Na chamada nova realidade e com todas as regras sanitárias inerentes ao combate à pandemia, a maioria dos clubes já trabalha no ataque à época 2020/21 e, como seria de esperar, procuram afinar as máquinas em jogos de preparação.
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As equipas das competições profissionais, que disputam as provas da Liga, efetuaram o despiste à covid-19, mas, apurou o JN, o mesmo não se aplica aos emblemas semiprofissionais, a partir do terceiro escalão, nomeadamente o Campeonato de Portugal.
Num raio-X feito ao futebol português, junto de vários agentes desportivos que optaram pelo silêncio, o JN concluiu que há muitas equipas que estão a treinar sem fazer exames ao novo coronavírus. Há várias justificações para o facto, mas também é preciso referir que não existe nenhuma obrigação por parte dos clubes. A única norma atual implica a medição da temperatura diária e quaisquer sintomas têm de ser comunicados à delegação regional de saúde, do local em causa, e não à Direção-Geral da Saúde (DGS). Isto porque ainda não arrancou qualquer prova. A LigaPro tem início agendado para 13 de setembro, estando a Liga e o Campeonato de Portugal marcadas para o fim de semana seguinte (20 de setembro).
Para evitar constrangimentos, os clubes têm optado por manter em segredo alguns jogos particulares, de forma a estarem protegidos de visitas indesejadas da DGS e, inclusive, de algumas multas.
O Gondomar foi um dos poucos clubes que realizou os testes à covid-19 antes do início da pré-época. "Fizemos o controlo, através do protocolo com o Hospital-Escola Fernando Pessoa. Optámos pelos testes, mas na verdade os nossos jogadores, depois, foram para casa e alguns trabalham. Chegam a casa e estão com as mulheres, que, por exemplo, foram às compras ao supermercado. É um bocado atirar areia para os olhos", diz, ao JN, Álvaro Cerqueira, presidente do Gondomar.
No caso do emblema gondomarense, os testes foram a custo zero, mas o Fafe, que disputa a mesma divisão, não terá a mesma sorte. "Vamos gastar cerca de três mil euros", revela, ao JN, Jorge Fernandes, presidente do clube, que irá assumir a despesa. "Um valor que será incomportável no futuro", acrescenta.
Liga e Federação na expectativa
Os organismos que tutelam o futebol português esperam as medidas da DGS. "Aguarda-se a publicação da norma 30 da DGS", diz, ao JN, fonte da Liga. A Federação também remete o caso para as novas orientações do organismo de saúde.
Exames chegam aos 110 euros
Os testes à covid-19 variam entre 80 a 110 euros. Num plantel/staff com 30 elementos, a despesa ultrapassa os três mil euros. É esta a realidade que afeta, atualmente, todos os clubes e que complica muito a tesouraria dos mais pequenos.
João Paulo Rebelo aguarda atualização das recomendações
Atento ao dossiê, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, mostra-se convicto que a Direção-Geral da Saúde (DGS) irá esclarecer as dúvidas a curto prazo. "A DGS já fez saber que as orientações sobre o desporto estão em atualização", disse, ao JN, revelando tranquilidade: "As questões estão em análise. Logo que haja algo novo será divulgado".
Todos deviam optar pela prevenção
Entrevista Dagoberto Moura, Médico do Pedras Rubras
O Pedras Rubras efetuou testes à covid para jogar pelo seguro?
As equipas de futebol são propícias a ajuntamentos. Esta decisão ajudou a libertar receios. O teste com a zaragatoa é um pouco desconfortável, mas correu tudo bem. Todos deviam optar pela prevenção.
Mas isso não acontece. Muitas equipas estão a treinar sem fazer testes...
É um risco. É menor que há uns tempos, mas ainda não se sabe tudo sobre o comportamento deste vírus. Muitos clubes optam pela prevenção clínica, sem testes, agindo se houver algum sintoma.
Faz sentido realizar jogos-treino nestas condições?
Há sempre o controlo da temperatura, os desinfetantes, e há a ideia que atletas jovens e saudáveis pertencem ao grupo de menor risco. O perigo está sempre presente, mas isso é o que acontece agora no dia a dia.
É viável fazer testes com regularidade? Semanalmente, por exemplo?
Aí entra a questão financeira. São testes caros. O Estado tem de intervir e ajudar os clubes de menor dimensão. Os profissionais estão muito mais protegidos.
O maior receio é o mês de outubro?
Sim. O vírus de gripe vai misturar-se com o novo coronavírus. Muita gente vai ficar em casa. Vamos ver como se aguenta o futebol.
