O F. C. Porto precisa de fazer o que nunca foi feito para chegar aos quartos de final da Champions. A missão no Estádio da Juventus é difícil, mas os dragões já conseguiram algo parecido... com o Benfica.
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Quando, na próxima terça-feira, pelas 19.45 horas, o árbitro der início ao jogo em Turim, o F. C. Porto tem de fazer o que nunca foi feito para seguir em frente na mais importante prova por clubes da UEFA. Em toda a história da Taça/Liga dos Campeões Europeus, apenas cinco equipas conseguiram o apuramento após perderam a primeira mão em casa, mas nunca ninguém o fez depois de uma derrota por mais de um golo de diferença. Ora, é precisamente esse o desafio que se coloca à equipa de Nuno Espírito Santo frente à Juventus e os dragões podem ir buscar inspiração à Taça de Portugal 2010/11.
AC Milan (1955), Ajax (1969), Nottingham Forest (1980), Ajax (1996) e Inter de Milão (2011) são, até agora, os únicos emblemas a conseguir reviravoltas após derrotas caseiras, e sempre por apenas um golo de diferença. Se a história mostra que recuperar de uma desvantagem mínima longe do conforto do lar é bem complicado, o que dizer de dar a volta a uma derrota por 2-0? É essa a missão dos dragões em Turim. Em 20 jogos oficiais, em casa, em 2016/17, a "vecchia signora" venceu 18 e empatou apenas dois, números nada animadores para o F. C. Porto, que, no entanto, pode encontrar algum conforto estatístico bem recente.
Em 2010/11, a equipa portista, então treinada por André Villas-Boas, já tinha celebrado o título às escuras com uma vitória no Estádio da Luz, quando regressou a Lisboa para a segunda mão das meias-finais da Taça de Portugal. As águias, de Jorge Jesus, tinham vencido no Dragão (0-2), mas a história não tinha acabado.
Ao intervalo, com o resultado em 0-0, Villas-Boas deu uma palestra cheia de motivação no balneário da Luz, com voz forte (e uma boa dose de vernáculo) que ecoou pelos corredores, quando os jogadores do Benfica, surpreendidos, por lá passavam. Quem esteve presente fala de um F. C. Porto que "parecia estar prestes a jogar em casa" e que "a vitória começou aí", com João Moutinho, Hulk e Falcao (1-3) a apagarem (não literalmente, desta vez) a Luz. O F. C. Porto garantiria o segundo "triplete" da história (campeonato, Taça e Liga Europa) e, agora, seis anos depois, é Nuno Espírito Santo a precisar de uma noite histórica para ver a luz ao fundo do túnel em Turim.
O aviso de Mourinho a Markarian
Em março de 2003, o F. C. Porto de José Mourinho já era uma máquina de jogar futebol. Por isso, quando, na primeira mão dos quartos de final da Taça UEFA 2002/03, o Panathinaikos venceu, por 1-0, na Cidade Invicta, o antigo Estádio das Antas ficou em silêncio. Festejavam os gregos e festejava o treinador uruguaio Sergio Markarian. Em pleno relvado, Mourinho dirigiu-se ao colega e disse-lhe: "Calma, que isto ainda não está decidido". O uruguaio entendeu a mensagem, mas dificilmente poderia adivinhar o que estava para vir. Nunca uma equipa tinha vencido no Estádio Apostolos Nikolaidis para as competições europeias, mas o F. C. Porto de Mourinho não era uma equipa qualquer: dois golos de Derlei (o segundo no prolongamento) deram a volta à eliminatória e lançaram a equipa portuguesa para o sonho. A Lazio foi destroçada nas meias-finais e o Celtic caiu aos pés do dragão na final de Sevilha, decidida no prolongamento. O F. C. Porto conquistava a Taça UEFA e Mourinho começava a ser o "Special one".