Sétimo registo "Castanho" confirma um artista carismático e entusiasmante.
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Para um disco apresentado como uma coleção de ideias soltas, sem preocupações de unidade narrativa ou estética, "Castanho" tem uma evidente coesão. É o sétimo registo de T-Rex em sete anos e chega para interromper um relativo silêncio do artista de Monte Abraão, Linha de Sintra, pelo menos em termos de discos de duração longa, enquanto não é terminado o álbum "Cor d"água", há já algum tempo prometido e inacabado.
"Castanho" é dominado por versos entre a observação interior introspetiva q.b. e o pingue-pongue do amor e do desejo. Na faixa de abertura, "100 vibes", a densidade do trap convive exemplarmente com um ambiente mais etéreo trazido do r&b, uma aliança produzida por sonni sobre a qual cavalga T-Rex com uma intensidade ofegante. O r&b conquista terreno em "Pra mim", ainda assim sem amansar especialmente a entrega vocal; é como se se tivesse aterrado no final dos anos 1990. Já em "É assim", esta amálgama estilística também voa sobre África, recolhendo melancolia no lamento do que parece ser um violino.
Na flutuação ambiental e noturna de "Toma conta", bem esculpida pela produção de Active by Night, é o cantor que doma o auto-tune e não o habitual oposto. "Anti-antes", uma de poucas faixas em que T-Rex também mete as mãos na produção (ao lado de Lazuli), tem o refrão mais deliciosamente lúdico: "Eu deslizo sempre que eu ando, patins patins/ Ela segue o mesmo que eu, isso é capim capim". Uma das poucas brechas na muro temático ouve-se em "Verdadeiro feel", que soa a justa autocelebração pelo caminho de sucesso trilhado e também a uma decisiva linha de demarcação na areia entre os que estão com ele (a família, os fãs) e o resto. "Manifestar" aciona sintetizadores cinematográficos para o regresso do registo ofegante, um contraste desta vez orquestrado por IanoBeatz.
A intensidade, lúcida e lúdica e desafiadora, que não olha para trás, é um dos fatores mais cativantes da linguagem sonora de T-Rex. É um dos nomes centrais, e mais carismáticos, do hip-hop em Portugal, ano 2022. Sem o peso da História.
Castanho
T-Rex
Virgin/Universal