Sermos quem somos nunca foi tão difícil. Elias Canetti, em 1960, publicou um livro emblemático: "Massa e Poder". O que diz Canetti? Sucintamente: denuncia a domesticação das massas e a força que, depois, essas de-senvolvem ao serviço do domador.
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Analisa a agonia dos rebeldes. E Régio (na foto) foi - e é, nas suas obras - um rebelde nato. Quem não recorda a poesia "Cântico negro" e os versos finais? Palavras de recusa, de busca firme de si próprio, custe o que custe, arrisque o que arrisque, mas em liberdade: "Não sei por onde vou,/ Não sei para onde vou,/ - Sei que não vou por aí!" Elas - as palavras do poema - encheram a alma a muita gente. Villaret declamou-as e encheu salas. Durante os anos da peste do salazarismo, tinham um sabor especial: rejeitavam a servidão, reivindicavam o direito à escolha e à verdade individual. Denunciavam a injustiça de impor cabrestos -fossem de que cor fossem. "Cântico negro" pertence ao primeiro livro de Régio, publicado em 1925 - um ano antes do golpe de Estado que gerou a ditadura mais funesta da nossa história. O que veio a seguir trouxe censura e polícia política; mordaça e perseguição. Régio combateu-o e denunciou-o: em artigos e em posições públicas: em 1945, aderiu ao MUD; apoiou as candidaturas à PR de Norton de Matos e Humberto Delgado). Mas a recusa de arreatas acarretou-lhe críticas ferozes dos cultores (zdanovistas) do realismo socialista. Daí o silêncio dos aprendizes dos anos 60 que bem sabiam que acarinhar "revolucionários" lhes abriria portas... Revolucionário foi Régio e ainda o é - hoje. A sua voz opôs-se à massificação. E deixou aviso: 'Sê quem és e não aquilo que querem que sejas!" É estimulante lê-lo.