Ex-jogador de F. C. Porto e Benfica antevê meia-final da Taça da Liga entre os dois rivais do futebol português.
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É fácil acompanhar o futebol português na Sérvia?
Muito fácil. Tenho os canais portugueses em casa, acompanho os jogos quase todos e sei tudo o que se passa em Portugal.
Como tem visto o desenrolar do campeonato?
Penso que o F. C. Porto está no bom caminho para revalidar o título. Tem feito bons jogos e conseguido bons resultados. Sente por vezes dificuldades, como é normal, porque o campeonato português é competitivo, mas tem uma boa vantagem e nota-se que a equipa está confiante. Não só na Liga portuguesa, mas também na Champions, tem feito um percurso fantástico, que se deve muito a Sérgio Conceição. Implementou uma dinâmica e trouxe uma energia que são fundamentais.
É ele que faz a diferença?
Jogámos juntos e posso dizer que o Sérgio é como treinador aquilo que era como jogador. É uma pessoa muito enérgica, que gosta de ganhar. Conseguiu transmitir essas caraterísticas à equipa.
Alguma vez pensou, quando jogava, que Conceição podia ser treinador ao mais alto nível?
Não pensava nisso. Ele é uma pessoa explosiva e viu-se isso no início da carreira de treinador. Era muito novo e teve momentos engraçados, típicos dele de quando era jogador. Enervava-se muito facilmente [risos]. Teve alguns problemas quando estava na Académica e no Braga, mas com a idade tornou-se um treinador diferente do que era quando começou. De certeza de que se vai tornar mais tranquilo. É um processo normal e ele próprio vai evoluindo com os anos de experiência. Tem feito um bom trabalho no F. C. Porto, é muito ambicioso e de certeza que não vai parar por aqui.
Foi o treinador certo para o F. C. Porto na época passada?
Ele foi criado naquela casa, jogou lá, conhece a mentalidade e a ambição do clube. Se olharmos para trás, foi o treinador certo. Estava a fazer um bom trabalho no Nantes e o F. C. Porto foi buscá-lo. Os treinadores são feitos de resultados e ele fez uma excelente época. Este ano, como já disse, está no bom caminho e toda a gente que gosta do F. C. Porto, gosta do trabalho dele. Pelo que vejo e leio, toda a gente está muito satisfeita. É um ótimo casamento.
A saída de Rui Vitória do Benfica era inevitável?
Acho que sim. A equipa teve uma fase menos boa e a pressão era muito grande em cima do treinador. Desde a época passada que se tornou difícil lidar com isso. Rui Vitória teve um percurso fantástico no Benfica e qualquer treinador gostava de conquistar o que ele conquistou. Penso que esta parte da carreira acabou aqui e foi para a Arábia. Nunca se sabe se um dia poderá voltar. Toda a gente do Benfica respeita o trabalho dele.
Teria sido melhor para o clube que a saída acontecesse no final da época passada?
Não sei. Luís Filipe Vieira confia nos treinadores. Aconteceu com Jorge Jesus, quando toda a gente pensava que ia sair e ficou. Para os treinadores, é bom ter o apoio dos presidentes. Penso que Rui Vitória e Vieira estavam à espera de ver um Benfica diferente este ano, para melhor, depois de na época passada terem perdido o título, mas por vezes as coisas não correm bem e talvez o melhor caminho para todos fosse a saída.
O que espera da meia-final da Taça da Liga entre os dois rivais, numa prova a que os clubes dão agora mais importância?
Gosto desta prova e ainda por cima vão estar as quatro melhores equipas na "final four". Um clássico é sempre aliciante. Toda a gente vai entrar concentrada e preparada. Vai estar muita gente no estádio a tentar ajudar as equipas, mas é difícil dizer quem é favorito. Quando se joga um clássico, muitas vezes são as equipas que não estão no melhor momento a vencer.
Será desta que o F. C. Porto ganha ou irá o Benfica somar mais um troféu nesta prova?
Da forma como está a jogar, o F. C. Porto tem grandes hipóteses, mas serão pequenos detalhes a decidir. Vamos esperar para ver. Cada jogo tem uma história.
