Diego Cavinato, de 37 anos, renova pelo futsal do Sporting e considera a rivalidade com o Benfica a maior do Mundo
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Qual é a sensação de conquistar mais um campeonato nacional pelo Sporting?
É de dever cumprido, pela época que fizemos, por aquilo que trabalhámos ao longo da temporada. Esse é o principal sentimento e também de alívio.
O Sporting conquistou todos os títulos internos, mas perdeu a Liga dos Campeões na final contra o Barcelona. Ficou um amargo de boca? Foi um objetivo falhado?
Não diria que é um o objetivo falhado, do outro lado estava uma grande equipa, contra quem já tínhamos jogado na final do ano anterior e que vencemos. O resultado não condiz com o que foi o jogo, foi um jogo estranho. Mas acho que não estraga a temporada que fizemos. Tínhamos isso apontado no início da época, voltar a ganhar a Champions, mas sabíamos que não é fácil. Conseguimos chegar à final, acho que é um grande êxito. Internamente ganhámos todos os campeonatos com o nosso eterno rival, acho que foi uma época excelente, maravilhosa. Claro que queríamos ganhar tudo, mas no desporto nem sempre é assim. A época anterior foi ótima também. De 0 a 10 diria que esta temporada foi um 9,5 e a anterior foi um 10, mas não dá para ser sempre perfeito.
O Cavinato foi o melhor marcador do Sporting na temporada. É aptidão natural para marcar golos ou é o coletivo que proporciona isso?
Uma coisa leva à outra. O meu perfil de jogo encaixa bem com o perfil da nossa equipa. Os golos sempre foram aparecendo, sempre fiz e antes de vir para cá sempre marquei muitos. Quando vim para cá ainda aperfeiçoei isso. Eu ajudei o Sporting e o Sporting ajudou-me, os meus colegas ajudaram-me muito.
Falou da ajuda dos colegas. E o míster Nuno Dias? É o melhor do mundo?
Sem dúvida alguma.
Como é que é o míster no dia-a-dia?
É muito exigente no dia-a-dia. Para ganhar o que ele ganhou, é preciso essa exigência, nos treinos, nos jogos. É o principal adjetivo que lhe posso dar. Gosta de trabalhar muito e para ter uma equipa vencedora como a nossa é com esse trabalho diário, tirando o melhor de cada atleta.
E o ambiente do balneário? Há uma mistura de veteranos com jovens como o Zicky ou o Paçó.
Quando chegaram eles foram muito bem recebidos, integraram-se muito bem na equipa. Isso é uma mistura boa de juventude com a experiência que tenho com a minha, o Merlin, o João Matos, o Guitta... Isso misturou-se com eles e resultou bem. São excelentes pessoas fora da quadra, somos todos amigos. Nós fomo-los ajudando e eles também nos ajudaram.
A carreira do Cavinato começou no futebol?
Sim. Comecei como atacante, extremo, e depois fui para lateral esquerdo. Joguei dos 14 aos 16 anos, no Brasil, no Figueirense, em Santa Catarina.
E porque é que não ficou pelo futebol?
É muito mais difícil conseguir uma oportunidade no futebol. Agora está mais fácil, mas na minha altura era preciso ter um empresário e alguém que estivesse sempre ao teu lado. Eu era de uma cidade do interior, de Santa Catarina. Os meus pais sempre me deram todo o apoio, mas era preciso algo mais e eu vi que não tinha.
Como é que passou para o futsal?
No Brasil quando és novo treinas futsal. Aos 13, 14 anos tentas no futebol de campo. Até aos 16 tentei, vi que não dava e voltei para o futsal na minha cidade, em São Lourenço do Oeste. Joguei no Catarinense e depois fui para o Rio Grande do Sul antes de vir para a Europa.
Como é que surgiu essa oportunidade de vir para Itália?
A oportunidade surgiu em 2005. Estava a jogar no Rio Grande do Sul e íamos jogar com o Atlântico. Um presidente de um clube da Itália estava a assistir ao jogo, mas veio para ver um jogador do Atlântico. Ele gostou de mim e no final veio falar comigo, surgiu o interesse.
E decidiu logo ir?
Quando ele veio falar comigo eu disse-lhe que sim, dei-lhe o meu telefone de casa, na altura era difícil ter telemóvel. Isto foi em agosto, que a época no Brasil é de janeiro a dezembro, ainda hoje me lembro. Em dezembro estou a passar férias em casa, ele liga-me e eu não pensei duas vezes, peguei em mim e fui.
No Brasil há muita descendência de italianos. O Cavinato tinha ascendência italiana? Ajudou a tomar a decisão de jogar pela seleção italiana?
Sim, tinha. Eu nunca pensei jogar pelo Brasil. Sai muito novo, com 18 anos, nem tinha aparecido muito no Brasil e fui logo para Itália. O convite surgiu depois de dois, três anos em Itália. Estava bem no clube e surgiu a convocatória. Não pensei duas vezes, é o sonho de todos, representar uma seleção, mesmo que não seja a do país que nasceu. Desportivamente, a Itália deu muito mais a mim e à minha família do que o Brasil. Itália é a minha nação.
Mas já está há sete anos em Portugal. Já se sente um pouco português?
Sinto, claro. Fui ver os jogos da seleção com os meus filhos, eles torceram muito pelo Cristiano Ronaldo e por Portugal. Eles já são portugueses.
