Cinco estratégias para falar de masculinidade tóxica com os filhos na escapadinha da Páscoa
Para muitas famílias, Páscoa é sinónimo de miniférias com filhos. Embora o tempo seja de descanso e leveza, este pode ser também o momento certo para abordar, com calma, temas sérios com os adolescentes, que têm marcado a atualidade. Psicóloga avança cinco formas de ‘tocar’ no sensível caso da ‘masculinidade tóxica’
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Tempo, disponibilidade e ambiente. Só falta juntar a coragem para aproveitar estes dias de descanso que muitas famílias gozam na Páscoa para tratar de temas difíceis, sobretudo com os mais novos.
Com a série Adolescência, da Netflix, a chocar pais e educadores por via da tomada de consciência do que os filhos andam a consumir no universo online, estando sentados no sofá da sala lá de casa, e com as sucessivas notícias de ataques, agressões, violações a raparigas que têm sacudido e chocado Portugal, o tema da masculinidade tóxica tem mesmo de ser tratado e o quanto antes.
“Momentos mais longos em família, tal como as épocas festivas, como é a Páscoa, são excelentes oportunidades para conversas significativas entre os adultos e os mais jovens— há mais tempo, disponibilidade e o ambiente é mais propício para aprofundar vínculos”, sugere a psicóloga clínica Teresa Feijão.
Mas o caso, que terá sempre de envolver rapazes e raparigas, é complexo, adverte a especialista. “Uma educação livre de masculinidade tóxica parece simples, mas é um processo de desconstrução longo e trabalhoso. Isso porque sabemos que o comportamento machista envolve muitas questões culturais, geracionais e sociais”, sublinha Teresa Feijão. Contudo, uma vez bem trabalhadas e esclarecidas, estas matérias “contribuem para uma sociedade mais justa e promovem a saúde mental e relações mais equilibradas”.
Para poder sentar à mesma mesa pais, mães e filhos, a especialista sugere “cinco estratégias potencialmente eficazes para abordar a masculinidade tóxica durante esses momentos”. Veja as possibilidades abaixo ao detalhe e com exemplos deixados pela psicóloga.
Contar histórias e usar filmes ou livros como referências
"Usar exemplos de um filme, uma série ou um livro com personagens masculinos e conversar sobre os comportamentos dos mesmos.
Por exemplo: “O que achaste quando ele disse que tinha de ser forte e não chorar?” ou “O que achaste quando ele usou a força em vez de tentar conversar?” ou ainda “O que achaste quando ele assume que é a mulher que tem que fazer as tarefas da casa sozinha?”
Falar abertamente de sentimentos
"Nas reuniões familiares, deve-se incentivar todos (inclusive os adultos) a partilhar algo que os fez sentir tristes, inseguros, felizes ou vulneráveis.
Este processo ajuda a perceber que as emoções não têm género e a reconhecer o direito de as sentir e expressar por ambos os sexos. Além de ser importante demonstrar afeto e incentivar a fazer o mesmo, é fundamental que os pais permitam que os seus filhos - meninos ou meninas - chorem e expressem as suas emoções, para uma educação livre do machismo. Aliás, chorar é também um sinal de força, uma vez que leva a expressar o que se sente, passo crucial para se lidar com as próprias emoções e desenvolver empatia.”
Questionar subtilmente 'crenças' em situações do dia a dia
Teresa Feijão sugere questões como: “Acham que é mesmo verdade que um rapaz tem sempre de ganhar?”, “E se um rapaz chorar, o que isso diz sobre ele?”, “As meninas são mais cuidadoras?”, “Os rapazes têm de ser fortes o tempo todo?” A ideia é deixar que eles próprios [os filhos] desafiem os estereótipos sociais”, recomenda.
Criar espaços de cuidado mútuo e incentivar ações pelo exemplo
"Promover momentos em que todos cuidam uns dos outros, tal como preparar uma refeição em conjunto ou escolher roupas uns para os outros. Mostrar que não tem que existir um padrão de escolha por género, e que carinho, delicadeza e atenção são valores humanos — não “coisas de meninas”. E não esquecer que o melhor caminho é o exemplo, sendo praticada a igualdade entre homens e mulheres no ambiente familiar.”
Partilhar histórias pessoais ou familiares
"Falar de homens na família (pais, avós, tios) e os papéis que desempenharam (bons e menos bons exemplos). E contar como certas crenças quanto a “ser homem” os ajudaram ou prejudicaram. Tal pode ajudar os jovens a descobrirem a origem de certas crenças, mas a perceberem que estas podem e devem ser alteradas."