A barriga mais flácida e saliência no abdómen quando há esforço ou tosse são apenas alguns sinais de que os músculos retos abdominais, afastados para deixar crescer um bebé durante a gestação, ainda não voltaram ao lugar após o parto. Mais do que se conformar com os efeitos da maternidade, médica recomenda vigilância
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Quase todas as mulheres que engravidam e são mães arriscam desenvolvem diástase durante a gravidez. Na verdade, trata-se do processo em que os músculos do abdómen naturalmente se afastam para arranjar espaço para o bebé que está a crescer. E se isto é uma adaptação natural do corpo, o regresso dos músculos ao ponto de partida, antes da gravidez, também deveria ser.
Contudo, nem sempre é assim e a taxa de incidência em Portugal aponta para, apesar de não existirem números concretos, aproximadamente uma em cada três mulheres ainda permanecer com o problema 12 meses após o parto, sendo que as restantes melhoram espontaneamente após o nascimento do bebé.
E para lá da questão estética, “a diástase pode gerar outras complicações físicas que limitam e condicionam a vida no dia a dia, sobretudo para quem acabou de ter um bebé e precisa de se recuperar física e psicologicamente para conseguir tomar conta do seu filho”, refere a ginecologista e obstetra Mónica Gomes Ferreira.
“Além da separação dos músculos retos abdominais, que por vezes pode ser visível a olho nu, a diástase pode provocar dor lombar, debilidade muscular e complicações posturais, limitando a realização de tarefas quotidianas”, alerta a mesma especialista e cofundadora da MS Medical Institutes. A também codiretora do International PostMaternity Institute lembra que as “consequências físicas e emocionais da gravidez e pós-parto não devem ser normalizadas, devem ser sinalizadas e tratadas com a maior brevidade possível, para que a mãe possa recuperar e enfrentar esta nova fase com confiança e saúde”. A médica pede para que, “em caso de dúvida ou desconfiança, que se procure sempre um especialista”.
E há forma de prevenir esta condição? “É possível manter um estilo de vida saudável durante a gravidez, diminuindo o risco de vir a ter diástase, mas não é 100% garantido”, responde Mónica Gomes Ferreira. Ainda assim, a médica recomenda que se deva fazer “fortalecimento dos músculos abdominais, com exercícios próprios como a prancha, que ajudam a fortalecer a musculatura e a suportar a pressão abdominal durante a gravidez, manter uma postura correta, manter uma alimentação saudável para se aumentar de peso gradualmente, exercitar o períneo, evitar exercícios que aumentem a pressão abdominal, como os abdominais tradicionais, ou levantar pesos. No pós-gravidez, a fisioterapia pode ajudar na recuperação da zona abdominal, que é tão sobrecarregada durante a gravidez”.
Nesta matéria, os parceiros podem e devem colaborar com a recém-mamã. Um apoio “essencial” que passa pelo reconhecimento “da dimensão física e emocional desta condição”, refere e a médica. “Muitas mulheres sentem não só desconforto físico, mas também alterações na sua autoestima”, acrescenta. Nesse sentido, o outro progenitor pode ajudar “validando os sentimentos da mulher e evitando minimizar o impacto da diástase, apoiando nas tarefas diárias, sobretudo quando há limitações físicas, como evitar carregar pesos (incluindo o bebé, nos primeiros tempos de recuperação), facilitando o acesso aos cuidados — seja ajudando com marcações, deslocações ou organização logística, estando emocionalmente presente, incentivando a recuperação com sensibilidade e respeito pelo tempo e limites da mulher, reforçando a imagem positiva da mulher e lembrando que o valor dela não está condicionado por alterações físicas pós-parto”, enumera Mónica Gomes Ferreira.
Da fisioterapia à eletroestimulação muscular e cirurgia, os níveis de intervenção nesta patologia - que pode decorrer também de casos de obesidade, perda repentina de peso, exercícios abdominais mal feitos ou predisposição genética - dependem da gravidade do caso. Em matéria de alerta, a ginecologista e obstetra nota que certos exercícios são contraindicados, especialmente no início do tratamento, como abdominais tradicionais ou pranchas mal executadas, pois podem agravar a diástase. A reabilitação deve ser personalizada e ajustada à evolução clínica de cada mulher.