez e foi também muito agradável poder comunicar com o público acerca da música nova".
Género profícuo em Portugal
A música clássica contemporânea é, aliás, um dos temas de conversa preferidos de Carla Caramujo, que considera que a relação deste género musical com o público português é "ávida". "Creio que o público adere muito bem e está sempre à espera de mais. Portanto, quanto mais ofertas houver, melhor." Para a solista, a democratização da música clássica e a ultrapassagem do estereótipo classista "já está feita". "O que é necessário é que haja mais oferta, que as salas de concerto tenham mais música clássica, música sinfónica, ópera, recital." Para Carla, ainda há que desmistificar "que a música clássica não produz tantas coisas novas como outros géneros", já que Portugal "tem autores e compositores atuais maravilhosos e com uma atividade profícua e ativa".
Carla Caramujo falou ao JN enquanto esteve no Brasil, a fazer as quatro últimas canções de Richard Strauss com a Orquestra Petrobras Sinfónica e o mestre Isaac Karabtchevski, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No país "irmão" de Portugal, a soprano acredita haver uma maior democratização da música clássica, com mais oferta. "Sempre que canto no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a sala está cheia. O último concerto que fiz com a Orquestra Petrobras Sinfónica, em outubro do ano passado, decorreu exatamente na hora em que houve o debate Lula-Bolsonaro, e eu fiquei admiradíssima com o teatro estar lotado."
Carla Caramujo voltará ao Brasil nos próximos meses, estando os finais de julho e início de agosto dedicados ao Theatro S. Pedro, em São Paulo, com o papel título em "cunning little vixen" (traduzido para "raposinha astuta") de Leos Janacek, numa produção assinada por André Heller-Lopes e dirigida por Ira Levin.