Espanha Ismael Maruja está acusado de tentar ajudar um emigrante ilegal a chegar à Europa.
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Se Ismael Maruja não sabia que "de boas intenções está o Inferno cheio", aprendeu pelas piores razões. Hoje, este jogador de um clube do quarto escalão do futebol espanhol está nas mãos das autoridades policiais e só acalenta a ténue esperança de não ser corrido da AD Ceuta. Crime? Tentar ajudar um emigrante ilegal a entrar em Espanha. Agora que foi apanhado, Ismael desmente o papel de bom samaratino que tantos louvores lhe valeram e tantas críticas provocaram na Direção do clube.
Cidade autónoma espanhola situada na margem africana do Mar Mediterrâneo, Ceuta é, de há uns anos a esta parte, ponto de encontro de milhares de refugiados que procuram o conforto longe de casa. Dados oficiais garantem que, só no ano passado, passaram por ali mais de seis mil migrantes, esperançados em chegar à outra margem e encontrar a compreensão europeia. Muitos conseguiram-no, outros levaram em cima com a lei que castiga a falta de documentação para entrar num país que não é o seu. E é neste último grupo que encaixa o homem que alega ter sido ajudado por Ismael Maruja.
Na aparência, era uma como tantas outras, mas a viagem que levou a equipa da AD Ceuta até Cádis, para mais um jogo do campeonato, trazia gente estranha, mesmo que equipada como deve ser. O adjunto, polícia de profissão, desconfiou primeiro e agiu depois, tiradas as dúvidas que faziam daquele indivíduo alguém que não devia estar ali. Vestia as cores do clube, é certo, mas a cara, o silêncio e o olhar perdido denunciaram-no. Documentos existiam, mas a fotografia não condizia com o rosto que reclamava inocência. Nada feito, portanto. O plano foi por água abaixo e levou com ele o suposto benfeitor. Sem escape e submetido ao escrutínio policial, o emigrante apontou o dedo a um dos futebolistas da AD Ceuta, garantindo que lhe pagou mil euros para o ajudar a atravessar o Estreito de Gibraltar e a chegar a terras europeias.
Ismael Maruja, 23 anos, negou a acusação e até assegurou ter sido roubado pelo refugiado, mas não se livrou das amarras policiais nem da impiedade do clube, que espera o veredito judicial para saber se avança com o despedimento por justa causa. A boa vontade perdeu-se, algures, no Mediterrâneo.