Dezenas de atletas fizeram um treino de 10 km, noturno, para preparar a "Gaya Legendary Running, uma prova que vai iluminar os trilhos da marginal de Gaia em outubro. Preferem calçar as sapatilhas quando a cidade se silencia.
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Ligam-se as pequenas luzes frontais na imensa escuridão da noite. Apertam-se os cordões. Aquece-se o corpo para a frescura de correr ao fim de um dia quente de verão. Juntam-se dezenas de atletas que preferem usufruir do prazer do trail running numa versão "mais romântica", noctívaga.
O treino começa às 21h30. Manuel Sampaio, 63 anos, tem um frontal na cabeça e explica a paixão pela noite com o objetivo que o move: até aos 70 conseguir correr o Ultra Trail du Mont Blanc (são 166 km a subir e a descer a montanha!). "Parte da prova é feita de noite e correr naquela altitude, naqueles cumes, deve ser qualquer coisa. É fantástico, divinal. A temperatura, o ouvir a nossa respiração. Não se explica a magia de correr à noite". Manuel é um dos apaixonados por provas noturnas que participaram num treino de 10 km para uma prova que vai iluminar as estreitas ruas escondidas da marginal de Vila Nova de Gaia.
Enquanto a prova não chega, Hortense Tenda aproveita para conhecer o percurso da prova e para se preparar para a luta pelo pódio. Costuma correr à noite, pelo menos duas vezes por semana, depois de sair do trabalho. "Podemos correr sem tropeçar nas pessoas. Tem outro encanto. As condições atmosféricas são diferentes e podemos fazer ritmos mais acelerados nesta altura do ano. Gostava de ter mais provas à noite. A nossa cidade é fantástica e à noite veem-se as estrelas". Acrescenta ao encanto astronómico a vertente terapêutica de fazer exercício quando as cidades se silenciam. "Faz muito bem à cabeça e acaba por ser um excelente exercício psicológico".
A organização que promove o evento não hesitou no horário escolhido para o desafio. "As provas que existem em Vila Nova de Gaia são de atletismo, provas de desporto ao ar livre, à noite, é algo quase inexistente, quer no trail, quer em meio urbano", aponta André Oliveira. Foi ele quem deu o tiro de partida para um treino que surpreendeu alguns dos inscritos. Na cidade, às escuras, os becos são uma redescoberta, como o são os monumentos iluminados ou o incentivo dado por quem se senta na esplanada a beber um aperitivo e à chegada dos atletas lança em várias línguas um "Força aí", que parece duplicar os watts dos frontais.
Depois de passar pela casa abandonada junto ao parque de autocaravanas da marginal de Gaia, pelo Jardim do Morro e pelas caves do vinho do Porto, o frontal de Paulo Sousa continua a brilhar à chegada. "Este percurso é muito bonito. São zonas espetaculares aqui na marginal de Gaia. A noite é mais fresca para correr e não há trânsito, nem tanta poluição sonora. Respira-se melhor. Deveriam existir mais provas à noite, tornava-se engraçado. É mais romântico".
Na lista dos inconvenientes da corrida à noite ficam a possibilidade de uns tropeções e do necessário contorno de dejetos.
"À noite temos que ter mais foco na corrida, no percurso. Há muito desnível. Nunca se deve correr sem frontal e alerto os atletas para não correrem sozinhos e a levarem sempre o telemóvel. Hoje passámos por sítios completamente às escuras, onde não se vê um palmo à frente", adverte André Oliveira, o organizador da "Gaya Legendary Running" que no ano passado levou 700 pessoas à Afurada. "Na edição anterior, aparecemos de repente mesmo à porta dos pescadores e eles correram com os atletas uns 100 ou 200 metros".
O evento que vai desbravar os trilhos de Santa Marinha, Afurada e Canidelo, a 14 de outubro, tem duas provas, 19 km e 10 km e inclui uma caminhada cujo valor de inscrição é de cinco euros.