A imagem de uma atleta bem grávida a cumprir os 800 metros dos campeonatos de pista dos EUA de junho último em dois minutos e 21 segundos correu mundo. É possível persistir na paixão.
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Aos cinco meses de gestação, a sete vezes campeã norte-americana da distância Alysia Montaño colocava-se, assim, num afastado mas glorioso 30º lugar. Ficou famosa... pela segunda vez: em 2014, grávida de oito meses, correu dois minutos e 32 segundos. O feito de Montaño pôs-nos a pensar: mas então, deve-se ou não continuar a correr depois de engravidar? O especialista em Ciências do Desporto e treinador de Triatlo Miguel Medeiros deixa-nos algumas pistas.
"A gravidez é um momento muito especial para a família, mas especialmente para a mulher. É um período em que o corpo sofre alterações de uma forma muito rápida e a principal preocupação deve ser a saúde da mãe e do bebé. Por isso é que, sempre que se pretender incluir a atividade física ao longo da gravidez, e particularmente a corrida, é fundamental não prescindir da opinião do médico no início da gestação.
Já se sabe que a atividade física beneficia a saúde da grávida em muitos aspetos, como um maior controlo sobre o ganho de peso, a diminuição do risco de diabetes gestacional, a facilitação do parto normal, a diminuição do risco de varizes, a melhoria da recuperação pós-parto, entre outros. Mas há recomendações: a prática desportiva tem que ter uma intensidade leve a moderada, sempre com atenção à frequência cardíaca, a um nível de hidratação mais cuidado e aos sinais do corpo, como o desconforto articular, o inchaço dos membros inferiores, a fadiga geral e as náuseas.
Posto isto, correr durante a gravidez sim ou não?
Se a grávida não é uma corredora assídua, não deve começar a correr nessa altura, pois não irá ser saudável - nem para a mãe, nem para o bebé - obrigar o corpo a adaptar-se à corrida e à gestação em simultâneo. É preferível continuar com a atividade física que já se pratica.
Se é já uma corredora assídua e tem o aval do médico para continuar com a prática, a grávida deverá ter em atenção que deve apenas fazer corridas contínuas a um ritmo mais lento que o habitual, reduzindo o volume do treino. O objetivo é apenas manter o hábito da corrida. Deve ainda procurar alimentar-se e, fundamentalmente, hidratar-se muito bem antes, durante e após a corrida, pois a desidratação afeta o fluxo sanguíneo para o feto.
É fundamental selecionar bem o local da corrida, procurando superfícies lisas que minimizem o risco de desequilíbrio - com o aumento do peso e do tamanho da barriga, o centro de gravidade do corpo também se altera, o que, com a evolução da gestação, obriga a uma preocupação crescente com os locais onde se corre, de modo a evitar desequilíbrios que possam provocar quedas. Além de abster-se de correr com temperaturas altas e índices de humidade elevados, a corredora grávida deverá eliminar os treinos intervalados e as sessões superiores a uma hora. Com o avançar da gravidez, o tempo de corrida tem que ir reduzindo, diminuindo em cerca de 20 a 30% o volume de treino.
A prática de corrida é contraindicada se houver risco de parto prematuro, colo do útero aberto, hipertensão na gravidez, sangramento e rotura das membranas. Além disso, algumas limitações devem ser discutidas com o médico no sentido de perceber como continuar com a corrida. É o caso das arritmias, bronquite crónica, diabetes tipo 1 controlada, peso inferior ao normal, histórico de sedentarismo, restrição do crescimento intrauterino e limitações ortopédicas."