Menstruação precoce? O que põe na lancheira e o que serve à mesa podem decidir o futuro
A idade média da primeira menstruação, que está a baixar, tem levado especialistas a fazerem alertas para eventuais riscos decorrentes desta antecipação. Estudo indica agora que o tipo de alimentos que são ingeridos pelas crianças fazem toda a diferença, com impactos diretos no mês seguinte e no futuro
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"Adotar uma dieta saudável no final da infância e no início da adolescência está associado ao facto de as meninas terem um primeiro período mais tardio em comparação com aquelas que consomem uma dieta menos saudável”. A frase é da professora associada de epidemiologia no Fred Hutch Cancer Center, em Seattle, nos Estados Unidos da América e decorre de um estudo publicado no início deste mês na revista Human Reproduction.
Alerta, então, Holly Harris que as gerações mais novas estão a começar a menstruar mais cedo, levando mais tempo a regularizar. Este decréscimo da idade da menarca, cada vez mais precoce é influenciada não só pela genética mas também por fatores externos.
Em Portugal, por exemplo, um estudo da Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, de 2020, apontava para uma descida média da menstruação dos 13 para os 12 anos, dados que emergiam do estudo de uma amostra de mulheres nascidas entre 1920 e 1992.
Para a investigadora norte-americana, uma das explicações para esta antecipação pode ter que ver com que as meninas comem. Ingerir uma dieta mais inflamatória foi associado a uma possibilidade 15% maior de as crianças terem a primeira menstruação no mês seguinte, enquanto uma proposta alimentar mais saudável reduziu o risco em 8%. Nesse sentido, Harris sustenta que “este pode ser um período importante para reduzir o risco de doenças crónicas que ocorrem na idade adulta”, em particular eventual propensão para desenvolver cancro da mama, doenças cardiovasculares e diabetes mais tarde na vida.
Para chegar a estas conclusões, a equipa analisou os dados de mais de sete mil e 500 crianças de 9 a 14 anos inscritas no projeto de saúde colaborativo Growing Up Today Study (GUTS), e que integra dados de saúde de milhares de norte-americanos. Os investigadores correlacionaram estes dados com entrevistas crianças, de 1996 e 2004, e um acompanhamento posterior em 2001 e 2008, respetivamente.
A análise (que pode consultar no original aqui) utilizou depois modelos estatísticos para avaliar a ligação entre o tipo de dieta alimentar cumprida e a idade em que a menstruação começou. A investigação veio indicar que a obesidade não era, afinal, a única explicação para uma menarca precoce.
Para lá de fatores ambientais como poluição e produtos de higiene com a presença de químicos que pudessem interferir com o sistema endócrino, a escolha de dietas saudáveis. As que incluíam frutas, vegetais, gorduras saudáveis, grãos integrais, nozes e legumes poderiam estar a ter um papel decisivo no atraso médio da primeira menstruação por comparação às calorias originárias de alimentos ultraprocessados, que, segundo a nutricionista e pediatra Children’s Primary Care Medical Group em San Diego, Natalie Muth, chegam a representar “70% da ingestão típica de um adolescente”.
Por isso, como recomendou a especialista à estação CNN norte-americana, nada como estar atenta a todas as refeições e aos alimentos que envia nas lancheiras das meninas. “Qualquer mudança que possa reduzir a ingestão de batatas fritas, biscoitos e refrigerantes e aumentar a ingestão de frutas e vegetais é uma grande vitória”, vinca.