Jawahir Jewels apaixonou-se pela arbitragem e combate a fobia muçulmana em jogos amadores disputados em Londres
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Pegar na regra do fora de jogo para brincar com a ignorância feminina em relação ao futebol, mais não é do que uma tentativa infeliz de ter piada se o interlocutor nessa conversa se chamar Jawahir Jewels, tiver ascendência somali, estudar informática e usar um lenço na cabeça denunciador de ligação à religião muçulmana. Nesse caso, só cairá no ridículo perante uma jovem que quer fazer carreira na arbitragem do futebol inglês.
Filha de emigrantes da Somália que encontraram uma vida em Londres, Jawahir Jewels já pensou ser quase tudo no futebol, a modalidade que a atraiu praticamente desde a nascença. Foi jogadora e até iniciou os estudos para se tornar treinadora, mas foi à arbitragem que se rendeu, depois daquele dia em que, por falta de alternativas, lhe deram a incumbência de apitar um jogo de crianças. Espantou-se, mas gostou e nunca mais parou.
Ora, se ter uma árbitra ainda é motivo para um pasmo que já devia estar fora de moda, não é difícil adivinhar as caras que se formam quando, ainda por cima, a dona do apito entra em campo com adereços pouco comuns num mundo ocidentalizado. "Às vezes, tenho que repetir muitas vezes que sou mesmo eu a apitar e ainda assim alguns demoram a acreditar. "Não, a sério, quando chega o árbitro verdadeiro?"", revelou Jawahir Jewels, numa reportagem publicada no jornal inglês, "Telegraph".
Para já, é nos mais modestos campos de Londres que esta árbitra com raízes africanas vai ganhando calo, nos intervalos que o curso universitário em informática lhe proporciona. Mas nem aí, no meio do anonimato, se livra do pior com que o futebol corrói os adeptos. E o facto de ter uma espécie de burca só piora o cenário.
Ao longo da curta carreira, Jewels já se cruzou com a xenofobia, com o racismo e com a homofobia, principalmente por parte dos pais de crianças e jovens que, do lado de fora e enquanto os filhos se divertem, não resistem a cuspir insultos.
Até ver, Jawahir tem no sorriso conciliador a melhor resposta para a ignorância alheia e ainda nada a fez desviar do objetivo que a move. Aos 23 anos, sonha com uma carreira na arbitragem ao mais alto nível e ninguém lhe tira a cisma de que, um dia, vai apitar na Premier League de futebol feminino.