Produção sem precedentes chega à Super Bock Arena do Porto este sábado e domingo. O JN falou com o diretor criativo do espetáculo.
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Editado em 1979, “The Wall”, o seminal 11.º álbum de estúdio dos Pink Floyd, mudou a vida do grupo e desconcertou o mundo da música. O disco duplo conceptual, que versava sobre as pressões da sociedade e sobre o isolamento e alienação por ela fomentados (na obra, simbolizados por um muro), sobreviveu ao teste do tempo e manteve a relevância durante 44 anos. Em 2023, continua a impactar gerações, vender discos, a inspirar espetáculos e criações e a justificar reedições.
Em 2019, quando o inigualável álbum do grupo britânico marcou os 40 anos, começou a desenhar-se o “The Wall Pink Floyd's Rock Opera”, um espetáculo imersivo que pretende recriar o disco com música, dança, espetáculo de luzes, uma banda ao vivo e uma reconstrução da história originalmente pensada por Syd Barrett, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright. Uma opereta, um pouco como o trabalho original.
Sob a direção de Mohamed Yamani e do premiado coreógrafo francês Johan Nus, a produção, que chega à Super Bock Arena, no Portom, este sábadio e domingo à noite, leva dançarinos, banda e cantores a apresentar uma experiência contemporânea e sensorial pelo universo psicadélico e emotivo dos Pink Floyd e de “The Wall”.
Música no prisma da dança
Ao JN, Johan Nus, diretor artístico, explica como o seu envolvimento com o projeto teve início com uma proposta irrecusável. “A produção propôs-me encenar esta nova versão do “The Wall” e não pude recusar. Especialmente porque a obra nunca tinha sido interpretada sob o prisma da dança, e pareceu-me importante contar esta peça através dos elementos combinados de música, imagens e dança”, explica.
Ao criar o espetáculo, o principal desafio, frisa, foi o de “não dececionar os fãs” e procurar respeitar a obra, na sua totalidade. “A música do Pink Floyd e as imagens de Alan Parker são extremamente conhecidas, pelo que era crucial contar a história, mas honrar a memória de cada elemento. O objetivo era oferecer uma nova perspetiva usando as ferramentas técnicas de hoje. E, como sou um contador de histórias, foi também essencial poder oferecer ao público uma nova experiência no palco”, adianta.
Ao longo do espetáculo, 10 bailarinos, sete músicos e cinco cantores procuram transmitir todas as emoções do disco, através da fusão entre ballet e dança contemporânea e das vozes que entoam ao vivo os temas de Pink Floyd. Em palco, não falta o muro que ao longo de todo o espetáculo vai sendo construído – até desmoronar-se no fim, tornando mais viva a mensagem do álbum.
Redescobrir a história
Ao ritmo de “Is there anybody out there?”, o personagem principal do álbum e do espetáculo, Pink, dança sozinho em frente a uma câmara, que projeta o vídeo para a plateia, até que o muro que tinha vindo a ser construído começa a cair, levando Pink de volta à realidade.
“O convite ao público é o de redescobrir a sua história, desde a infância com a morte do pai até à sua libertação ao derrubar o muro”, acrescenta Johan Nus. “É uma experiência realmente diferente. Combinamos a alegria de um concerto para os fãs, a arte da dança para aqueles que não estão familiarizados com o trabalho, e o elemento cinematográfico com os visuais criados. Acabámos de concluir uma tour em França e, todas as noites, o público se levantava para aplaudir de pé. Estou muito satisfeito com o feedback que temos recebido”, confessa.
Para o coreógrafo francês, o projeto é também muito pessoal. “Este álbum marcou minha adolescência. Fiquei particularmente tocado por várias faixas, como "Mother" e "Goodbye Blue Sky". O que mais me impressiona é que o disco permanece surpreendentemente moderno. Aborda temas contemporâneos como a saúde mental, o consumo excessivo, relações familiares, amor. E, em última instância, a necessidade de vivermos livremente”, conclui Johan Nus.