A Câmara de Lisboa e o Governo tinham anunciado um plano para garantir a segurança sanitária. Na quarta-feira, o Ministério da Administração Interna pediu um inquérito à Inspeção-Geral da Administração Interna.
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Era previsível que, sem estado de emergência, se juntassem em Lisboa milhares de adeptos - há 19 anos à espera - para festejar o título de campeão nacional do Sporting. Por isso, dias antes, a Autarquia local e o Governo anunciaram, também com apelos ao civismo, um plano para garantir a segurança, física e sanitária, do evento. Porém, as imagens de milhares de adeptos concentrados à volta do Estádio de Alvalade, em euforia ou em confronto com a Polícia, durante a tarde e a noite do Sporting-Boavista, mostraram que o plano falhou rotundamente. E, agora, ninguém assume responsabilidades.
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Quatro dias antes dos festejos, o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, anunciara a concertação de medidas entre Direção-Geral da Saúde (DGS), PSP, Polícia Municipal, Proteção Civil e Bombeiros de Lisboa. Trabalhariam, em conjunto, para assegurar que tudo decorreria dentro das regras impostas pela pandemia. Já ontem, em comunicado, a autarquia rejeitou qualquer falhanço, remetendo para o clube, DGS e PSP eventuais responsabilidades.
"Apesar do contexto de pandemia que ainda vivemos, essa aglomeração espontânea de pessoas era muito provável, como já se viu em Amesterdão, Milão e Manchester, e colocava particulares desafios ao clube campeão e às autoridades de saúde e forças de segurança. Refira-se que não vigora hoje no nosso país qualquer limitação horária ou outra à circulação das pessoas em espaço público", diz a Câmara, aludindo ao atual estado de calamidade, sem restrições de liberdade de movimento.
Tendo em conta os acontecimentos nos festejos da madrugada de ontem, a autarquia decidiu proibir a presença de adeptos nas imediações da Câmara, na tradicional homenagem ao campeão nacional, no próximo dia 20.
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Sporting alertou autoridades
Contactado pelo JN, o Sporting também se mostrou, por fonte oficial, alheio aos excessos. "Não fomos nós a organizar os festejos. Aconteceram fora do estádio, na via pública. Alertamos todas as autoridades e colaboramos com todas elas, sempre que somos solicitados", disse, frisando que os adeptos esperavam o título há 19 anos.
A 6 de maio, o secretário de Estado do Desporto, João Paulo Rebelo, também garantira que a festa do título sportinguista estava "a ser preparada" em reuniões entre as várias entidades. Ontem, também descartou responsabilidades. "Não é querer estar, como diz o povo, a sacudir a água do capote, mas a verdade é que não é o secretário de Estado do Desporto [o responsável], tal como não é por haver uma manifestação de professores onde haja desacatos que é chamado à colação o ministro da Educação", justificou.
A PSP, por sua vez, garantiu ter mantido a ordem e tranquilidade públicas, apesar dos objetos arremessados contra os agentes por adeptos. Foram identificados 30, detidos três e apreendidos 63 artefactos pirotécnicos, numa ação em que a Polícia carregou com bastões, gás lacrimogéneo e balas de borracha.
Foi sobre esta atuação da PSP que o primeiro-ministro, António Costa, anunciou ontem, no Parlamento, a abertura de um inquérito à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), a pedido do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Costa recusou "atirar pedras", dizendo aguardar o apuramento dos factos e sublinhando que todos têm noção do que é "a paixão futebolística, sobretudo, ao fim de 19 anos de espera".
De manhã, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, dera já o tom para que se apurassem responsabilidades: "Quem devia prevenir não conseguiu prevenir", constatou.
Momentos de alta tensão
16 horas - Milhares no estádio
A mais de quatro horas do jogo, milhares de adeptos estão junto ao estádio. Muita cerveja e pirotecnia, jovens sem máscara, que se abraçam sem qualquer distanciamento.
21.15 horas - Primeiro confronto
Ao intervalo, adeptos lançam pedras e garrafas contra a PSP, que é obrigada a disparar balas de borracha.
23.45 horas - Tensão no Marquês
Com o Marquês de Pombal cheio, adeptos tentam derrubar barreiras e começam confrontos mais violentos, com arremesso de pedras, garrafas e balas de borracha. Vários feridos.
03.55 horas - Chegada do autocarro
Autocarro da equipa chega ao Marquês, convertido em cenário de batalha campal.