Das discussões, às questões íntimas de terceiros, passando por comentários depreciativos e questões de doença e morte, são vários os temas que os pais devem evitar debater à frente dos filhos menores. Antes de perder a cabeça ou alongar-se sobre o que não deve, veja os riscos que os menores correm e saiba de que forma pode comprometer o futuro deles se não for cautelosa
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"Proteger a infância não é omitir a realidade, mas sim apresentar o mundo de forma que a criança possa compreender sem perder o sentido de segurança". A frase da psicóloga clínica Isa Silvestre chega à boleia das dúvidas que tantas vezes mães e pais têm sobre o impacto e marcas que deixam nos filhos quando se agitam numa discussão conjugal mais aguerrida ou debatem e conversam sobre temas "de adultos".
Na verdade, há temas e assuntos que não precisam - nem devem ser escutados - pelos mais novos porque, considera Isa Silvestre, "o cérebro da criança está em desenvolvimento, especialmente as áreas responsáveis pela regulação emocional (córtex pré-frontal) e pela gestão do stress (amígdala e sistema límbico)". Ora, prossegue a especialista, "quando exposta a conversas carregadas de tensão ou medo, a criança pode ativar uma resposta fisiológica de stress: libertação de cortisol, aumento da frequência cardíaca e dificuldade de concentração". "A repetição deste tipo de exposição pode comprometer o sentimento de segurança e afetar a autoestima", avisa.
Não se trata de esconder os temas, mas, como antecipa a psicóloga clínica, "ao adiar ou adaptar conversas demasiado pesadas, damos espaço para que a criança cresça com confiança, estabilidade e capacidade de lidar com a vida adulta no momento certo", está a ser permitido que "a criança possa processar os assuntos de forma segura e construtiva".
Isa Silvestre, psicóloga clínica e da saúde [Foto: DR]
Mais do que "evitar "falar no tema, importa "escolher o momento e o local adequados, usar linguagem adaptada à idade, fornecer informação suficiente, mas não excessiva e garantir que a criança percebe que os adultos estão no controlo da situação", considera a psicóloga clínica e da saúde.
Práticas que podem e evitar o "peso de conversas ou informações para as quais as crianças e adolescentes não têm maturidade emocional", avança a especialista, que alerta ser uma realidade bastante "frequente na prática clínica".
Veja abaixo os seis temas que não devem ser discutidos e debatidos diante dos menores e as razões que o justificam, segundo a especialista:
Conflitos conjugais ou familiares: "Discutir de forma intensa ou hostil à frente das crianças transmite instabilidade e pode levá-las a sentirem-se culpadas pelo conflito ("eles discutem por minha causa"); escolherem lados, o que cria lealdades divididas; desenvolverem ansiedade ou sintomas físicos (dores de cabeça, insónia) devido ao stress familiar. O ideal é resolver divergências em privado e, quando necessário, explicar à criança de forma breve e calma que os adultos tiveram um desentendimento, mas estão a lidar com a situação".
Problemas financeiros graves: "Questões como dívidas, risco de perder a casa ou dificuldades para pagar contas podem ser avassaladoras para uma criança, porque não têm meios para compreender a complexidade do problema. Podem sentir medo de perder segurança ou rotinas e podem desenvolver preocupações excessivas com dinheiro desde cedo. As crianças podem ouvir falar de poupança ou escolhas financeiras, mas sem uma carga alarmista."
Questões íntimas de terceiros: "Conversas sobre a vida sexual, dificuldades conjugais ou segredos de outras pessoas ensinam, inadvertidamente, que a privacidade dos outros não é importante.
Além disso, expõem a criança a conceitos e emoções que não consegue contextualizar"
Conteúdos sexuais explícitos: "A educação sexual é fundamental, mas deve ser adequada à idade, progressiva e centrada na segurança, no respeito e na anatomia saudável. Conversas ou piadas sexuais explícitas expõem a criança a um universo para o qual não tem preparação cognitiva nem emocional, podendo criar confusão ou curiosidade precoce desajustada."
Opiniões discriminatórias ou depreciativas: "A infância é um período em que se formam valores e preconceitos. Comentários depreciativos sobre género, etnia, orientação sexual, corpo ou profissão moldam crenças antes de a criança ter pensamento crítico para questionar.
O exemplo dos adultos é um dos principais alicerces da educação."
Doenças graves e morte sem enquadramento: "Falar de forma abrupta sobre doenças graves ou morte pode despertar medo intenso da perda; gerar insegurança quanto à saúde própria ou dos pais; causar ansiedade de separação. Estes temas devem ser abordados com linguagem clara, mas sensível, respeitando a idade e maturidade emocional da criança"