Carole Costa apontou o golo que valeu o histórico apuramento da seleção nacional feminina para a fase final de um Campeonato do Mundo. Começou no futsal, jogou sete anos na Alemanha e é licenciada em Desporto e Educação Física.
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Assim que Portugal carimbou, pela primeira vez, o apuramento para a fase final de um Campeonato do Mundo de futebol feminino, uma das ideias mais repetidas foi a de que se cumpriu um sonho de muitas gerações.
A responsabilidade de o tornar real recaiu em Carole Costa, que no tempo de compensação da final do play-off intercontinental frente aos Camarões (2-1), assumiu a marcação de uma grande penalidade que ficará para história do futebol português.
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"Senti a responsabilidade porque poderia dar a vitória. Felizmente, entrou", disse a defesa, após o jogo, e o papel principal que desempenhou no momento mais alto da história da seleção nacional assenta-lhe na perfeição.
Aos 32 anos, Carole Costa contribuiu decisivamente para a evolução do futebol feminino português. Desde 2017, a equipa das "Quinas" já participou em duas fases finais de Europeus, um feito até então apenas sonhado, e prepara-se para o primeiro Mundial do seu historial, no próximo verão, na Austrália e na Nova Zelândia.
À semelhança de grande parte da atual seleção, Carole esteve em todos esses momentos, mas também viu o outro lado da modalidade em Portugal, quando as oportunidades de fazer carreira escasseavam.
Recuando pouco mais do que uma década, ainda "havia muitos pelados e quase todos os plantéis eram amadores", conta Rúben Reis, que desempenhava o papel de treinador adjunto no Leixões quando Carole Costa ali jogou, em 2009/2010.
"Treinávamos à noite. Às quintas-feiras, treinávamos às 21.30 horas, em Custóias, e chegávamos a casa à meia-noite, para no dia seguinte irmos trabalhar ou estudar. Muitas atletas trabalhavam por turnos. A Carla Monteiro, que era internacional portuguesa, era guarda prisional e a Kikas era professora de Educação Física, por exemplo. Nem sempre tínhamos toda a gente para treinar e havia muitas meninas de 14, 15 e 16 anos a treinar com as seniores", recorda o atual coordenador de futebol nos escalões de sub-6, sub-7 e sub-8 do Leixões.
Carole Costa deixou o país em 2010, tinha apenas 21 anos, com a ideia de cumprir os sonhos de uma menina que desde cedo se apaixonou pelo futebol. Os primeiros pontapés na bola foram dados na rua, com os primos e os amigos, antes de se juntar à equipa de futsal Os Marretinhas, em Braga, de onde é natural.
Jogava ao lado dos rapazes e, numa entrevista à TVI, em 2018, admitiu que lhe custou mudar-se para uma equipa totalmente feminina. "Era mais competitivo, desenvolvia mais com o masculino", explicou, na altura, a jogadora.
A carreira no futebol começou na Casa do Povo de Martim, na 2.ª Divisão Nacional, de onde saiu para o então primodivisionário Leixões. "Ela veio estudar para o Porto e acabou por vir para o Leixões. Era a alegria do balneário, uma atleta super bem-disposta, mas também muito esforçada, empenhada e focada no objetivo dela. Tinha tudo muito bem definido na cabeça dela", recorda Rúben Reis.
"Já na altura se notava que ela estava num patamar diferente", prossegue, elogiando-lhe a "facilidade muito grande no remate e no passe longo", para além de que "jogava mais ou menos bem com os dois pés e interpretava muito bem o jogo", o que lhe permitia "antecipar com alguma facilidade as jogadas". Essas qualidades faziam com que, em determinados momentos, Carole Costa subisse no terreno para jogar no meio-campo.
Com tamanho talento, não demorou a saltar para a Liga alemã, onde entrou pelas portas do Essen. Passou os sete anos seguintes por terras germânicas, tendo representado ainda o Duisburg e o Cloppenburg, mas nunca perdeu contacto com o que se ia fazendo por cá.
Prova disso é uma entrevista concedida ao sítio "Futebol Feminino Portugal", em 2013, na qual exprimiu que acreditava que o país "estava no bom caminho" e que seria possível criar uma Liga profissional de futebol feminino a curto trecho.
Quando voltou a Portugal, em 2017, o campeonato ainda não estava totalmente profissionalizado, mas já havia projetos com esse estatuto, como o do Sporting, para onde se mudou.
Ganhou tudo o que havia para ganhar pelas leoas, a nível interno, antes de sair para o rival Benfica, em 2020, após terminar contrato com o emblema de Alvalade.
Na Luz, enriqueceu o currículo com dois títulos de campeã nacional, uma Supertaça e uma Taça da Liga, e foi eleita a melhor jogadora da última edição da Liga na temporada passada.
Apesar de atuar como defesa central, Carole Costa é uma jogadora dotada tecnicamente e marca golos com assinalável frequência, como ficou comprovado na histórica vitória frente aos Camarões, que colocou Portugal pela primeira vez na fase final de um Mundial.
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Já vestiu a camisola da seleção principal por 152 ocasiões, marcando um total de 18 golos, um deles no último Europeu, em 2022, na derrota por 3-2 frente aos Países Baixos.
Para lá da carreira de futebolista, Carole Costa completou uma licenciatura em Educação Física e Desporto. Fora dos relvados gosta de viajar e de estar com os amigos.
Por falar neles, deve receber, entretanto, uma mensagem de felicitações de Rúben Reis. "De vez em quando, trocamos uma ou outra mensagem a dar os parabéns nestes momentos. Ainda não mandei hoje, mas vou mandar", prometeu.
