Avintes está a pagar o triplo de eletricidade e Coimbrões pondera terminar com as modalidades de pavilhão.
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O aumento do preço da energia tem tido reflexos significativos na vida dos portugueses e também influencia os clubes da A. F. Porto, que já sentiram na pele o peso da atualização energética na última faturação. No meio desta escalada, já há quem tenha triplicado os custos mensais de eletricidade, passando de uma despesa de 700 para dois mil euros.
Numa altura do ano em que anoitece mais cedo, os clubes precisam de ter a iluminação artificial ligada todos os dias úteis para que os plantéis seniores e as camadas jovens possam treinar em horários pós laborais até às 23 horas. Para já, de forma a combater o aumento de preço da eletricidade, muitos já estão a substituir a iluminação tradicional por lâmpadas LED, de baixo consumo, a limitar o uso da eletricidade ao indispensável e a adoptar mensagens de sensibilização junto dos atletas para pouparem energia nas infraestruturas desportivas.
No Avintes, da Divisão de Elite da A. F. Porto, esta situação ganha contornos maiores porque o clube tem dois estádios e sente dificuldades em cobrir as despesas energéticas. "Sentimos este problema há algum tempo. Ao cuidado do clube temos o Estádio da Quinta da Mesquita e o Parque Joaquim Lopes e passamos a pagar mais de dois mil euros, quando antes pagávamos 700 euros pelas duas infraestruturas. Em vez de 13 cêntimos por kilowatt/hora, pagamos cerca de 49 cêntimos por kilowatt/hora", explica o presidente, Rui Moita. Ou seja, o custo do kilowatt/hora aumentou quase quatro vezes como consequência da guerra na Ucrânia.
O dirigente considera estes valores "inconcebíveis" para clubes amadores e está preocupado com o impacto orçamental do clube. "Já ponderámos realizar uma assembleia geral para ficar só com um dos estádios, mas, até isso acontecer, o meu maior medo é não conseguir honrar os compromissos", lamenta.
Também em Vila Nova de Gaia o Coimbrões vive uma situação idêntica. O presidente André Moreira verificou que a fatura energética aumentou para o dobro no campo de futebol e para o triplo no pavilhão do clube. Para tentar contrariar estes valores, já pôs em ação algumas medidas. "Começámos por sensibilizar atletas e dirigentes para a importância de só ligar a luz quando for preciso. Além disso estamos a tentar garantir apoios para substituir todos os focos de luz por LEDS, que são bastante mais económicos", explica, acrescentando que caso o custo da energia não diminua pode ter de "acabar com as modalidades de pavilhão", para garantir a sustentabilidade do clube.
Na Divisão de Honra, os problemas são os mesmos. Arnaldo Tasca, presidente do Leça do Balio, destaca a obrigatoriedade de todos os treinos serem realizados à noite, o que obriga a gastos maiores de eletricidade. O dirigente acredita que a mudança para lâmpadas LED é a melhor forma de reduzir a fatura, mas prevê o agravamento da situação. "Antes deste aumento pagávamos 600 euros e agora estamos nos mil euros. De momento, somos nós que fazemos a gestão do estádio, mas se continuar assim poderemos ter de devolver essa gestão à Câmara Municipal de Matosinhos", explica.
No Balasar, a estabilidade financeira permite alguma tranquilidade para lidar com o problema, mas o presidente José Cancela também está apreensivo. "Desde agosto que sentimos um aumento de cerca de 30%. Para já, com o apoio da Junta de Freguesia de Balasar, conseguimos conter a situação, mas a continuar assim não sabemos o que pode acontecer. Também tentamos perceber os apoios que temos direito", conclui. Com o inverno cada vez mais rigoroso, os clubes da A. F. Porto têm uma longa batalha pela frente para poupar energia elétrica.
A A. F. Porto está sensível ao aumento das tarifas energéticas e já está a pôr em prática medidas para ajudar a diminuir o impacto da crise. "Através do fundo "Crescer 2024" vamos ajudar dezenas de clubes com verbas para renovar as infraestruturas, que podem ser utilizadas para aplicar iluminação LED", explica, ao JN, o presidente, José Manuel Neves. Além disso, a A. F. Porto manteve inalteradas as taxas de jogo e os custos relacionados com arbitragem, para não sobrecarregar os clubes.