Receitas serão dez vezes inferiores na Liga 2. Cai metade do apoio regional e há quebra de 80% nas transmissões televisivas.
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A despromoção do Marítimo à Liga 2 poderá custar cerca de cinco milhões de euros aos cofres do clube, ou seja, parte substancial do orçamento, que esta temporada foi de seis milhões. Em vez dos cerca de 3,5 milhões de euros assegurados até aqui pelas transmissões televisivas, o grande balão de oxigénio dos pequenos e médios clubes, o Marítimo irá receber cerca de 600 mil euros no segundo escalão. Com a descida, os insulares perdem ainda um milhão de euros do quadro de apoios do Governo Regional da Madeira e passam de 1,75 milhões de euros na Liga para 800 mil, verba igual à que o Nacional recebeu esta época, no segundo escalão. "Um estudo que fizemos há cerca de seis meses dizia-nos que para um clube médio uma despromoção significa, praticamente, dez vezes menos em termos de orçamento", apontou, ao JN, Daniel Sá, diretor-executivo do IPAM. "Caem os diretos televisivos e, proporcionalmente, os contratos de patrocínios e receitas de bilheteira. Em termos de assistência, o estádio do Marítimo contabiliza a sexta maior assistência média do campeonato. Portanto, são péssimas notícias para o Marítimo", acrescentou ainda.
Para se ter uma noção do impacto nas receitas, o último anuário da Liga de clubes refere uma exposição mediática quase cinco vezes menor na Liga 2, de cerca de 1,4 mil milhões de euros na Liga, para 305 milhões no segundo escalão. Os valores prometem quebrar abruptamente, se compararmos ainda os 500 mil euros que o Marítimo encaixou com o patrocínio da Betano nas camisolas, até ao contrato com a Coral. O Nacional, a título de exemplo, só recebeu 40 mil euros da Solverde, nesta edição da Liga 2. "A visibilidade é completamente diferente nos dois escalões e os patrocinadores pagam isso mesmo. Mesmo sem números concretos, porque não são facultados, as proporções serão essas, da ordem de dez vezes menos, em termos de receitas", completou Daniel Sá.
Ao cabo de 38 anos consecutivos do Marítimo na Liga, o futebol português perdeu um clube histórico no escalão principal e fica sem qualquer representante das ilhas na divisão maior, depois do Santa Clara também ter sido despromovido diretamente à Liga 2, situação que promete ter um impacto ainda por avaliar em termos turísticos.
APOIO
Albuquerque avisa que não há mais dinheiro
Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, declarou-se triste com a despromoção do Marítimo, mas avisou que o executivo não pretende alterar a lei-quadro do desporto, que garante um apoio anual a 150 clubes madeirenses das mais diversas modalidades de 12,7 milhões de euros. "É preciso refletir, o futebol mudou muito, a forma de financiamento do futebol profissional também mudou e é essencial os clubes da Madeira pensarem nisso e não o governo regional", declarou Miguel Albuquerque.
POR DENTRO
Rui Fontes já aponta ao regresso
O Marítimo pretende regressar o mais rapidamente à Liga e ontem Rui Fontes, presidente do clube madeirense, anunciou que vai convocar uma assembleia geral. "Vamos definir a estratégia para regressarmos a um lugar que é nosso", afirmou o presidente, em conferência de Imprensa.
Futebol é a ponta do icebergue
O desporto madeirense vive um verdadeiro pesadelo esta temporada. Para além da descida do Marítimo à Liga 2, há ainda a registar as despromoções do CS Madeira (andebol feminino) e do CAB, em basquetebol masculino.