“The human fear” no regresso de Franz Ferdinand: sacudir o esqueleto ao arquiduque
“The human fear” é o primeiro álbum em sete anos dos Franz Ferdinand e marca regresso à boa forma.
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A banda que se batizou com o nome do arquiduque austríaco assassinado em Sarajevo em 1914 – evento com influência decisiva na eclosão da I Guerra Mundial – sofreu da “maldição do segundo álbum” que sempre afetou inúmeros projetos da pop. Pense-se nuns Kaiser Chiefs ou MGMT – apareceram com estrondo, dominaram uma estação, bateram os principais festivais e foram apontados, por críticos e fãs, como poção extraordinária com futuro diáfano. Veio o segundo álbum – e o terceiro e o quarto – e o seu lugar na história foi estreitando até caber num modesto rodapé. Algo semelhante aconteceu aos Franz Ferdinand.
Apareceram com estrondo em 2004 – um pós-punk arejado e a crepitar de ideias na rodela de estreia, “Franz Ferdinand”. O segundo álbum explora ainda as migalhas desse banquete e mantém algum interesse, mas a sensação é de já visto e desbundado. Depois foram desaparecendo, a cada álbum, atropelados pelas novas poções extraordinárias com futuro diáfano. Há algo de injusto no processo, mas também a penalidade para quem não quis, ou foi capaz de, desafiar os limites da sua própria música.
“The human fear”, sexta entrega da banda liderada por Alex Kapranos, sete anos depois do último “Always ascending”, não é uma ressuscitação do arquiduque, não lhe inventa um corpo novo nem promete gesta heróica. Mas é o conjunto de canções – apoiado na ideia de “procurar a emoção de estar vivo através dos medos” – mais estimulante desde “You could have it so much better” (2005).
Está lá a capacidade de produzir refrões orelhudos e catárticos (“Build it up” ou “Everydaydreamer”), a verve sarcástica (“The doctor”) e a ginga desengonçada a vários tempos (“The birds”). Há um excelente enlace com o ‘electro’ (“Hooked”) e um repescar da herança grega de Kapranos em “Black eyelashes”, que incorpora influências de ‘rebético’. Não chegaram a nenhum futuro luminoso, mas também não merecem as trevas.