Pedro Lima é adepto do Benfica e cresceu com portistas na Sé. Pedro Ferreira nasceu em Lisboa e é portista desde o berço. Foi despedido por festejar o golo de Herrera na Luz.
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O coração bate forte em dia de Benfica - F. C. Porto, mas para alguns adeptos o cartaz é ainda mais especial, tendo em conta a paixão que alimentam desde o berço em território inimigo, digamos assim. Pedro Lima, 38 anos, é benfiquista dos sete costados mas viveu sempre no Porto e até brincou e deu os primeiros pontapés na bola no largo da Sé com muitos amigos... portistas. "No meio deles, às vezes, é mais complicado, mas nunca me senti em risco por ser do Benfica e morar no Porto. É preciso separar as coisas e, felizmente, nunca tive nenhum problema. Depende muito da personalidade das pessoas e de saber estar", diz Pedro Lima, enquanto aconchega no pescoço o cachecol das águias.
"Na escola, ouvi umas bocas mas nada de especial. Aprendi a criar defesas e a dar troco, mas sempre num clima de amizade. Há coisas mais importantes que o futebol", concluiu o adepto encarnado, que em dias de grandes jogos até desafia os portistas. "Eles ficam muito nervosos quando jogam com o Benfica. Tenho um amigo especial, o Paulo Pires, que nem me atende as chamadas nem responde às mensagens nesse dia. Ele é que fica a perder, pois a maioria das vezes só o quero convidar para almoçar", diz, divertido. Para a meia-final de Braga, Pedro Lima tem uma convicção profunda: "Vamos ganhar, 1-0. O F. C. Porto não pode ganhar tudo este ano. O miúdo, o João Félix, vai marcar".
A palavra "Porto" ficou
No outro lado da barricada, na capital, vive outro Pedro, de apelido Ferreira, 27 anos, e que sofre pelo F. C. Porto desde criança. "O meu pai trabalhava muitas vezes no Porto e eu perguntava à minha mãe onde estava o meu pai. Ela dizia Porto e aquela palavra ficou. Foi das primeiras palavras que aprendi e quando diziam para ser do Benfica, eu respondia Porto", conta, orgulhoso, o jovem lisboeta, que sempre gostou de "ser do contra".
"O F. C. Porto ganhava mais e comecei a sofrer pelo clube. Foi complicado lá em casa, porque a minha família é toda benfiquista. Um dos meus irmãos é fanático pelo Benfica e tivemos algumas discussões em que foi preciso o meu pai intervir. Hoje em dia, isso já não acontece, porque não moramos na mesma casa", graceja Pedro Lima, que, por estranho que pareça, trabalhou na logística dos jogos no Estádio da Luz: "Pensei que o dinheiro só tinha uma cor, mas cometi um erro".
Coração azul e branco
A experiência não acabou bem, mas Pedro Lima não se arrepende. "Em jogos anteriores, tinha-me conseguido conter, mas no Benfica-F. C. Porto não houve forma de me controlar no golo do Herrera. Era impossível. Obviamente, fui despedido", conta, sorridente, enquanto passeia na Praça do Marquês, em pleno coração de Lisboa.
"Aqui, dá mais gozo ser portista. Não falho um jogo no Estoril, em Belém ou na casa dos rivais. Também vejo jogos fora. Desta vez, não vou a Braga, mas acredito que vamos ganhar, por 1-0", finaliza, confiante.