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A rainha Maria Pia ficou conhecida como "O Anjo da Caridade" e "A Mãe dos Pobres" dada a sua compaixão e as causas sociais em que se envolveu. O seu reinado durou até 1889, quando o marido, Luís I de Portugal, com o cognome O Popular, morreu de sífilis, em Cascais. D. Carlos I, seu filho que viria a ser o penúltimo rei português, tomou posse, ficando D. Maria Pia como a rainha viúva.
É neste contexto soturno que o "Jornal de Notícias" publica em maio de 1890, "Profundo desalento", última composição feita pelo compositor G. R. Salvini que viria a falecer quatro anos depois, em homenagem à rainha Maria Pia, publicada na primeira página. Gustavo Romanoff Salvini foi um compositor nascido em 1825, na então Prússia (hoje, parte da Polónia), contam as crónicas da época que terá deixado a sua terra natal por perseguições políticas, tendo-se refugiado em Itália, país de onde era também natural a rainha D. Maria Pia de Saboia. Ali aperfeiçoou os seus estudos de canto e iniciou a carreira lírica, no ano de 1849. Uma década mais tarde chega a Portugal, contratado para o Real Teatro de São João, no Porto, pela empresa Laneuville, onde se estreou com a ópera "Beatrice di Tenda", de Bellini. Reza a história que num grave acidente perdeu a voz na ópera "Os puritanos", de Bellini, terminando subitamente a sua carreira lírica.
Salvini envereda então por uma carreira docente de canto, piano e solfejo. Nas suas aulas reclamava o uso do português como língua cantada, já que à época o italiano era a língua dominante. Salvini decide então musicar os grandes poetas do Romantismo nacional, de Camilo Castelo Branco a Almeida Garrett, numa compilação de 40 canções que intitula "Romanceiro musical". Uma carreira paralela à de dono de uma loja de fotografia na Rua do Almada, chamada "Salvini & Co".
"Eu das lágrimas, faço contas com que rezo às escuras. Ai! Morte que tanto tardas, Oh vida que tanto duras!" foi o poema musicado dedicado à rainha.
Mais do que entabular um esforço para "conseguir que os portugueses cantem na sua língua", Salvini queria fundar o "Kunstlied" (canção de câmara erudita) português e procurava fazer uma reforma para a música em Portugal. Procurou apoio, sem sucesso, junto a escritores como Teófilo Braga e Ramalho Ortigão e até junto ao rei D. Carlos I, mas sem êxito. O compositor encontra-se sepultado no Cemitério de Agramonte, no Porto, numa pequena gruta.