Esta quinta-feira, 3 de julho, sacudiu Portugal com o choque. Os futebolistas Diogo Jota e o irmão, André Silva, morreram num acidente de viação, em Espanha. Atletas admirados profissional e pessoalmente por milhares de jovens, são perdas precoces que deixam todos de luto. Como ajudar quem perde uma referência
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“A morte de uma pessoa famosa que admiramos pode representar uma perda daqueles momentos particulares do nosso passado representado por uma memória especial associada a algum ou vários momentos da nossa vida”, considerou Teresa Feijão. A psicóloga clínica e pós-graduada em Coaching Psicológico abordou o luto aquando da perda inesperada e chocante, em outubro do ano passado, do cantor dos One Direction e compositor Liam Payne e perspetivou caminhos para ajudar jovens a lidar com a perda de figuras que fazem parte das suas referências.
Caminhos e estratégias que recuperamos e trazemos de volta à publicação a propósito da trágica morte dos jogadores de futebol e irmãos Diogo Jota e André Silva, que morreram esta madrugada, 3 de julho, num violento acidente de viação em Espanha, quando estavam a caminho de Portugal.
Recorde as declarações e as indicações da psicóloga, que sublinha que, “perante uma maior dificuldade de gestão emocional e de superação, há que sugerir acompanhamento com um profissional”. Teresa Feijão vinca que os especialistas podem ser fundamentais no processo porque, com eles, “o paciente consegue aos poucos formar novos vínculos significativos, possibilitando novos investimentos afetivos, seja em novos relacionamentos, novas oportunidades profissionais ou novas formas de viver”.
Como ajudar um adolescente que perde o seu ídolo?
Em primeiro lugar, é importante reconhecer a dor do jovem como legítima, já que muitas vezes esses vínculos com celebridades são profundos. Devem ser incentivadas conversas abertas sobre o que o seu ídolo significava para ele, além de validar a sua tristeza e estar disponível para o apoio que precise. É o mínimo fundamental para lidar com o luto.
Quais os sinais extremos do luto a que se deve prestar atenção? Porquê?
O luto representa uma tristeza profunda pela perda de alguém com o qual criámos ligação afectiva. Este é o ponto comum de qualquer luto por perda. E as reações associadas - como tristeza, ansiedade, angústia, saudade, preocupação, insónia, choro fácil - são semelhantes. O que varia é a sua intensidade e duração no tempo, as quais são maiores quando a perda se refere a uma pessoa próxima de nós (familiar ou amigo). O mesmo pode acontecer com alguém famoso, com o qual, mesmo à distância, se criou um laço emocional, um vínculo forte, por admiração, refreia e empatia.
A elaboração de um luto dito “normal” pode apresentar uma ampla gama de sentimentos, cognições e comportamentos, nomeadamente: choque, raiva, tristeza, impotência, fadiga, saudade, culpa, ansiedade, alívio, confusão, descrença, preocupação, alucinações, desesperança, choro, perturbações de sono, isolamento social, entre outros. Contudo, quando estas reações se prolongam no tempo ou quando são muito intensas e afetam o bem-estar, motivação, quotidiano e qualidade de vida física e mental do indivíduo enlutado, há que considerar a ajuda por um profissional de saúde.
Vivenciar um luto é uma das situações mais dolorosas para o ser humano. Apesar de ser uma resposta natural do ser humano a uma perda significativa, é importante, perante um agravamento da sintomatologia associada, que o luto seja elaborado, de forma a capacitar o enlutado a aceitar a realidade da perda, a pensar na pessoa que perdeu sem angústia e dor (ainda que alguma tristeza e saudade possam estar presentes) e a voltar a sentir equilíbrio emocional, bem-estar e esperança no futuro.
Para muitos adolescentes pode ser a primeira morte e perda (sentida como próxima) de alguém. Como os preparar e ajudar?
Para muitos adolescentes, a morte de um ídolo pode ser o primeiro contato com a perda de alguém, trazendo sentimentos novos e difíceis de lidar. É importante ajudá-los a começar por criar um ambiente seguro para que possam expressar as suas emoções livremente. A comunicação e abertura à mesma é muito importante. Deve haver espaço para o adolescente colocar as suas questões relativamente à morte, as quais devem ser ouvidas e respondidas com honestidade. Escutar com empatia e validar os seus sentimentos, sem minimizar a dor, é crucial. Os pais/cuidadores/amigos podem responder relativamente ao que sabem, podem compartilhar sentimentos relacionados com a morte e a perda, receios e desconhecimento em relação a questões depois da morte; explicar o processo do luto de forma simples, reforçando que a tristeza é natural e pode durar algum tempo. Importante incentivar atividades que tragam conforto e promover o apoio emocional de familiares e amigos.