Todos temos de madrugar. Despachamo-nos rapidamente para libertar os camarotes. Nos altifalantes aquela voz irritante a mandar-nos sair não pára de nos incomodar. A assistência já está no "modo corrida".
Corpo do artigo
Nota-se alguma tensão... no Jorge, claro. O Hélder e o Pedro vão fumando cigarros e parece que nada os enerva. O Jorge está acelerado. Tem de ir ao banco trocar dinheiro e quer companhia. Nós queremos o camião aberto, abrir os sacos, arrumar a bagagem destes últimos dias, pôr água e comida no nosso camião... são tantos os detalhes que alguma coisa vai ficar por fazer. Aceleramo-nos porque sentimos que estão com pressa. São mais de seiscentos quilómetros com uma boa parte de montanha. São muitas horas de caminho porque o KAT, o camião de assistência, sobe muito devagar e não adianta apertar com ele. Tem o seu próprio ritmo!
Pelo caminho vão parar para atestar gasóleo para eles e para nós. Demora tempo. Mais à frente, numa das cidades, vão voltar a parar para carregar os telefones marroquinos, comprar fruta, pão... Talvez consigam parar num sitio para fazer uma refeição rápida (têm mais sorte do que nós que vamos passar o dia a barras energéticas!).
Enfim a viagem vai ser demorada. No acampamento há que arranjar espaço e preparar tudo para a nossa chegada. O Pedro terminou o seu turno e relaxa. O Hélder prepara-se para o frio. O trabalho vai esticar pela noite fora e as temperaturas rondam os zero graus na maior parte das vezes. O Jorge corre pelo acampamento à procura das pessoas certas para garantir que está tudo bem com as imagens de televisão que têm de seguir para Portugal a tempo, para garantir que a Internet está a funcionar... temos a crónica para enviar e no primeiro dia nem sempre as coisas funcionam bem.
Sei que desejam profundamente que a etapa me tenha corrido bem e que não tenha feito estragos no camião senão a noite vai ser dura.