A 66.ª edição do principal campeonato canarinho terá recorde de treinadores estrangeiros e quatro deles portugueses. Onze dos 20 participantes já foram campeões.
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Jorge Jesus plantou as sementes, Abel Ferreira regou-as e os frutos são agora mais evidentes do que nunca. Quem os colhe são Paulo Sousa, Vítor Pereira e Luís Castro, os mais recentes beneficiados por três anos de sucessos sem precedentes de treinadores estrangeiros e portugueses no exigente e caótico futebol brasileiro e sul-americano. O novo Brasileirão, com início marcado para hoje e que será transmitido pelo Canal 11, é o segundo campeonato com mais técnicos portugueses, apenas superado pela Liga, provando-se que o caminho futebolístico transatlântico entre o Brasil e Portugal está definitivamente estabelecido. No decorrer da temporada, e tendo em conta a falta de paciência tão particular de dirigentes e adeptos brasileiros, não é de estranhar que outros se juntem. Até porque a lei que, na época passada, punha limites às trocas de treinadores foi anulada pelos clubes.
Recentemente, Abel Ferreira falou da Série A brasileira como o campeonato "mais competitivo do Mundo" e não se pode dizer que seja algo descabido. Nos últimos 15 anos, o Brasileirão acabou com sete campeões diferentes (um deles, o Cruzeiro, está agora no segundo escalão) e 11 dos 20 clubes que participam nesta edição já têm, pelo menos, um título no palmarés. Quatro dessas equipas são comandadas por treinadores portugueses. Contudo, partem com expectativas diferentes. Se o Palmeiras e o Flamengo, de Paulo Sousa, integram o lote dos favoritos, o Corinthians, de Vítor Pereira, surge num patamar inferior. Já o Botafogo, comandado por Luís Castro, é um recém-promovido e quererá consolidar-se ao mais alto nível antes de se aventurar por outros voos.
A 66.ª edição do grande campeonato brasileiro entrará na história por ser a que começará com mais treinadores estrangeiros (9). Para além do quarteto lusitano, há três argentinos, um uruguaio e outro paraguaio, num sintoma evidente de como o futebol canarinho, sempre tão fechado sobre ele mesmo, parece ter alargado os horizontes. Outro sinal, tem a ver com a alguma abertura que começa a existir para a entrada de investidores, mais ou menos milionários, nos clubes, tornando-os SAF (Sociedade Anónima do Futebol). Botafogo, Cuiabá e Red Bull Bragantino são os exemplos que, acredita-se, serão seguidos.
Depois de ter surpreendido na época passada, o Atlético Mineiro, campeão ao fim de 50 anos, inicia a defesa do título com o Internacional numa primeira jornada marcada pelo primeiro duelo luso: Luís Castro contra Vítor Pereira.
Treinadores
Abel Ferreira
43 anos
Treinador do Palmeiras
Abel Ferreira tornou-se, recentemente, no treinador estrangeiro com mais troféus conquistados pelo "Verdão" e começa a ganhar força a teoria de que o português já o melhor treinador da história do clube. Contratado ao PAOK, em outubro de 2020, Abel protagonizou 16 meses de sonho no Palmeiras, com destaque para duas Taças dos Libertadores. Falta o campeonato.
Paulo Sousa
51 anos
Treinador do Flamengo
O fantasma de Jorge Jesus continua bem vivo no Flamengo e para o exorcizar o clube volta a recorrer a um treinador português. Depois de Domènec Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaúcho terem saído pela porta pequena, Paulo Sousa deixou a seleção da Polónia e o sonho do Mundial 2022 para voltar a fazer funcionar um dos plantéis mais ricos do futebol sul-americano.
Vítor Pereira
53 anos
Treinador do Corinthians
Um dos maiores clubes brasileiros, o Corinthians não ganha um grande troféu desde 2017, quando foi campeão pela sétima vez. Desde aí, teve seis treinadores e nenhum convenceu. Sylvinho foi o último e deu lugar a Vítor Pereira, que volta ao ativo depois de uma má experiência no Fenerbahçe. O plantel conta com estrelas como Paulinho, Willian e Júnior Moraes.
Luís Castro
60 anos
Treinador do Botafogo
O empresário John Textor queria um treinador português para iniciar o novo projeto desportivo do Botafogo e Luís Castro foi o escolhido. Depois de Shakhtar Donetsk (Ucrânia) e Al Duhail (Catar), o português vai para a terceira experiência no estrangeiro ao serviço de um emblema histórico, que deu a conhecer Garrincha e que na época passada estava na 2.ª Divisão.
Entrevista
Chegaram há duas semanas. Os primeiros tempos têm ido de encontro às expectativas?
Sim, claramente. Vir para aqui foi uma decisão avaliada e estruturada. Existiram muitas conversas antes de começarmos e sabíamos perfeitamente aquilo que vínhamos encontrar. O clube é grandioso, com uma história enorme e com uma "torcida" completamente apaixonada. Tem sido fantástico e temos recebido muito carinho.
O que vos atraiu na oportunidade de ir para o Botafogo e trabalhar no futebol brasileiro?
Trabalhar no Brasil era um objetivo do Luís Castro, que ele já nos tinha falado. Pelo talento que existe, pela paixão dos adeptos...... Depois de percebermos que o Botafogo tinha um projeto sólido, ficámos todos muito motivados.
O Botafogo acabou de subir da Série B, mudou de proprietário e tem um projeto novo e ambicioso. Quais são os objetivos para esta época?
O grande objetivo é ter um projeto vencedor, mas para isso é preciso dar os primeiros passos e consolidar o clube na Série A. Esse é o objetivo imediato e tudo o que seja não descer para a Série B neste primeiro ano seria bom. Mas vamos construir uma equipa para jogar sempre para ganhar.
Daquilo que conhecem, que campeonato esperam?
Um campeonato extremamente competitivo. Em Portugal, quando se fala no campeonato brasileiro normalmente pensa-se no Flamengo, no Palmeiras e no Corinthians, mas o que a realidade nos diz é que é muito competitivo, possivelmente um dos campeonatos mais difíceis do Mundo. Todos os jogos serão grandes desafios.
A estreia é contra o Vítor Pereira e em casa, no Nilton Santos.
Vamos encontrar muita gente conhecida e pessoas por quem temos muita admiração, mas no jogo não há amigos. Começar no nosso estádio é muito especial, ainda para mais sabendo que os bilhetes estão praticamente esgotados e que será contra um grande treinador.
Promessas emergentes
Kaiky
Santos, 18 anos, defesa
Normalmente associado à formação de talento ofensivo, o Santos tem no central Kaiky a exceção que confirma a regra. Foi titularíssimo na época passada e deve manter o estatuto.
Danilo
Palmeiras, 20 anos, médio
Danilo é um dos intocáveis de Abel Ferreira e, aos 20 anos, já um valor seguro do futebol brasileiro. O médio tem características mais defensivas, mas também faz a diferença à frente.
Eric Gomes
RB Bragantino, 21 anos, médio
Seguindo a política desportiva da Red Bull, o RB Bragantino é a equipa mais jovem do Brasileirão e Eric Ramires é um dos nomes mais prometedores do conjunto de Maurício Babieri.
Matheus Nascimento
Botafogo, 18 anos, avançado
Há quem diga que é o maior talento que saiu da formação do Botafogo nos últimos largos anos. Matheus Nascimento estreou-se na equipa principal com 16 anos e aos 18 está no ponto.