Klopp: "Não há solução além de parar de organizar novos torneios nas férias de verão"
Jurgen Klopp concedeu uma entrevista ao site inglês "The Athletic" na qual abordou os ossos do ofício da vida de um treinador, reconhecendo que esse trabalho não lhe está a fazer falta. Além disso, deixou críticas à FIFA pela quantidade excessiva de jogos.
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Após uma longa e bem sucedida carreira enquanto técnico, com passagens de destaque pelo Mainz, Borussia Dortmund e Liverpool, em 2024 Jurgen Klopp decidiu abandonar o escritório, o campo de treinos e deixar a vida de treinador. Em entrevista ao site inglês "The Athletic", o alemão fez um balanço e disse que não sente falta desses tempos.
"Fiquei super feliz com o desempenho do Liverpool. Assisti a alguns jogos, mas não é como se fosse: 'Oh, é sábado!' Eu não sabia quando os jogos começavam. Eu simplesmente saía. Praticava desporto. Nós aproveitávamos a vida, passávamos tempo com os netos, coisas completamente normais, sabendo que eu voltaria a trabalhar. Mas sabendo também que não queria mais trabalhar como treinador. É o que eu acho, mas nunca se sabe. Tenho 58 anos. Se eu recomeçasse aos 65, todos diriam: 'Disseste que nunca mais farias isso!'. E, desculpem, eu estava 100% convencido! É o que penso agora. Não sinto falta de nada", disse, afirmando que o objetivo não passava por ser treinador para a eternidade.
"Mas a ideia não era que eu fizesse isso até o fim da minha vida. Não perdi nada na minha vida, porque nunca pensei nisso. Então, durante quase 25 anos, fui a dois casamentos, um deles foi o meu e o outro foi há dois meses. Em 25 anos, fui quatro vezes ao cinema, todas nas últimas oito semanas. Agora é bom poder fazer isso".
"Estive em tantos países diferentes como treinador e não vi nada deles. Apenas o hotel, o estádio ou o campo de treino. Nada mais. Não senti falta disso [quando treinava], mas agora sentiria. Tenho escolha. Posso ir de férias e decido quando. OK, a Ulla [esposa] decide quando [risos]. Mas não é a Premier League ou a Bundesliga que decide. Fiz isso toda a minha vida. É de loucos, mas não sinto falta. Ainda estou no futebol, ainda estou a trabalhar num ambiente que conheço. Mas aprendo coisas novas todos os dias. Não o fiz isso durante um tempo como faço agora", completou.
Após esta fase, Jurgen Klopp acabou por abraçar o desafio de ser o novo Diretor-Geral no futebol do grupo Red Bull. Movimentação que foi vista com maus olhos na Alemanha.
"Eu sabia que isso iria acontecer. Sou alemão. Sei o que as pessoas na Alemanha pensam sobre o envolvimento da Red Bull no futebol. Elas adoram a Red Bull. Em todos os setores. Mas no futebol? Não. Curiosamente, foi apenas na Alemanha que a reação foi assim. Mas tudo bem, não há problema. Todos podem pensar o que quiserem. Só têm de aceitar que eu faço o que quero, desde que não magoe ninguém", explicou, antes de referir que, para os lados de Anfield, o estado anímico é outro.
"Não espero que todos gostem do que faço. Tenho de fazer isso pelas razões certas. Pelas minhas razões certas. A propósito, em Liverpool, as pessoas estão muito felizes com o que faço, porque não estou a treinar outra equipa [risos]".
Críticas à FIFA
Jurgen Klopp criticou ainda a FIFA pela quantidade excessiva de jogos presentes no calendário e disse não ter visto o Mundial de Clubes: "O Chelsea ficou feliz por ter vencido o torneio. Ótimo, recebeu muito dinheiro. Mas, em algum momento, temos de cuidar das poucas pessoas sem as quais este jogo não existiria: os jogadores".
"Não há solução além de parar de organizar novos torneios nas férias de verão. Não há mais férias para os melhores jogadores do mundo. Não farias isso em nenhuma outra área da vida. Imagina colocar o melhor artista para se apresentar todas as noites até ele cair e depois dizer: 'Desculpe, ele perdeu o foco'. E agora a FIFA está a discutir um Mundial com 64 seleções em 2030?", atirou, antes de falar sobre a vaga de lesões no futebol.
"Os jogadores que se manifestaram ficaram lesionados no dia seguinte! Rodri, por exemplo, criticou e no dia seguinte ficou lesionado! Mas se não falarmos sobre isso, definitivamente não vão parar. Eles [FIFA] gostam tanto de se envolver e ter uma ideia que simplesmente se esquecem dos jogadores", concluiu.