Rúben Ribeiro joga no Hatayspor, diz que foi prejudicado pelo Sporting e traça o perfil do adversário de Portugal.
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"Sou uma pessoa bem disposta, mesmo que não esteja numa fase de marcar golos ou de fazer assistências, continuo a ser uma pessoa feliz". A vida corre de feição a Rúben Ribeiro, antigo jogador de Rio Ave e Sporting, que atualmente representa o Hatayspor, sexto classificado da Liga turca. A boa disposição que o caracteriza marcou a conversa com o JN, na qual abordou as várias aventuras no futebol, o jogo entre Portugal e a Turquia, na quinta-feira, e a incerteza quanto ao fim da carreira.
Como tem sido a aventura na Turquia?
Tem sido espetacular, a única desvantagem é estar longe da minha família. É um país onde há paixão, os adeptos vibram e respiram futebol. No fundo, é isso que me move e dá força para continuar no futebol com otimismo, paixão e ser cada vez melhor.
É o terceiro campeonato diferente onde joga, depois dos Emirados Árabes Unidos e Portugal. Que diferenças há?
O campeonato turco é mesmo muito interessante e é bastante competitivo. Não é muito tático, nesse aspeto não tem nada a ver com Portugal, mas é mais competitivo: o último pode ganhar ao primeiro e isso não se vê regularmente em Portugal.
Como foi a experiência nos Emirados Árabes Unidos?
Foi complicada, fiquei seis meses sem jogar porque o Sporting assim o quis, tentou-me prejudicar ao máximo. Antes de sair de Portugal já me tinham dado a rescisão por justa causa e eu levei todos os documentos para o Al-Ain, mas assim que o Sporting viu que eu tinha assinado por outro clube complicou o processo na FIFA. O Al-Ain não podia arriscar uma sanção e eu tive de estar meio ano sem jogar, o que foi um desastre a nível mental, derrubou-me estar num país diferente sozinho, sem a minha família.
Em Portugal chegou a um grande após várias boas épocas noutros clubes. Como foi esse momento?
Antes de receber a proposta do Sporting já tinha recebido do Benfica e do F. C. Porto. Optei pelo Sporting pela forma como a equipa jogava, o futebol praticado era o que se adequava mais às minhas características. Mas, claro, trabalhar com Jorge Jesus e com alguns colegas também me interessava, como foi o caso de Fábio Coentrão, um dos que me ligou para ir para o Sporting.
O que correu mal?
O clube estava de rastos, a nível de organização, Direção, grupo de trabalho... e isso foi difícil. O balneário não era unido, era cada um por si e depois do incidente na Academia de Alcochete foi o descalabro. Eu podia ter feito melhor, claro, mas foi um problema coletivo.
A invasão à Academia de Alcochete ainda o transtorna?
É um tema sensível ainda, sim. Aquilo que passei não foi nada fácil, é um momento que jamais irá sair do meu pensamento. O meu maior medo era pela minha família.
Ultimamente temos visto muitos episódios com adeptos, sobretudo o lançamento de tochas. O que acha disto?
Faz parte, sinceramente não acho que estrague o espetáculo. O futebol vai continuar a ser como é e vai continuar a ter tochas. O desporto é isto, não tira o foco aos jogadores.
Na Turquia também há muitos incidentes com adeptos?
Não, não há conflitos. Os adeptos transmitem paixão aos jogadores, são muito exigentes, mas é este tipo de adeptos que faz falta ao futebol. É algo que me motiva mais, não é o mesmo que jogar em Portugal em jogos com duas mil pessoas ou na Turquia com 40 mil.
Portugal enfrenta a Turquia no play-off de acesso ao Mundial 2022. Por aí já se fala do jogo?
Sinceramente, não se tem falado muito, o tema mais importante, infelizmente, é a guerra na Ucrânia. Espero que seja um grande espetáculo de futebol, se desse para ser um empate e passarem os dois, era o que desejava, mas neste caso tenho de ser fiel à minha pátria.
Quais são as principais armas da Turquia?
A seleção da Turquia é muito interessante e tem jogadores ao mais alto nível no futebol, mas creio que a maior força está no ataque, onde tem grandes jogadores, como Calhanoglu, que joga no Inter de Milão, e Burak Yilmaz, do Lille.
