A loucura pela corrida cresce cada vez mais e é uma boa notícia, porque qualquer atividade física é fundamental para uma vida saudável. Ora, na corrida, são os pés que nos levam à meta. E exigem, portanto, cuidado e prevenção com base numa boa avaliação.
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Um estudo realizado em 2002 calculou que os corredores possuem de 12,8% a 16, 9% de lesões na parte inferior da perna e nos pés/tornozelos, respetivamente...
Nas lesões de causa biomecânica temos o Hállux Limitus Funcional (HLF), que se caracteriza pela redução da flexão dorsal do primeiro dedo e rigidez na primeira articulação metatarsofalângica. O problema surge mais com a idade, sobretudo nas mulheres.
A limitação da amplitude de movimento e a rigidez na articulação do primeiro dedo são sinais de que a fáscia plantar está estirada, existindo uma pronação excessiva e um alongamento/fraqueza do músculo flexor longo do primeiro dedo.
Esta limitação da articulação causa um deslocamento do centro de pressão para a região externa do pé, o que, ao restringir o momento da propulsão, causa alterações do padrão da marcha. Como consequência, obriga a aumentar a força sobre os metatarsos mediais, causando outro tipo de dor, como a metatarsalgia.
A metatarsalgia é uma lesão de uso excessivo progressiva, que causa inflamação e dor nas cabeças metatársicas, principalmente as centrais. É um das queixas mais frequentes e geralmente vêm acompanhadas de calosidades.
Para além da compensação do HLF, também podem ter como causa: artrose, neuroma (compressão de nervos), diminuição da almofada adiposa e capsulites (inflamação das cápsulas articulares). O pé plano ou o excesso de pronação podem, também, causar este tipo problema.
O Arco Longitudinal Interno (ALI) é suportado dinamicamente pelo músculo tibial posterior. Se este músculo é débil ou muito tensionado associado a outra fraqueza muscular, pode ocorrer a denominada Disfunção do Tendão Tibial Posterior (DTTP), causando uma fadiga gradual e uma diminuição do suporte dinâmico do ALI durante a corrida e em todas as atividades realizadas em pé.
A queixa mais frequente é a dor no osso do tornozelo, após corrida prolongada, em superfícies instáveis ou em atividade de alto impacto, como o salto. Quando esta condição aparece, há uma sobrecarga da fáscia plantar com um maior stress tecidual, uma vez que esta estrutura também possui a função de suporte do ALI.
As mais frequentes
A fascite plantar é outra das queixas mais frequentes dos atletas e está entre as cinco lesões mais comuns. A fáscia é uma faixa de tecido conjuntivo que se insere no osso calcâneo (calcanhar) e está constantemente submetida a uma tremenda quantidade de stress para sustentar o ALI numa posição estática.
A tensão no ALI devido à carga excessiva e repetitiva pode criar inflamação e dor ao longo da fáscia e/ou na sua inserção. A dor localiza-se geralmente no calcanhar, sobretudo no primeiro passo após longos períodos de repouso, dado o rápido alongamento do tecido inflamado.
A Síndrome do Stress Tibial Anterior (SSTA), ou dor na tíbia, é uma lesão complexa que segundo alguns estudos tem associação com a debilidade do músculo tibial posterior. Outros estudos sugerem que é um estádio inicial de uma fratura de stress provocado pelo aumento da carga na tíbia, devido à debilidade muscular ou à utilização excessiva.
Os estádios iniciais são representados pela periostite (inflamação da membrana externa ao osso) e, à medida que a lesão progride, a dor aumenta de intensidade e torna-se mais localizada - nesta fase, se não for devidamente tratada, pode ocorrer fratura de stress.
Outros fatores que podem provocar a SSTA são o desequilíbrio dos músculos estabilizadores do tornozelo, a inflexibilidade dos músculos posteriores da perna, o aumento acentuado de volume de treino ou o treino em superfícies duras.