Uma artrite reumatoide quase matou Maria Jesús Navarro. Hoje, é vê-la participar em provas de atletismo que chegam... aos 100 km.
Corpo do artigo
Maria Jesús Navarro não pode queixar-se da rotina: um dia, é vê-la calcorrear resmas de quilómetros em passo de corrida nas provas mais duras de atletismo; no seguinte, não é impossível encontrá-la acamada, sem sequer conseguir levantar o braço para levar comida à boca. É mau? Mas podia ser bem pior. É só ter em conta que o médico que lhe diagnosticou a artrite reumatoide também lhe perspetivou o resto de uma existência à boleia de uma cadeira de rodas. Naquilo que agora pode ser visto como um episódio premonitório, a vida de Maria Jesús, também conhecida por Maje, começou a mudar após uma maratona. Primeiro, foram as mãos; depois, as pernas, os pés, as costas... Os inchamentos corporais começaram a atormentá-la a partir dos 18 anos e durante quase uma década deixaram-na parada no tempo, resignada à crueldade da doença - degenerativa e incurável - e às certezas médicas.
Nesse período negro, deixou os estudos, virou costas ao desporto, perdeu o sorriso e vivia às custas de terceiros. Pelas mãos da mãe, alimentava-se, tomava banho e vestia-se. E até dormir era um martírio: não foram poucas as ocasiões em que teve que o fazer em pé. Maje existia, mas não vivia. Só a maternidade, entretanto bem aparecida, lhe reacendeu o desejo de viver, mesmo que, muitas vezes, nem conseguisse manejar o biberão ou mudar uma fralda.
Por esses tempos, o atletismo ainda parecia totalmente incompatível com a doença, até que os caminhos de Maria Jesús Navarro e de Javier Castañeda se cruzaram. O fisioterapeuta inteirou-se do caso, garantiu-lhe a imunidade à cadeira de rodas e ofereceu-lhe ajuda gratuita. A primeira consulta ainda tardou, mas a parceria resiste ao tempo. E não é para menos.
Maje reaprendera a andar, depois recomeçou a correr e agora é vê-la como participante em maratonas ou em corridas que se prolongam por 50 e 100 quilómetros. Nos entretantos, ainda encontrou tempo para ser mãe pela pela segunda vez, mas nem esta azáfama lhe tira o objetivo de participar numa prova Ironman, uma competição com 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e mais 42,5 km de corrida.
Eis a história de quem, agora, diz à boca cheia ser "a mulher mais feliz do Mundo".