Sem Rafael Nadal em Roland Garros, John McEnroe, antigo número 1 do mundo, aponta Carlos Alcaraz e Novak Djokovic como principais favoritos a vencer o torneio e perspetiva uma nova era no ténis, mais democrática quanto a conquistas de torneios do Grand Slam. Sobre Nuno Borges, único português em prova no quadro principal de singulares do Open francês, admitiu conhecer pouco.
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John McEnroe nunca foi de meias palavras ou de aplicar frases feitas para contornar um tema, mesmo quando não o domina. Desde Nova Iorque, numa conferência de imprensa conjunta realizada à distância, na qual o JN esteve presente, o antigo líder do ranking mundial, que marcou uma era também pela sua rebeldia, é lesto na resposta quando questionado sobre o atual número 1 português, Nuno Borges.
"Não o conheço bem o suficiente. Já vi o nome dele, vi-o o jogar em poucas ocasiões. Honestamente, não sei do que ele será capaz", atira, quando questionado sobre a participação do Lidador no quadro principal de Roland Garros. "Portugal tem um historial de bons jogadores, mas não de tenistas com um nível que lhes permita vencerem 'majors'. Isso explica o facto de não estar tão familiarizado com jogadores portugueses", acrescenta.
Os quatro títulos ATP conquistados por João Sousa, que chegou a ser 28.º no ranking mundial em 2016, ajudaram certamente a que uma nova geração de jovens talentosos emergisse, com Nuno Borges à cabeça e "teenagers" como Jaime Faria ou Henrique Rocha como grandes esperanças futuras.
Isso ainda não é, contudo, suficiente para que grande parte das atenções do universo tenístico se centrem em Portugal. A escassez de jogadores de topo pode explicar-se "pelos recursos disponíveis, por ser muito caro para a maioria das pessoas ou pelo peso do ténis relativamente a outros desportos no país", explica McEnroe, o que o leva a questionar: "Será que (em Portugal) os melhores atletas jogam ténis?".
Sem Nadal abrem-se novas possibilidades em Paris
A conferência de imprensa aconteceu antes de o sorteio ditar um duelo, na ronda inaugural de Roland Garros, entre Nuno Borges e o norte-americano John Isner, recordista de ases da modalidade desde que a contabilidade começou a ser feita em 1991.
O discurso de McEnroe, esse, ganha outra firmeza e clarividência quando a conversa se centra no tema do momento no mundo do ténis, a ausência de Rafael Nadal de um torneio que venceu por 14 vezes.
"O Open de França não será o mesmo sem Nadal. É uma pena, mas abre uma porta" de oportunidade a um lote de aspirantes que tem em Novak Djokovic e Carlos Alcaraz os principais favoritos, eles que se poderão vir a defrontar apenas nas meias-finais da competição.
Sobre o sérvio, John McEnroe vê-o com capacidade para lutar pelos quatro Grand Slams deste ano, depois de já ter vencido na Austrália, em janeiro. "A luta dele é a de ser o melhor de sempre. Ele teve um ano e meio difícil e mesmo assim conseguiu coisas incríveis", elogiou o antigo tenista, lamentando que, muitas vezes, Djokovic seja "visto como o vilão" no circuito.
Depois, claro, há Alcaraz, "um excelente embaixador para o desporto que trouxe uma lufada de ar fresco ao ténis". "Ele tem uma excelente personalidade e as pessoas querem que ele vença. Esse é um bom sentimento, mas ele terá de saber suportá-lo", explica McEnroe, que vê no espanhol "força mental" para lidar com as possíveis "frustrações" que possam vir a surgir.
Djokovic e Alcaraz lutam pela glória em Paris e pela liderança do ranking ATP, objetivo que também está ao alcance de Daniil Medvedev, que venceu o Masters 1000 de Roma e "parece ter descoberto como jogar em terra batida".
Para John McEnroe, o autêntico bloqueio sentido até aqui pelo russo no pó de tijolo "era mais uma questão mental, até porque ele teve de entender como deslizar na terra batida". O antigo tenista foca ainda um pormenor que pode fazer a diferença na prestação de Medvedev em Paris: "Estou expectante para perceber como ele vai jogar num piso mais seco, mais escorregadio, que complica o jogo de pés. Em Roma, choveu bastante e isso ajuda na movimentação. Foi uma das explicações para ele parecer tão confortável".
No quadro feminino, Iga Swiatek, "na terra batida, está um passo à frente das restantes", mas há que contar ainda a Aryna Sabalenka e Elena Rybakina, duas das jogadoras em melhor forma na atualidade. "Elas batem forte na bola e têm um grande serviço, mas continuo a escolher Swiatek", insiste McEnroe, de forma convicta.
Uma nova geração a emergir
Com Roger Federer retirado, Rafael Nadal a apontar para 2024 o adeus à carreira e Novak Djokovic já com 36 anos, aproxima-se de forma vertiginosa o fim de uma era que ficará para sempre conhecida como "Big 3", tal foi o domínio exercido pelos três tenistas no circuito mundial.
Sem eles, "vamos ver vários jogadores ganharem um ou dois majors", acredita John McEnroe. "Praticamente saltámos uma geração que não ganhou muita coisa por causa dos 'Big 3'. Tivemos o Medvedev e o Thiem que ganharam um Grand Slam cada. Será que o Tsitsipas vai vencer finalmente um? Será que o Ruud vai reencontrar-se com o seu jogo de novo? Será que o Zverev vai voltar ao nível de antigamente", questiona o antigo número 1 do mundo, que ainda assim coloca dois jogadores acima dos demais.
"Alcaraz é o jogador que muitos dirão que pode ganhar dezenas de Grand Slams e (Holger) Rune vai ganhar alguns também. Temos de esperar mas, para mim, serão as próximas grandes figuras", atira.
O torneio de Roland Garros, em Paris, realiza-se entre 22 de maio e 11 de junho, para quando está agendada a final.