Com o triunfo de ontem, na segunda mão do playoff contra o Marítimo, o Estrela da Amadora regressa à Liga 14 anos depois. Pelo meio, regista-se uma ascensão meteórica até ao topo do futebol profissional, uma vez que em 2018 a equipa competia nos distritais de Lisboa.
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Sendo um dos clubes mais emblemáticos da zona de Lisboa, o Estrela da Amadora surpreendeu o futebol português em 2008/09, quando foi despromovido ao terceiro escalão, mesmo tendo garantido a permanência na Liga dentro das quatro linhas. Os estrelistas até conquistaram um confortável 11.º lugar, mas foram condenados à descida por motivos financeiros.
As dívidas a fornecedores, funcionários, jogadores, finanças e segurança social, entre outros, foram demasiado pesadas para o clube se manter nas competições profissionais. Nessa temporada, o Sindicato dos Jogadores Profissionais ainda apoiou o clube com um mês de salários, mas não foi suficiente para os estrelistas se manterem na elite nacional.
Já em 2009/10, António Veloso, ex-jogador do Benfica e da seleção portuguesa, assumiu o cargo de treinador, mas os problemas continuavam. A equipa vivia a pior fase da história, alimentando o plantel com juniores e jogadores cedidos por outros clubes. Continuava a ter salários em atraso, os funcionários fizeram greve e a dívida cresceu, ao ponto do Tribunal de Sintra declarar o Estrela da Amadora insolvente, o que, consequentemente, levou à extinção do clube em 2011. No mesmo ano, nasce o Clube Desportivo Estrela (CDE), com o objetivo principal de investir nas camadas jovens e nas modalidades.
Renascimento para o futebol sénior
Sete anos depois começou a desenhar-se o regresso do Estrela. O emblema da Amadora anunciou que iria voltar a competir no futebol sénior, começando nos distritais de Lisboa e fazendo até treinos de captação para conseguir formar um plantel. Passou duas temporadas nos campeonatos distritais, até que em 2020 tudo mudou.
Nesse ano, o CDE fundiu-se com o Club Sintra Football, criando o Club Football Estrela da Amadora e esse foi o grande passo para se reerguer. O clube criou uma SAD e ficou com a licença desportiva do emblema de Sintra, regressando assim aos campeonatos nacionais, nomeadamente ao Campeonato de Portugal. Foi também aí que o Estrela da Amadora começou a desenhar um projeto sólido para regressar às competições profissionais. Passou apenas uma época nessa divisão e outras duas na Liga 2, antes de consumar o regresso à Liga, que representou a cereja no topo do bolo, no plano de devolução do Estrela da Amadora ao pico do futebol português.
O projeto tornou-se tão atrativo que captou até a atenção de Patrice Evra, ex-jogador do Manchester United, que faz parte do grupo de investimento norte-americano My Football Club, responsável por adquirir recentemente 90% do capital da SAD do Estrela da Amadora. Após a promoção à Liga, após deixar pelo caminho o Marítimo, no play-off, o ex-defesa mostrou-se radiante. "Não tenho palavras para descrever o quanto estou orgulhoso de todos vocês", escreveu Evra nas redes sociais.
Figuras dentro do campo
Se fora do campo se registou um trabalho enorme para conseguir dar as melhores condições ao clube para lutar pela subida, dentro das quatro linhas os jogadores responderam à altura. Treinados por Sérgio Vieira, a equipa construiu um plantel equilibrado, repleto de veteranos como são os casos de Bruno Brígido (32 anos), Miguel Lopes (36), Diogo Salomão (34) e João Silva (33), fundamentais para fornecer a experiência que qualquer candidato à subida tem de ter. Apoiados pela juventude e irreverência de Guzmán, Ronaldo Tavares, Kikas, ou até Feratovic - que entretanto se transferiu para o Benfica - formou-se a união perfeita que resultou numa histórica subida, 14 anos depois da descida ao inferno.
O Estrela da Amadora volta a brilhar, 33 anos depois de ter feito história, quando garantiu a Taça de Portugal. O feito maior de um clube cheio de horizontes.