Foi, como disse, muito novo para Itália. Foi difícil a mudança do Brasil para Itália?
Foi muito difícil mesmo. Na altura não havia Internet como hoje em dia. Na primeira semana deu-me o desespero e queria ir embora. Só podia ligar uma vez por semana para casa, falava pouco porque não era fácil. Na altura não tinha computador, depois comprei isso tudo e ficou mais fácil. Nos primeiros meses foi complicado, pensei em desistir e voltar para casa. Graças a Deus continuei.
Foi preciso força para passar a adversidade.
Mentalmente sempre fui uma pessoa muito forte. É um dos meus pontos fortes.
Mas veio sozinho?
Estava, não trouxe país nem namorada, ninguém. A língua era diferente também. Tive sorte que a equipa para onde vim tinha muitos brasileiros, 12 ou 13. Era uma equipa que servia para dar o salto para outras equipas. Isso ajudou muito.
Depois de Itália surgiu o convite do Sporting, em 2015. Como é que aconteceu?
Eu estava no Acqua e Sapone e chegou a sondagem do Sporting. Eu jogava com o Fernando Leitão na altura, que já tinha estado uns anos aqui. Eu perguntei-lhe como é que era, por isso já conhecia o projeto e não pensei duas vezes em pensar em aceitar o convite.
O Cavinato tem muitos colegas na seleção nacional portuguesa que ganhou o Europeu e o Mundial e em clubes Sporting e Benfica também já venceram a Liga dos Campeões. Portugal é a grande potencia mundial da modalidade?
Nós brincamos com isso, mas eu acho que sim. O que o Brasil foi em tempos, Portugal é hoje. Pelos clubes, pelas camadas jovens, pela organização... As pessoas podem dizer que isso não conta, mas isso conta. A organização, as camadas jovens, o talento, que há muito em Portugal. O que o Brasil e a Espanha foram, é Portugal hoje.
Falando em talentos, trabalha todos os dias com o Zicky, que muito novo se destacou na seleção. O Ricardinho é o expoente máximo do futebol português, mas acredita que daqui a uns anos podemos ter o Zicky na mesma discussão?
Tem talento para isso e a cabeça boa também. O talento é bom, mas sem uma base e uma cabeça boa, o talento perde-se. Ele tem talento para chegar onde quiser. Eu dou-me super bem com ele. É dos talentos que eu vejo com grande futuro. Não sei se chegará ao Ricardinho, isso só o tempo o dirá e depende apenas do Zicky.
Agora aos 37 anos, vai renovar e continuar no Sporting. Porquê continuar? E já pensa no fim da carreira?
Não penso na reforma, ainda tenho muito a dar. Sinto-me motivado, vamos ver ano a ano. Ainda quero ganhar muita coisa. A ambição que tenho e a do Sporting de ganhar títulos motiva-me. Eu quero ganhar todos os anos e o Sporting também. O que passou, passou, agora é descansar e pensar nos próximos títulos.
Então retirar-se no Sporting está em cima da mesa?
Se eles me quiserem até eu parar, sim [risos]. Mas não penso nisso, é certo que já tenho 37 anos, mas ainda é cedo. O meu corpo e a minha cabeça respondem bem.
Está aqui connosco o seu filho. Vai seguir as pisadas do pai?
Eu não sei, mas tem jeito, que é o pior. E gosta! Vamos ver, mas eu não quero ficar longe. Onde ele for, eu vou!
As condições que o Sporting proporciona ajudam nos títulos das modalidades, como por exemplo o Pavilhão João Rocha?
Sim, isto foi um grande projeto e investimento. Viu-se no último jogo e no primeiro, a atmosfera que aqui se fez. Nas outras modalidades, no hóquei, no andebol, o que se fez foi espetacular. Isto é a nossa fortaleza, é muito difícil ganhar-nos aqui. Quando estivemos a perder no jogo 1 e no 3, mesmo a perder ou em dificuldade nunca deixam de nos apoiar. Aqui sentimos-nos bem e fora ajudam muito também.
No jogo 1 o Cavinato marca a um minuto do fim e atira o jogo para o prolongamento. Apesar de terem vencido 3-0 na série, os jogos foram todos decididos por um golo. Qual foi a importância desse golo?
Foi um golo importante, faltava um minuto e sabíamos a importância desse primeiro jogo. O jogo 1 de uma série de cinco é o mais importante. Jogando em casa, podem tirar-nos a vantagem. Foi um golo que nos ajudou muito e que nos permitiu sair daqui com a vitória no prolongamento.
E como é que olha para a rivalidade com o Benfica? É a maior do mundo?
Hoje em dia sim. Nós sentimos muito. A rivalidade é tanta que a adrenalina é sempre a mesma, seja nos jogos da temporada regular, seja na final. A envolvência que tem... É o melhor dérbi do mundo. Depois do primeiro jogo ouvi o Erick falar que queria que os amigos deviam sentir o que era jogar um dérbi em casa. É uma emoção única. Só depois de o jogo acabar é que percebemos a atmosfera. Sem dúvida alguma que é o maior do mundo.
E vencer em casa do rival? Tem um sabor mais especial, como foi no jogo 2?
Claro, e da forma que foi. Foi um jogo muito difícil, sabemos que em casa deles é difícil ganhar. Eles sabiam que se perdessem lá dificilmente dariam a volta, tinham de ganhar três jogos seguidos e dois em nossa casa. Foi essa a sensação.