
António Nobre agora no centro da polémica por apitar dérbi (Mário Vasa)
Foto: Mário Vasa
A arbitragem portuguesa volta a estar no centro das atenções, com a hipótese de greve a ganhar força nos bastidores. A ameaça surge num clima de tensão entre árbitros, clubes e estruturas do futebol nacional, alimentado por declarações públicas. Dois antigos árbitros internacionais, José Leirós e Paulo Pereira, abordaram o tema em declarações ao JN, refletindo sobre as causas, o passado e as possíveis consequências de um cenário inédito neste século.
José Leirós lembra que as queixas que sustentam a ameaça de paralisação têm a ver com "as pressões e as declarações públicas que têm sido feitas antes e depois dos jogos", sublinhando que "o VAR foi criado para reduzir erros e contestação, mas isso não tem acontecido". O antigo árbitro destaca ainda o papel das redes sociais no aumento da tensão: "No meu tempo, havia apenas a comunicação social. Hoje tudo ganha outra dimensão nas redes, clubes e adeptos ampliam cada polémica", disse ao JN.
Leirós recorda ainda duas greves no passado: nos anos 70 e 90, com destaque para 1975, quando ele próprio esteve envolvido num Sporting-Marítimo em que a greve foi desconvocada à última hora, após negociações entre a APAF, a Liga e os clubes. Já sobre as declarações de José Mourinho, treinador do Benfica, de que "há árbitros estrangeiros que querem arbitrar em Portugal", Leirós relembra que "pode haver alguma solidariedade com os colegas em greve".
Paulo Pereira, por sua vez, sublinha que "ninguém fora da APAF sabe com exatidão quais são as reivindicações", mas admite que as reclamações podem envolver não apenas as críticas públicas, mas também questões "remuneratórias e de condições de treino". O ex-árbitro acredita, no entanto, que uma greve é pouco provável. "Só me lembro de uma nos anos 70 e acabam por ter pouco impacto. A Liga pode sempre recorrer a árbitros estrangeiros".
Sobre a recente sugestão de José Mourinho de importar árbitros de fora, Paulo Pereira, ao contrário de José Leirós, é céptico quanto à ideia de solidariedade entre árbitros. "Nem entre os portugueses há unanimidade, quanto mais com os estrangeiros", afirmou. Para o ex-juiz, a APAF geriu mal todo este processo, "porque conseguiram pôr o ódio, que já não é pouco, na arbitragem". Lamenta também "toda a gente falar disso, sem motivo nesta fase do campeonato, pois seria uma discussão para ter no início ou no fim da prova, não agora".
A dúvida agora é saber se os árbitros levarão mesmo a ameaça por diante, e se os responsáveis da Federação e da Liga vão agir a tempo de evitar um conflito que pode agitar a temporada nacional.
