A Kings League, criada por Gerard Piqué e o "streamer" Ibai Llanos, não demorou a impor-se. Alia regras de diversos desportos, juntando-lhes outras mais comuns no mundo virtual. Várias estrelas do futebol aderiram à ideia e o futsalista português Ricardinho vai seguir-lhes o exemplo.
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De uma conversa entre Gerard Piqué, antigo futebolista profissional, e Ibai Llanos, uma figura proeminente no universo digital, nasceu a Kings League, uma prova que combina regras de vários desportos e introduziu outras inspiradas no mundo dos videojogos, do "gaming".
A ideia principal passava por criar uma competição aberta aos adeptos, em que fosse possível perceber "o que o treinador diz aos jogadores ou como os proprietários negoceiam transferências", explicou Piqué, antigo jogador do Barcelona e internacional espanhol.
Comentando o impacto da Kings League, Javier Tebas, presidente de LaLiga, disse que "a única coisa em que ela é parecida com o futebol é por se jogar com uma bola e é preciso marcar golos para ganhar".
A opinião pode ser vista como um tanto ou quanto redutora, mas quando olhamos para as regras que norteiam esta nova competição somos impelidos, de forma natural, a recordar a definição avançada por Tebas.
A Kings League pode ser vista como uma variante do futebol de 7, com todos os encontros a realizarem-se num pavilhão em Barcelona.
As novidades começam logo no pontapé de saída. Os jogadores das duas equipas em confronto são colocados junto das respetivas balizas e têm de, literalmente, correr pela primeira posse de bola do jogo.
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Como é hábito nas modalidades de pavilhão, as substituições são ilimitadas, sendo que as partidas têm a duração de 40 minutos, divididos por duas partes de 20 minutos.
Se, como acontece no futebol, há foras de jogo e os lançamentos laterais são feitos com as mãos, no caso de um jogador ver um cartão amarelo ele terá de cumprir uma suspensão de dois minutos. Se a cor do cartão for encarnada, o jogador em questão fica excluído do jogo, mas a sua equipa apenas ficará em inferioridade numérica durante cinco minutos.
Na Kings League também há VAR, mas a sua utilização segue uma lógica mais aproximada à aplicada no ténis. Cada equipa pode pedir a intervenção do videoárbitro uma vez por jogo. Se a decisão inicial for revertida, mantém a possibilidade de recorrer ao VAR. Em caso contrário, fica impedida de o fazer até ao final do encontro.
Até aqui, as inovações da Kings League seguem uma certa lógica, sendo sobretudo uma combinação de leis de diversas modalidades.
Os elementos disruptivos no regulamento inspiram-se no universo "gaming", com cada treinador a poder utilizar uma carta, atribuída de forma aleatória antes do apito inicial, para alterar o rumo do jogo.
As cartas variam entre a possibilidade de dispor de uma grande penalidade em qualquer momento do encontro, a exclusão de um jogador adversário durante dois minutos, a possibilidade de os golos valerem a dobrar durante dois minutos ou, até, roubar a carta do adversário. Há ainda um Joker, que permite ao treinador escolher a carta que mais lhe convém.
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A dimensão de desporto-espetáculo fica bem vincada com a criação do perfil "Enigma69", um futebolista da Liga espanhola que joga mascarado e com o corpo totalmente tapado para salvaguardar a sua identidade. É que o jogador em questão não terá a autorização do seu clube, nem de LaLiga, para fazer a sua aparição na Kings League.
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A isto há que juntar a impossibilidade de um jogo terminar empatado na Kings League. Em caso de igualdade no final dos 40 minutos regulamentares, as duas equipas vão para uma série de penáltis em movimento, à semelhança do que acontecia na Liga dos Estados Unidos da América na década de 1990.
A recetividade do público à Kings League tem impressionado, com as transmissões em plataformas online de streaming a superarem, no seu pico, os 1,3 milhões de espetadores, no último domingo.
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A isso também ajudará o leque de estrelas que se ligaram ao projeto, como Kun Aguero ou Iker Casillas, que são donos das equipas kunisports e 1K FC, respetivamente, ou de jogadores como Javier Saviola, (ex-Barcelona e Benfica), Javier Hernández (ex-Manchester United), Alberto Bueno (ex-F. C. Porto e Boavista), que é o melhor marcador da prova ao cabo de três jornadas com cinco golos, ou Joan Capdevilla (ex-Benfica), campeão do mundo de futebol pela Espanha em 2010.
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Em breve, o português Ricardinho, seis vezes eleito o melhor jogador de futsal do planeta, também se irá juntar a esta "bendita loucura", tal como a definiu nas redes sociais.
"A forma de viver o desporto mudou, temos de revolucionar o modelo tradicional. Os jovens não aguentam assistir a um jogo inteiro, preferem ver vídeos de resumo", acredita Gerard Piqué.
Estarão na Kings League as bases sobre a forma como o futebol será encarado no futuro? Ou será esta apenas mais uma de muitas variantes que viverão na sombra do desporto-rei? O melhor mesmo é esperar para ver.