Não são só os ecrãs que tiram o sono aos jovens. As discussões dos pais também, diz estudo
As dinâmicas familiares podem ter mais impacto no sono dos adolescentes do que à partida se poderia imaginar. Os ecrãs não podem ser excluídos da equação da falta de descanso dos adolescentes, mas há outras variáveis que estão a mexer com o repouso dos mais novos, antecipa investigação que analisou mais de 3400 jovens durante quatro anos
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O consumo de telemóvel, os jogos e horas mais tardias de deitar são, atualmente, um desafio gigante em muitas famílias, com os jovens a acordarem cansados e a cumprirem menos horas de sono do que as que deveriam. Contudo, o empobrecimento do descanso dos mais novos pode ter mais do que uma explicação e um estudo vem agora juntar o ambiente familiar, ou a falta dele, e o tipo de saúde mental dos pais como fatores que contribuem para o empobrecimento do descanso dos filhos.
A investigação - que analisou 3400 crianças e jovens com idades entre os nove e os 14 anos, ao longo de quatro anos - vem levantar esta nova questão, indicando que raparigas e rapazes reagem de formas diferentes, com resultados que demonstram variações dentro do género estudado.
Os pesquisadores identificaram uma relação entre pais que denotavam dificuldades psicológicas e o horário mais tardio a que os filhos iam para a cama, acordando depois mais tarde e com pior qualidade de sono em geral. Mais discussões em casa pareciam acarretar maiores dificuldades de sono, já um maior acompanhamento e carinho dos progenitores levava a uma maior higiene no descanso dos mais novos, em particular das raparigas, que tendiam a deitar-se mais cedo.
Para esta análise, os cientistas da Universidade de Melbourne analisaram dados do Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente, começando primeiro por medir as relações familiares nos primeiros anos e os padrões de sono nos anos que se seguiam, recorrendo a exames de monitorização do descanso e questionários respondidos pelos pais. A equipa concluiu ainda que os filhos de famílias que apresentavam conflitos mais regulares tinham também pior qualidade de sono, havendo, nestes casos, uma também maior exposição aos ecrãs por parte dos menores, criando depois um efeito de bola de neve.
De acordo com o estudo - que pode ser consultado no original aqui -, os investigadores calcularam que o uso dos ecrãs foi responsável por cerca de 25% da ligação entre o conflito familiar e a preferência noturna e cerca de 20% da ligação entre problemas de saúde mental dos pais e o cronótipo posterior. "Adolescentes em famílias com conflitos maiores podem recorrer aos ecrãs para escaparem ao stresse familiar ou para tentarem gerir emoções negativas", antecipam os investigadores.
Embora falem em impactos que considerem pequenos e peçam investigações mais aprofundadas nesta matéria, os cientistas alertam para o facto de estes novos dados serem "consistentes com outros estudos desta natureza em grande escala" e "poderem ter implicações significativas na saúde pública a nível da população".