Caso da camisola do Benfica: "O meu filho chorava porque pensava que eu ia ser preso"
O pai da criança que foi obrigada a assistir semidespida à partida Famalicão-Benfica, no último sábado, revelou, nesta segunda-feira ao JN, que o filho chorou "durante toda a primeira parte" por pensar que o progenitor ia ser detido pelas autoridades, no fim dos 90 minutos. Incrédulo com o episódio, decidiu avançar com uma queixa para o Ministério Público.
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"Ele não ficou traumatizado com o episódio mas até ao intervalo do jogo não parava de chorar. A preocupação não era a de estar em tronco nu, mas a de pensar que eu ia ser preso. Porquê? Pela forma como eu falei com as autoridades, estava indignado e exaltei-me com a polícia. Por isso pensou que eu ia ser detido", revelou.
No sábado, o pai, que prefere não ser identificado, e o filho, ambos de Paredes, deslocaram-se ao Estádio Municipal de Famalicão com convites para assistir ao jogo numa bancada que é destinada aos sócios do clube. O filho estava vestido com a camisola do Benfica. "Quando chegámos, um segurança disse que a criança não podia entrar com aquela camisola por motivos de segurança. A uns cinco metros, estava um agente da PSP, fiz queixa, mas ele disse-me o mesmo: naquela bancada não podiam entrar pessoas com adereços do clube visitante". Ao que apurámos, a prática é comum a muitos outros clubes da liga com o objetivo de evitar confrontos verbais e físicos entre adeptos de emblemas rivais no mesmo espaço.
Incrédulo, o progenitor trocou argumentos com as autoridades e foram adeptos do clube da casa que acabaram por o ajudar. "Meti a camisola do Benfica no bolso e emprestaram ao menino um cachecol do Famalicão. Quando já estávamos na bancada, coloquei-me ao lado da rede onde estavam os adeptos do Benfica, tentei vestir-lhe a camisola, mas um outro steward voltou a não deixar. Fiquei muito chateado", confessou. Garantiu que não sabia que as crianças tinham de se vestir de forma neutra naquela bancada. "Sei que os adultos não podem, eu sou do Benfica e não levei adereços, mas nunca me passou pela cabeça que as crianças não podiam. Daí ter ficado tão exaltado".
Entre os adeptos que assistiram à confusão esteve Francisco Benitez, candidato derrotado nas últimas eleições do Benfica. "Ele, porém, não quis meter-se muito na confusão para não pensarem que estava a tirar protagonismo público daquilo tudo. Nem meteu nada nas redes sociais. Foram mais os seus amigos que nos ajudaram. Deram-nos água mas o meu filho nem quis nada".
O golo do Benfica, durante a segunda parte, foi festejado mas o filho colocou travão ao pai. "Eu queria tirar a camisola do Benfica para a abanar mas o meu filho, cheio de medo, disse logo para a guardar. Receava que eu fosse preso. O nosso futebol é assim: em vez de ele ficar com a memória do golo do Rafa, vai ficar com a de que teve de ver um jogo de futebol semidespido".
A repercussão do episódio teve dimensão nacional. "O miúdo está tranquilo, entende que todos estão solidários, não ficou com traumas. Mas o que sinto é que as autoridades já deviam ter feito algo para mudar estas regras há muito tempo. Se eu tivesse uma filha, como era? Ficava de peitos à mostra? Tem de ser feita justiça!".