Dos seis clubes que estão ou estiveram esta época nas competições europeias, a maioria tem mais amarelos e vermelhos na Liga lusa do que na UEFA.
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A maioria dos clubes portugueses que, nesta época, estão ou estiveram nas provas europeias têm visto mais cartões na Liga do que nos jogos da UEFA. Sporting, Braga, Paços de Ferreira e Santa Clara confirmam essa tese, que só é contrariada pelos números de F. C. Porto e Benfica, embora os dragões tenham dados quase equivalentes.
Das seis equipas com estatuto europeu em 2021/22, o Sporting é a que já viu mais cartões (80) no campeonato, seguido de Paços de Ferreira (79) e Santa Clara (78). Números aproximados, numa média superior a três cartões por jogo, o que também se verifica no F. C. Porto (71). Já Braga (61) e Benfica (52) têm sido mais comedidos e estão abaixo das três cartolinas por encontro.
Nas competições europeias, o F. C. Porto é o que tem a média mais alta (3,12 cartões/jogo), muito à custa do que se passou na segunda ronda da fase de grupos. Na estreia, no recinto do Atlético de Madrid, os portistas viram seis amarelos e um vermelho (Mbemba). Os dragões são ainda a equipa lusa com mais cartões vermelhos na UEFA, três, com destaque para o jogo em casa com os colchoneros, em que tiveram duas expulsões (Wendel e Marchesín).
Ao nível disciplinar, só o Benfica também já viu vermelhos na Europa, concretamente no play-off da Champions, no reduto do PSV, por acumulação de amarelos de Lucas Veríssimo. Sporting (sete jogos), Braga (8), ambos ainda em prova, Santa Clara (6) e Paços de Ferreira (4) não têm registo de expulsões na UEFA.
Curiosamente, as 18 equipas da Liga já tiveram de lidar com expulsões e no total, após 23 jornadas, já há mais expulsões (80) do que em todo o campeonato anterior (76). Passou-se de um vermelho a cada quatro jogos para uma expulsão a cada três partidas.
Ex-árbitros pedem mudanças
José Leirós, antigo árbitro do quadro principal, defende a necessidade de mudanças significativas ao nível educacional, a começar no próprio conceito do Desporto Escolar. "Aposto que 98 a 99% dos jogadores aprendem a reclamar, simular e enganar no futebol juvenil. Não pode valer tudo para vencer. É preciso mão firme e maior conhecimento das leis do jogo", realça, ao JN.
Olhando para o interior da classe que já representou, o ex-árbitro entende que seria benéfico a aplicação da fórmula dos anos de 1990, com visitas frequentes de técnicos da FIFA, visando "a aproximação dos parâmetros da Liga com o que se passa lá fora".
Paulo Pereira, outro antigo árbitro, acha que a interpretação da maioria dos juízes nos jogos nacionais também influencia o fluxo disciplinar. "Por cá, os pisões sem intenção têm levado ao aumento de cartões. Na Europa, a não ser que sejam propositados e visando a agressão, não se liga muito a estes lances", compara.
Paulo Pereira, ex-árbitro: "A atitude dos jogadores muda. Aqui sentem-se mais à vontade e na UEFA há penalizações ao terceiro cartão. Os próprios árbitros cá exibem mais cartões do que nos jogos lá fora"
José Leirós, ex-árbitro: ""O problema começa na base, na formação do jogador. Falta mentalidade e fair-play. Há obsessão por vencer. Já os árbitros têm de mostrar mais pulso e dar-se ao respeito"
Manuel Machado, treinador de futebol: "Em Portugal há uma cultura mediterrânea e a arbitragem ajusta-se a isso. O jogador tende a não se manter de pé e o árbitro cai nisso. Lá fora joga-se mais, há menos faltas e menos protestos"
Litos, treinador de futebol: "É uma questão cultural. Aqui há muita tendência de sacar cartões aos adversários. Se derem maior poder ao VAR talvez se evitem mais injustiças. Já na UEFA, os árbitros não têm contemplações"
F. C. Porto-Sporting foi o jogo mais polémico
O F. C. Porto-Sporting (2-2), da 22.ª jornada da Liga, disputado a 11 deste mês, foi o jogo mais polémico do campeonato, tendo uma ficha disciplinar muito preenchida, com cinco cartões vermelhos e 11 amarelos. O árbitro João Pinheiro, de Braga, expulsou o leão Coates no decorrer do encontro (duplo amarelo), tendo, após o desafio e na sequência de vários incidentes, exibido o cartão vermelho ainda aos portistas Pepe e Marchesín e aos sportinguistas João Palhinha e Bruno Tabata. À margem dos futebolistas, neste jogo viram ainda o cartão vermelho Carlos Fernandes, técnico adjunto do Sporting, nos momentos finais, e os dirigentes Hugo Viana (Sporting) e Luís Gonçalves (F. C. Porto), na confusão que se seguiu ao apito final. De resto, nos três anteriores clássicos da Liga 2021/22, apenas no Benfica-Sporting (1-3) não houve expulsões. Já no Sporting-F. C. Porto (1-1) houve um cartão vermelho (ao dragão Toni Martínez, por acumulação de amarelos), o mesmo se passando no F. C. Porto-Benfica (3-1), jogo em que André Almeida viu o vermelho, por abuso de cartões amarelos.