O JN esteve à conversa com três especialistas sobre os últimos acontecimentos na vida de Cristiano Ronaldo. Desde o momento de forma, à gestão emocional e de carreira até ao Mundial do próximo mês.
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A época atual está a ser a mais difícil da carreira de Cristiano Ronaldo. 2022/23 começou com o avançado a forçar uma saída do Manchester United na procura de um clube que disputasse a Liga dos Campeões. O jogador acabou por não sair dos "red devils" e a relação com o treinador Erik ten Hag deteriorou-se. Tudo começou num jogo de pré-época quando, após sair ao intervalo, abandonou o estádio mais cedo.
A época oficial começou e Cristiano deixou de ser titular, ao contrário da temporada passada onde era habitual no onze e terminou a campanha com 24 golos. Passou a ser suplente e, em campo, mostrou dificuldades em ser o avançado que outrora era. Tudo culminou na quarta-feira, quando, segundo Ten Hag, se recusou a entrar nos minutos finais frente ao Tottenham e abandonou o relvado mais cedo. De acordo com a imprensa britânica, CR7 foi afastado dos treinos da equipa principal por três dias e não foi convocado para o jogo contra o Chelsea. Esta manhã, treinou com uns preparadores físicos no centro de Carrington.
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Estas atitudes dividiram as opiniões nas redes sociais. Enquanto nos comentários na publicação de Cristiano Ronaldo, onde explica os acontecimentos mais recentes, muitos apoiam e dizem que o Manchester United está a desrespeitar uma lenda do clube, no Twitter há o outro lado da moeda. Algumas pessoas recordam uma citação de Alex Ferguson, mítico treinador do clube, no caso polémico com Beckham. O técnico escocês afastou o mediático craque inglês nos anos 2000 por considerar que nenhum futebolista está acima do clube. Assim, muitos adeptos fazem um paralelismo com o que está a acontecer com CR7 atualmente.
Para Sergio Fernández, antigo jornalista do jornal espanhol Marca, que acompanhava diariamente o jogador português, estas atitudes revelam pouco caráter do avançado. "A falta de caráter que ele tem, que antes se confundia com ambição ou perdoava-se por marcar muitos golos, agora é escandalosa", começou por dizer, ao JN.
O espanhol considera ainda que está a custar a Cristiano Ronaldo saber que já não está no pico de carreira e não é indiscutível numa equipa do nível do Manchester United. "O futebol retira-te do alto nível, não és tu que te retiras dele, e é isto que se está a passar com o Cristiano", disse.
João Tralhão, treinador de futebol, recorda a publicação de Cristiano Ronaldo nas redes sociais em que justificou o seu comportamento. "Ele foi o primeiro a dizer que as emoções tomaram conta dele numa fase difícil. Ele sabe que numa equipa é preciso haver regras", explicou ao JN.
Sobre o atual momento de forma do jogador, que soma apenas dois golos em mais de mil minutos em campo (clube e seleção), João Tralhão considera que é falta de confiança. "Jamais poderemos pôr em causa as qualidades do Cristiano, mas um jogador precisa de confiança. A situação que passa atualmente não é fácil para ele nem para o clube, mas a resposta que vai dar será ao nível que nos habituou no passado".
A confiança foi um dos temas abordados com Susana Torres, mental coach, que explicou ao JN que Cristiano Ronaldo tem características diferentes do comum futebolista. "Ele não vai buscar a confiança onde a maior parte das pessoas vai, nos resultados. Ele aprendeu que a confiança vem do quanto nos sentimos preparados para os desafios, neste caso, à forma como treina e como se vê", disse.
A mesma traça um plano para Cristiano Ronaldo sair desta situação e melhorar a imagem com que ficou após estes episódios infortúnios. "Deve ter as pessoas certas ao lado, sem envolvimento emocional, que consigam ajudar no caminho a seguir. Tem de entender o que o levou a ter aquele comportamento e o impacto que ele teve. Por fim, perceber como esse comportamento foi percecionado e como ele quer que seja percecionado, para depois preencher esse intervalo".
Uma das dúvidas que se levanta em relação à época atual de Cristiano Ronaldo é se está em forma para o Mundial no Catar, realizado no próximo mês. Para João Tralhão, a ajuda do avançado será "decisiva". "É uma peça chave na seleção e pode superar os seus limites. Há um período de preparação nestes torneios e ele, como profissional de excelência, vai-se apresentar ao mais alto nível e ajudar Portugal a lutar pelo título", relata.
Sergio Fernández considera que o Mundial é uma competição onde CR7 pode brilhar. "É um torneio onde se pode aproveitar muito da influência de Cristiano Ronaldo. Tem uma equipa que já conhece e vai estar super motivado para o Mundial, apesar da época não estar a sair tão bem".
O Mundial também dividiu a opinião pública quanto às decisões de Cristiano Ronaldo. Enquanto, por exemplo, Lionel Messi garantiu retirar-se da seleção argentina após a competição deste ano, CR7 já admitiu que pretende continuar, pelo menos, até 2024, no Europeu. Terminar ou abrandar uma carreira de sucesso no topo do futebol é difícil. Zidane fê-lo ao retirar-se após o Mundial 2006, quando ainda estava no topo do futebol, e Pavel Nedved, antigo Bola de Ouro, também esteve em alto rendimento no último ano da carreira, na Juventus.
Colocar um ponto final na carreira não deverá passar pelos planos de Cristiano Ronaldo, mas gerir estes últimos anos não está a ser fácil para o jogador, segundo Sergio Fernández. "Já não está ao nível que nos habituou e isso custa-lhe", explicou.
Susana Torres considera que "o que fica no futebol é a última imagem" e cabe a Cristiano Ronaldo gerir a atual situação menos positiva e deixar um legado. "Acredito que ele não tivesse planeado estes acontecimentos, mas se souber gerir as coisas daqui para a frente pode ter um impacto positivo, desde que haja um plano de transição", revela.