Os líderes europeus reúnem-se esta quarta-feira em Copenhaga para discutir o plano de um "muro" antidrones após casos de violação do espaço aéreo em vários países nas últimas semanas. Ao mesmo tempo, os chefes de Governo e Estado vão debater a proposta de utilizar fundos russos congelados para financiar empréstimos à Ucrânia.
Corpo do artigo
O encontro informal, cujas discussões vão servir de base para o próximo Conselho Europeu, nos dias 23 e 24 de outubro, foi convocado por António Costa, após episódios de incursões com drones na Polónia e com caças na Estónia, atribuídos à Rússia. Desde então, casos de disrupção nos céus da Dinamarca e da Noruega foram registados também, com dispositivos não tripulados a sobrevoarem perto de bases militares e aeroportos.
Os recentes acontecimentos têm deixado Copenhaga em alerta, com as autoridades dinamarquesas a proibirem, durante esta semana, o voo de drones civis. Segundo os média locais, a capital do país nórdico tem em vigor o maior esquema de segurança desde que recebeu a Conferência do Clima das Nações Unidas, em 2009.
A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, que chegou a sugerir o envolvimento de Moscovo nos casos dos drones da última semana, disse que se trata de uma "guerra híbrida". "A ideia de uma guerra híbrida é ameaçar-nos, dividir-nos, destabilizar-nos. Usar drones num dia, ataques cibernéticos no dia seguinte, sabotagem no terceiro dia", declarou ao jornal britânico "Financial Times".
A Rússia considera "infundadas" as acusações de que terá violado o espaço aéreo europeu. Ao ser questionado sobre o projeto de um "muro" antidrones, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, criticou, na terça-feira, a "abordagem militarista" em vez do diálogo.
Leia também Empresa portuguesa que colabora com Kiev: "Os enxames de drones são o futuro"
A ideia de um "muro" consistiria em sistemas de sensores e armas para detetar, monitorizar e neutralizar equipamentos não tripulados não autorizados. A proposta da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é bem-vista pelo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, que a classificou como "oportuna e necessária". "Temos de manter os nossos céus seguros", afirmou o chefe da Aliança Atlântica.
Dúvidas sobre como tal sistema funcionaria e como seria financiado permanecem, mas Rutte acredita que será uma forma de economizar com a defesa no futuro. "Não podemos gastar milhões de euros ou dólares em mísseis para eliminar os drones, que custam apenas alguns milhares de dólares", acrescentou o neerlandês.
No convite feito pelo presidente do Conselho Europeu, é reforçada a ideia de que "cada euro deve reforçar a segurança comum e a autonomia estratégica". "Em Copenhaga, proponho que nos concentremos em medidas concretas de capacidade, com o objetivo de construir um entendimento partilhado do que se espera da UE e dos estados-membros para atingir a nossa meta de prontidão em matéria de defesa para 2030", indicou António Costa.
Uso dos ativos russos congelados
A questão do apoio à Ucrânia continua em destaque em Copenhaga, que receberá também, na quinta-feira, uma cimeira da Comunidade Política Europeia - órgão criado em 2022 e que Kiev integra. Para além das discussões sobre um 19.º pacote de sanções contra a Rússia, que focaria no fim da compra de gás natural liquefeito pelo europeus, há a proposta de usar fundos russos congelados.
Leia também União Europeia chamada a erguer "muro" contra drones russos
Estes ativos serviriam para um "empréstimo de reparações" à Ucrânia. "Fortaleceremos a nossa própria indústria de defesa, garantindo que parte do empréstimo é utilizado para aquisições na Europa e com a Europa", garantiu von der Leyen.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, defende que o empréstimo sirva para os ucranianos comprarem mais armas feitas na União Europeia (UE), em vez de reconstruir as infraestruturas destruídas na guerra. Ideia apoiada por Bruxelas, com um diplomata da UE, citado sob condição de anonimato pelo portal Politico, a frisar que "se a Ucrânia perder a guerra, não haverá nada para reconstruir".
Enquanto Paris vê com bons olhos a ideia de Berlim, há dúvidas sobre a legalidade de tais medidas. Dúvidas que preocupam principalmente a Bélgica, sede da empresa de depósitos Euroclear, que mantém a maioria dos bens russos congelados. "Se os países virem que o dinheiro do Banco Central pode desaparecer se os políticos europeus o entenderem, poderão decidir retirar as suas reservas da zona euro", alertou o primeiro-ministro belga, Bart De Wever, citado pela agência de notícias Belga.