A Direcção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) está na expectativa de que o Conselho de Disciplina (CD) possa punir Carlos Queiroz, com uma suspensão de dois anos, o que justificaria o despedimento do seleccionador sem encargos financeiros para o organismo.
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Esta seria a única maneira de o conflito, cada vez mais indisfarçável, entre os dirigentes federativos e o seleccionador, ter uma saída sem sobressaltos. A decisão do CD só será tomada, porém, depois de Carlos Queiroz responder à nota de culpa.
De qualquer modo, a situação é absolutamente insustentável, como se verificou na reunião de ontem, em que choveram as críticas ao seleccionador, apurou o JN. A única excepção foi mesmo o presidente Gilberto Madail, que, temeroso de um eventual conflito e consequente indemnização, manteve uma postura de distanciamento em relação à ruptura com o treinador. Insanável é, particularmente, o relacionamento entre Carlos Queiroz e o vice-presidente para o futebol, Amândio Carvalho, que chefiou a delegação federativa ao Mundial. No seu relatório oral sobre o sucedido na África do Sul, o dirigente informou os restantes directores de que o comportamento do seleccionador em relação a si foi deplorável.
No plenário de ontem que, tal como o JN noticiara, serviu apenas para o esclarecimento da situação, ficou a saber-se o teor das agressões verbais aos médicos do controlo antidopagem, efectuado na Covilhã, cujo conteúdo, visando a mãe de Luís Horta, é de conteúdo impublicável, segundo fonte federativa confirmou ao JN.
Como Queiroz não assinou a notificação - poderá fazê-lo nos próximos dias, já que chegou ontem a Portugal -, a FPF receia que o técnico procure protelar a sua recepção, para travar o processo e ainda elaborar a convocatória para os jogos com Chipre e a Noruega, a disputar no início de Setembro. Isto porque a lista de jogadores terá de ser enviada, impreterivelmente, à UEFA até ao próximo dia 16 de Agosto.
Sem o suporte dos dirigentes federativos, com quem está em visível conflito, não se vê como o seleccionador tenha condições de orientar as quinas. Esta é uma convicção dos directores da FPF, pelo que aguardam, com alguma ansiedade, a evolução do processo no CD. Aliás, também na expectativa está a secretaria de Estado do Desporto e, em particular, Laurentino Dias, já que a deliberação do CD terá de ser-lhe comunicada, porque o inquérito foi levantado pelo Instituto do Desporto de Portugal (IDP), sob a sua tutela. Se a sentença não for considerada a mais justa, o IDP pode intervir e apresentar recurso.
Uma vez na posse da provável punição do CD, mesmo que esta seja leve, a Direcção pode fazer cessar o vínculo laboral, atendendo a que a imagem da FPF e da selecção ficou "altamente degradada", segundo a nossa fonte. Assim, seria Agostinho Oliveira, funcionário federativo, a assumir, provisoriamente, o leme da equipa das quinas.
Sobre todo este imbróglio, a FPF emitiu, no final da reunião de ontem, um comunicado, afirmando que a situação ficará resolvida "até meados de Março" e que o CD "pretende ouvir o seleccionador". Como tal, só no final do processo a Direcção tomará "as medidas que se revelarem adequadas". Questionado sobre se Queiroz tem condições para continuar, Gilberto Madail respondeu com um seco "não sei, vamos ver".
* COM LUÍS ANTUNES E NUNO A. AMARAL