Um eletricista que manteve 271 obras de arte de Pablo Picasso na sua garagem durante 40 anos, afirmou em tribunal que a viúva do pintor lhe entregou as obras para escondê-las do seu filho Claude.
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"A senhora Jacqueline Picasso tinha problemas com Claude Picasso", declarou Pierre Le Guennec, um eletricista reformado que foi condenado no ano passado, em primeira instância, por posse de bens roubados. Le Guennec está a ser ouvido no tribunal de Aix-en-Provence, França, no âmbito do recurso que interpôs.
O eletricista de 77 anos recordou, esta segunda-feira, que poucos meses depois da morte de Pablo Picasso, em abril de 1973, a viúva lhe pediu para guardar entre 15 e 17 "sacos do lixo" em casa.
Algum tempo depois, prosseguiu Le Guennec, Jacqueline Picasso foi lá buscar os sacos, mas deu-lhe um deles.
A coleção de arte que Le Guennec manteve na sua garagem inclui desenhos de mulheres e cavalos, nove colagens cubistas consideradas muito raras (da época em que Picasso trabalhava com o artista francês Georges Braque) e um trabalho do "período azul".
Os trabalhos não estão assinados, não foram inventariados nem avaliados, mas sabe-se que foram produzidos entre 1900 e 1932.
As autoridades francesas apreenderam as obras e entregaram-nas a Claude Ruiz-Picasso, que representa os seis herdeiros do mestre espanhol.
Le Guennec, que está a recorrer da sentença inicial conjuntamente com a sua mulher Danielle, tinha testemunhado antes que o casal recebeu os trabalhos em 1971 ou 1972, quando Picasso ainda era vivo.
O eletricista argumentou ainda que não tinha revelado a verdade ainda por "receio de vir a ser acusado, juntamente com a madame (Jacqueline), de ter roubado os sacos" do lixo.
Em março de 2015, um tribunal de Grasse condenou Pierre Le Guennec e a sua mulher a dois anos de prisão com pena suspensa.
Le Guennec trabalhou para Picasso entre 1970 e 1973 e também tinha dito que a viúva de Picasso, Jacqueline, lhe tinha dado as obras em reconhecimento da devoção do casal pelo pintor.
Ao chegar a casa, recordou, descobriu que se tratava de "desenhos, esboços e papel amarrotado" - 180 peças individuais e um bloco com 91 desenhos.
Pouco interessado nos trabalhos, Le Guennec disse que os pôs na garagem, onde os descobriu novamente apenas em 2009.
No ano seguinte deslocou-se a Paris para que Claude Picasso os autenticasse, mas os herdeiros do artista espanhol apresentaram logo queixa contra ele.