Viver na mesma casa depois do fim do amor? “É necessário definir limites muito claros e objetivos”

O que fazer quando o amor acaba, mas não se consegue sair da mesma casa
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O amor é cego à inflação, aos preços da habitação e a rendimentos. Contudo, o adeus a uma relação presta toda a atenção àqueles detalhes, ainda mais quando os casais são obrigados a viverem juntos na mesma casa mesmo depois da rutura. A psicóloga Joana Gentil Martins fala de eventuais formas de lidar com eles
“É uma realidade cada vez mais comum e desafiante “, lamenta a psicóloga Joana Gentil Martins. A especialista e autora do recém-lançado livro Como Reconstruir um Coração Partido evoca, desta forma, as “pessoas que, apesar de já terem encerrado o vínculo amoroso, continuam ‘presas’ no espaço físico da relação, o que atrasa e complica todo o processo de luto”.
Num país em que os preços da habitação não param de escalar e os rendimentos não acompanham a inflação, a separação e o divórcio emergem agora como um processo inacabado que leva a muitos ex-cônjuges a terem de conviver todos os dias como antes, só que numa fase em que já não há amor.
Joana Gentil Martins recomenda que, “para que corra pelo melhor, é necessário definir limites muito claros e objetivos”. “Mesmo ainda estando na mesma casa, há comportamentos que mudam. Por exemplo, não dormir na mesma cama, se possível não dormir no mesmo quarto, fazer as refeições em horários diferentes, são alguns exemplos, mas vai depender de cada casal e da forma como terminou a relação. Se houve respeito, se há amizade, entre outros”, sugere a especialista. E detalha: “Ainda que sem possibilidades no momento para uma separação de casa é importante começar a existir um foco na solução, em perceber como podem poupar algum dinheiro para a saída, a possível venda da casa de forma a conseguirem sair, entre outros. No fundo, o início do planeamento de solução”.
Existindo filhos em comum numa casa e num casal agora desfeito, a autora pede, para lá do reencaminhamento para ajuda profissional especializada, para que os ex-cônjuges mantenham a “comunicação clara e empática, sem discussões” diante dos descendentes.
Mulheres receiam anulação e nova mágoa, homens temem emoções
Mediante um novo romance e depois de um fim de um amor, mulheres e homens partem para novas aventuras com marcas emocionais diferentes. Generalizações à margem, Joana Gentil Martins nota na sua prática clínica que, tendencialmente, “muitas mulheres sentem medo de se voltarem a anular-se numa nova relação ou de serem enganadas/magoadas novamente”. Situações a que se soma “uma grande dificuldade em confiar novamente, mas também em confiar em si próprias, nos seus limites, no seu valor. É um trabalho importante que temos de fazer na sua autoestima e na forma como se veem a si mesmas, aos outros e ao mundo”.
Já nos homens, revela a especialista, “é mais comum observar uma dificuldade em falar sobre as emoções, em serem vulneráveis, em permitirem-se sentir e falar sobre o que estão a sentir”. Sendo em menor volume que as mulheres nos pedidos de ajuda especializada, a psicóloga vinca que “muitos [homens] foram ensinados a “serem fortes”, a “não demonstrarem fraqueza”, e isso torna o luto mais silencioso, mas não menos presente.”