Os clássicos também eram os jogos de que gostava mais?
Sem dúvida. Nestes jogos, não era precisa nenhuma motivação. São os mais vistos pelas pessoas e toda a gente gosta de os jogar. Os jogadores de agora não fogem à regra. Todos vão dar o máximo. No F. C. Porto-Benfica, no Braga-Sporting e depois na final, vamos ter jogos com muita emoção e qualidade.
Drulovic deve ser um dos poucos casos em que, num jogo já ao serviço do Benfica depois de ter saído do F. C. Porto, foi aquecer atrás da baliza e ouviu incentivos dos adeptos dos dragões...
Lembra-se? Foi um dos momentos mais bonitos da minha carreira e é prova de que eu, quando estava no F. C. Porto, onde passei os melhores anos da minha carreira e conquistei 14 títulos, dei o máximo e tive sempre uma excelente relação com as pessoas. Sempre falei bem do clube porque foi uma casa que me deu praticamente tudo. Apesar de ter jogado no Benfica, sempre fui muito bem recebido lá e toda a gente sabe a rivalidade que existe. Mesmo no Benfica, sou bem recebido porque tento sempre ter uma boa relação com toda a gente.
O momento em que assinou pelo F. C. Porto, em 1994, foi o mais importante da carreira?
Sem dúvida. Foi a realização do sonho de chegar a uma grande equipa, de ir à Liga dos Campeões, de jogar por tudo aquilo que eu queria. Lembro-me que o meu último jogo pelo Gil Vicente, quando já tínhamos chegado a acordo, foi contra o F. C. Porto e mesmo aí joguei bem e empatámos. Foi na altura um grande resultado para o Gil, que também é um clube de que gosto muito porque me lançou no futebol português.
Ser um dos jogadores que estiveram em todos os campeonatos do penta deixa-o orgulhoso?
Claro. E vamos ver quantos anos vão passar até que outra equipa consiga esse feito de ganhar cinco campeonatos seguidos.
Faltou-lhe um troféu europeu?
Sim. Quando eu já estava no Partizan, até joguei contra o F. C. Porto na Liga dos Campeões que o clube viria a conquistar, com Mourinho, Deco, Baía, Jorge Costa e muitos dos jogadores que jogaram comigo. Faltou-me isso. Estivemos algumas vezes perto de jogar a final. Logo no meu primeiro ano, chegámos à meia-final com o Barcelona. Fomos aos quartos de final com o Manchester United e depois com o Bayern, que eram muito fortes. O F. C. Porto fez boas carreiras na Champions e os adeptos podem estar orgulhosos.
A equipa atual precisava de um Drulovic, para fazer aqueles cruzamentos e aquelas assistências que o tornaram famoso?
Não, não. O último passe era o meu forte, de facto, mas o F. C. Porto atual continua a ter excelentes jogadores. Brahimi, por exemplo, é fantástico. Joga naquela posição, embora seja diferente porque não é esquerdino. Está a fazer um grande trabalho e é hoje um jogador com valor muito diferente do que tinha quando chegou.
No Benfica, João Félix é um jogador em ascensão. Augura-lhe um bom futuro?
Já o vi jogar e gostei muito. Se continuar a trabalhar, acredito que será um dos craques do futebol português. Mais um. Há tantos bons exemplos de Ronaldo para baixo. Fico feliz por isso.
Tem no horizonte voltar a trabalhar em Portugal?
Sim, eu gosto muito de Portugal e gostava de voltar como treinador. Se isso vai acontecer, não sei, mas é um dos meus objetivos ser treinador de uma equipa portuguesa.
Na Sérvia, que será adversária de Portugal no apuramento para o Euro 2020, também há jovens de grande talento?
Sim, há sempre muitos talentos a aparecer. Os jovens de grande qualidade que chegam ao Partizan ou ao Estrela Vermelha saem logo para o estrangeiro. Têm de ser acompanhados através de uma boa prospeção logo nas camadas jovens. Quanto à seleção, acredito que, com o tempo, vai chegar àquilo que Portugal é hoje.