Gangues online estão a "caçar" raparigas para atos violentos. Austrália cria "taskforce"
A polícia australiana revelou que criou uma estrutura especial para combater criminosos que estão a usar plataformas de jogos para recrutarem vítimas, sobretudo meninas e raparigas com menor autoestima, para cometerem atos violentos sobre si próprias ou contra os mais próximos. Tudo como se de um simples jogo online se tratasse.
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A recém-empossada comissária da Polícia Federal Australiana (AFP), Krissy Barrett, fala de "uma nova e perturbadora frente da violência tradicional baseada em género". Ao detalhe, a Austrália está a detetar uma onda de ataques a meninas e raparigas, levando-as a cometerem atos violentos contra si mesmas ou os mais próximos, sejam familiares, amigos e até animais de estimação.
Um comportamento crescente que levou as autoridades a criarem uma "taskforce", estrutura especial, para lidar com esta nova realidade, como anunciou a responsável, a primeira mulher no cargo, no seu primeiro discurso, no National Press Club, esta quarta-feira, 29 de outubro.
Segundo Barrett, trata-se de uma espécie de "caça" em que o objetivo é "a pura diversão ou para atingir popularidade online", como se as vítimas fossem meras personagens de um jogo violento. "A motivação dos indivíduos dentro dessas redes não é financeira nem para gratificação sexual", explicou a comissária. "Estes grupos têm uma cultura semelhante à cultura multijogador, dos jogos online, e caçam, perseguem e atraem vítimas a partir de uma série de plataformas online", acrescentou.
Estes rapazes e homens - apelidados por "influenciadores do crime" por Krissy Barrett - "não têm uma hierarquia centralizada" ou "uma ideologia única", alinham numa multiplicidade de ideias que vão desde o "extremismo violento, niilismo, sadismo, nazismo e satanismo", acrescenta a comissária. Os alvos, muitas vezes encontrados em jogos como o Roblox ou apps como Discord e Telegram, são, normalmente, "pré-adolescentes e adolescentes com baixa autoestima e distúrbios de saúde mental".
"Como prioridade sob a minha tutela, a AFP criará o Grupo de Trabalho Pompilid para usar todos os poderes para atacar estes infratores... protegeremos as vítimas, prenderemos os infratores, exporemos os facilitadores e removeremos o anonimato que protege os infratores da aplicação da lei", prometeu.
De acordo com o que foi avançado pelos media, três pessoas com idades entre os 17 e os 20 anos já foram presas na Austrália, ainda que o território tenha já identificado 59 alegados "aliciadores", e outras nove foram detidas no mundo. A Polícia Federal Australiana diz estar a trabalhar em parceria com países como os Estados Unidos da América, Reino Unido, Nova Zelândia e Canadá para tentar atingir os grupos que estão a levar a cometer estes atos violentos.
Recorde-se que o parlamento australiano aprovou, em dezembro do ano passado, a proibição de contas de redes sociais para menores de 16 anos e concedeu o prazo de um ano para as plataformas digitais concluírem o processo, sob pena de pagamento de multas até aos 50 milhões de dólares australianos (cerca de 28 milhões de euros). Porém, a medida deixa de fora plataformas de jogos e mensagens.
Importa vincar que, em julho deste ano, a Austrália terá removido mais de 400 jogos que fazem apologia à violência e abuso sexual de mulheres, tal como acontecia com o polémico jogo No Mercy. A iniciativa ganhou dimensão após uma carta aberta dirigida aos altos executivos de sete empresas de pagamentos online apelando a que deixassem de facilitar o pagamento ou lucrassem com a venda destes jogos em torno da violação, incesto e abuso, muitos deles acessíveis a crianças.