Mas tem hipóteses de passar?
No futebol tudo é possível, a Turquia é uma seleção organizada. Acredito que vão esperar por Portugal e tentar criar perigo no contra-ataque, tendo em conta a qualidade que têm nesse setor. Podem surpreender, mas acho que Portugal tem uma excelente equipa e tudo para passar.
O que tem Portugal de fazer para passar a eliminatória?
A seleção tem sempre de jogar para ganhar, tem qualidade para isso. Acho que deve querer impor o seu jogo desde o início, pressionar a Turquia logo nos primeiros minutos e tentar marcar cedo para fechar o jogo e finalizar o quanto antes a passagem à próxima fase.
Cristiano Ronaldo e João Félix chegam ao jogo em boa forma. São as principais armas de Portugal neste momento?
Acho que sim, estão num grande momento, a marcar muitos golos. É muito importante a confiança e o moral que o João e o Cristiano, que para mim é o melhor jogador do Mundo, têm. São jogadores que de um minuto para o outro brilham e podem resolver o jogo. Quando estão neste momento de forma, tudo pode acontecer com eles.
Já que estamos a falar de seleção, porque acha que nunca chegou a esse patamar?
Talvez a minha qualidade não chegasse [risos]. Acredito que se tivesse chegado mais cedo a um clube grande em Portugal teria sido mais fácil, mas depois do que aconteceu no Sporting, quando estava no melhor momento da minha carreira, tornou-se praticamente impossível. Um jogador que jogue num grande tem mais facilidade em ser convocado, quem joga em ligas periféricas ou clubes mais pequenos raramente consegue.
Um jogador que não jogue num grande clube não consegue ir à seleção?
Acredito que consiga, mas não me lembro de nenhum. É normal que os futebolistas que joguem nos grandes clubes, de Portugal ou do estrangeiro, sejam mais rapidamente convocados do que aqueles que, por exemplo, representem equipas da segunda metade da tabela.
Como disse, o tema do momento é a guerra na Ucrânia. O que pensa disso?
É um desastre para a Humanidade. Todos nós ficamos tristes ao ver as notícias e sentimo-nos desolados, porque somos seres humanos e não gostamos que o próximo seja magoado. Diariamente vemos pessoas, sobretudo crianças, a morrerem, o que é algo perturbador.
A Turquia chegou a mediar as conversações entre a Rússia e a Ucrânia.
Sim, é verdade, e sinceramente isso deu-nos alguma esperança que a solução para este conflito possa estar para breve. Pessoalmente, fiquei feliz por ver a Turquia, o país onde jogo, a ser um dos que está a tentar que a Rússia e a Ucrânia se voltem a relacionar e que esta guerra termine de uma vez por todas.
Aos 34 anos, quais são as perspetivas para o resto da carreira?
Honestamente, não penso em terminar a carreira para já. O meu foco está em desfrutar do momento, ter paixão pelo futebol, transmitir essa paixão às pessoas e continuar a aproveitar tudo aquilo que o desporto me dá. Quero continuar a trabalhar todos os dias, porque é isso que me dá prazer. Recentemente, estive no melhor onze da Liga turca e fui o melhor médio do campeonato, então estou motivado para dar seguimento a esse trabalho.
Mas para terminar a carreira pondera um regresso a Portugal ou pretende manter-se no estrangeiro?
Volto a reforçar a ideia que não penso em terminar a carreira. Onde ou quando vou terminar não está mesmo na minha mente. Mas Portugal dificilmente será a minha opção. Claro que de hoje para amanhã as coisas podem mudar, o futebol é mesmo assim, mas enquanto essa opção depender de mim acredito que nunca mais voltarei a jogar futebol em Portugal.
Perfil de jogador
Data de nascimento: 01/08/1987 (34 anos)
Nacionalidade: Portuguesa
Clube: Hatayspor
Posição: Médio
Percurso: Leixões, Penafiel, Beira-Mar, Paços de Ferreira, Rio Ave, Gil Vicente, Boavista, Sporting, Al-Ain e Hatayspor
Títulos: Uma Taça da Liga (2017/18); Uma Segunda Liga (2006/07)