Porque nos cai tanto o cabelo, mas continuamos a correr para a depilação? Especialista explica
O pavor da queda do cabelo e a luta contra o pelo são dois pesadelos comuns na vida das mulheres. Parecendo partilharem a mesma raiz, cabelos e pelo têm ciclos e comportamentos diferentes. Médico explica por que, temendo os dois, estamos sempre a evitar a queda dos primeiros e a maldizemos a permanência dos segundos
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Com o aproximar dos dias de sol e de verão, começam também as preocupações com os pelos corporais. E se muitas mulheres já escapam hoje a esta preocupação, por via de depilações definitivas – que apesar de definitivas carecem de revisões regulares -, ou porque recusam depilar-se e defendem a libertação face aos padrões culturais impostos ao sexo feminino, a verdade é que, para muitas mulheres, estes meses levam à procura de alternativas e a uma maior procura de vagas nas esteticistas.
Não bastasse este permanente dilema, convive-se com um outro: o terror da eventual queda de cabelo e que, a espaços, se abate sobre as mulheres, fruto de causas tão diversas como as emocionais ou hormonais.
Mas porque é que, em matéria que parece ser semelhante, o corpo reage com dois pesos e duas medidas? “Os cabelos do couro cabeludo, por exemplo, permanecem anos na fase anágena [de crescimento], enquanto os pelos corporais crescem apenas por semanas ou meses, sendo menos percetível a sua renovação, apesar de mais frequente”, distingue, por escrito, o médico e Chief Clinical Officer do Grupo Insparya.
Ao detalhe, Carlos Portinha explica que “a principal causa de queda de cabelo é a alopécia androgenética, uma condição hereditária que afeta milhões de homens e mulheres e que está relacionada com a ação da di-hidrotestosterona (DHT) sobre os folículos capilares do couro cabeludo. Essa hormona encurta progressivamente o ciclo de vida dos fios, tornando-os cada vez mais finos até cessarem a produção. No entanto, os pelos do corpo não seguem esse mesmo padrão porque os folículos presentes noutras regiões possuem uma sensibilidade diferente à DHT”.
No caso do hirsutismo nas mulheres - crescimento excessivo de pelos em áreas típicas masculinas no corpo feminino - é possível, refere o especialista, “[elas] poderem apresentar simultaneamente queda de cabelo devido ao mecanismo hormonal, “especialmente um aumento na produção de androgénios”. E detalha: “Esse mesmo excesso hormonal pode também afetar negativamente os folículos capilares do couro cabeludo, desencadeando ou agravando a alopécia androgenética feminina”.
Três fases decisivas dos cabelos e pelos na vida de uma mulher
Com o avançar da idade, Carlos Portinha lembra que os pelos do corpo são “afetados pelo envelhecimento capilar”. A menor densidade dos fios, a espessura estreitada e o ciclo de crescimento encurtado trazem alterações nesta matéria. Ainda assim, o especialista evoca, no caso das mulheres, três “eventos hormonais significativos”.
A menarca, no início da puberdade, traz “um aumento na produção hormonal que estimula o crescimento de pelos púbicos, axilares e, em alguns casos, faciais”, explica o médico. A gravidez confere aos cabelos “uma aparência mais densa”, a que se segue o pós-parto, com “queda abrupta desses níveis, levando ao chamado eflúvio telógeno — uma queda intensa, porém temporária”.
Num terceiro momento, a menopausa traz, como detalha Portinha, “uma das fases mais impactantes na saúde capilar feminina”. “A queda na produção de estrogénios e a relativa dominância dos androgénios favorecem tanto a redução de densidade do cabelo, bem como, em alguns casos, o surgimento de pelos indesejados noutras regiões, como a face”, alerta.

