Obra mais completa alguma vez feita sobre a história do Braga, que o JN antecipa, terá duas versões.
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É esta segunda-feira apresentado, no Teatro Circo, o Livro do Centenário - História do Sporting Clube de Braga, obra mais completa de sempre do clube bracarense que inclui um anexo estatístico jamais compilado. "É o melhor trabalho alguma vez desenvolvido por um clube em Portugal", defende o presidente arsenalista, António Salvador, na mensagem de introdução do livro, cujo prefácio é do presidente da República, sócio e adepto do clube bracarense, Marcelo Rebelo de Sousa.
O livro aborda a história do clube desde os anos da fundação, tema que suscita discussão no seio dos adeptos e dos próprios autores, João Miguel Fernandes, informático e professor catedrático na Universidade do Minho, e Eduardo Pires de Oliveira, investigador no âmbito da História da Arte e especialista sobre Braga e Minho. Se Oliveira defende 1921, porque é a partir daí que "ganha personalidade jurídica" com o visto do Governo Civil de Braga, Fernandes lembra o documento oficial do clube, que descobriu nos arquivos do Comité Olímpico Português, que aponta 20 de março de 1919 como data fundacional.
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João Miguel Fernandes diz ter investido "milhares de horas de muitas noites, muitos fins de semana e tempos livres" na "pesquisa muito rigorosa e detalhada" e na escrita de um livro que "já tinha na cabeça há 25 anos". "Sempre gostei de coletar dados sobre o Braga, desde o tempo em que ainda não havia Internet, e fui acumulando um conjunto de informação muito grande sobre o clube", conta em pleno Café Vianna, histórico estabelecimento da cidade onde nasceu a ideia de criar o clube.
Atas só a partir de 1956
Eduardo Pires Oliveira diz ter aceitado o desafio "porque o futebol mexe com as pessoas, com a parte humana, com a cidade". "Isso interessa-me muito. Se não entender as pessoas, a história e a arte não percebem nada", explicou ao JN. A escassez de documentação foi a principal dificuldade elencada por ambos: "O clube só tem atas a partir de 1956", ilustra o investigador.
1919
Comprar bola sem almoço
O grupo de jovens que formou o Braga teve que se quotizar para ir ao Porto comprar uma bola, conta Celestino Lobo, citado no livro. "Foi preciso conseguir um voluntário (...), com o compromisso de não almoçar, pois o dinheiro não chegava". No dia combinado, todos foram à estação esperar o amigo, mas "principalmente a bola. Vinha cheia, brilhante". Essa história "é uma epopeia e ajuda a perceber o contexto da cidade de então, que vivia com naturais dificuldades", acrescenta Pires de Oliveira.
1930
Outros rivais do passado
Apesar do grande rival ser o V. Guimarães, outros antagonistas marcaram os primeiros anos e décadas, como é exemplo o Vianense (Viana do Castelo).
Na própria cidade, os arsenalistas tiveram muitos competidores. Entre outros, o livro destaca o Comércio Sport Clube, mais tarde Braga Sport Clube, que "durante quatro anos tentou suplantar" o "Sporting", como era conhecido nesses tempos o atual SC Braga, precisamente para o diferenciar dos outros clubes. Outros tempos, outras rivalidades.
1947
Primeira subida com polémica
A primeira vez que o Braga subiu à I divisão foi em 1946/47, mas o final dessa época foi turbulento com o clube a ser acusado de tentativa de suborno por parte do presidente José Antunes Guimarães a jogadores do Onze Unidos. A Federação Portuguesa de Futebol suspendeu o jogo, mas após acareações entre as partes, o Braga seria ilibado e, um mês depois, venceria a equipa do Montijo e sagrar-se-ia campeão da II divisão, garantindo o acesso ao principal escalão do futebol nacional. Uma promoção a ferros.
1953
"Escadote e guarda-chuva"
O Braga perdera com o Sporting por 3-1 e a arbitragem de Reis Santos fora muito contestada pelos adeptos.
No final do encontro, por indicação de alguém do clube, o juiz socorreu-se de um escadote para contornar o acesso à rua que estava fechado, mas acabaria estatelado no chão agredido com um guarda-chuva de um dirigente. Nascia, assim, o episódio "escadote e guarda-chuva", que até ganhou forma num "pin" que muitos adeptos passaram a exibir "orgulhosamente nas lapelas dos casacos".