Todos os clubes e Ligas de futebol estão a sofrer com problemas financeiros, motivados pela pandemia da covid-19, que resultou nos jogos a serem realizados à porta fechada e, por consequência, sem receitas de bilheteira. Mas a Liga Francesa está a enfrentar um problema diferente com as receitas das transmissões.
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A Liga sofreu com a falta de presença de adeptos no estádio, sobretudo porque foram uma das competições que terminou a época 2019/2020 mais cedo, pelo surgimento da pandemia. O PSG é uma das grandes atrações do campeonato, pelas estrelas que estão presentes no plantel, o que beneficia os cofres do clube, mas também as outras equipas, porque aumenta o interesse das empresas em adquirir os direitos televisivos.
Por ano entram centenas de milhões de euros nos cofres dos clubes e ligas, sendo estes direitos uma das principais fontes de rendimento do futebol na atualidade. Foi exatamente este o principal problema que causou a crise financeira na Liga francesa.
Direitos televisivos
Nos anos 90, a França tinha uma das ligas mais entusiasmantes no mundo. Porém, nos últimos anos, a popularidade e competitividade têm vindo a decair, com a Ligue 1 a ser a quinta melhor classificada na UEFA.
Para elevar a competição novamente aos patamares de outrora, a Liga queria fazer um negócio de direitos televisivos muito vantajoso para os clubes. O objetivo era ganhar aproximadamente mil milhões de euros por temporada. Para chegar a estes valores, assinaram contrato com a Mediapro, empresa espanhola de audiovisuais, que atraía o interesse de investidores chineses. Esta companhia tentou nos últimos anos adquirir os direitos de transmissão da Liga italiana, mas após o insucesso, focou-se na França, como é explicado pelo jornalista Matt Slater ao "The Athletic".
A Mediapro teve de pagar uma quantia avultada para vencer o Canal + pelos direitos televisivos. Este canal era um habitual transmissor das competições francesas no país. Para justificar este investimento, a empresa contava ter cerca de 3 ou 4 milhões de subscritores, mas apenas 600 mil pessoas adquiriram o serviço. Foi um alerta para a companhia espanhola, que se apercebeu que tinha apresentado um valor excessivo e decidiu pagar uma multa para desistir dos direitos de transmissão.
O contrato com a Mediapro era válido por quatro anos, mas como sobraram três a Liga abriu os direitos televisivos para leilão e pediu um preço avultado. A BeinSports e o Canal + queriam negociar um novo pagamento, porque tinham feito uma oferta demasiado alta, devido ao interesse da empresa espanhola. O caso foi para tribunal, que recusou a negociação, e a Liga fechou negócio com a Amazon Prime. O interesse em criar esta ligação já era antigo, visto que a intenção é ter um projeto a longo prazo com a Amazon. 80% dos direitos televisivos foram vendidos à empresa norte-americana pelo mesmo preço que a BeinSports tinha pagado por apenas 20%.
O impacto nos clubes
Com isto, a Liga não conseguiu um contrato tão alto como pretendia e os clubes são os mais prejudicados com isso. Planeavam receber uma determinada quantia de dinheiro, mas vão receber muito menos que o esperado e perderam, ainda, a receita de bilheteira. Estima-se que as equipas vão perder cerca de 469 milhões de euros.
A delicada situação financeira da Liga francesa poderá vir a sofrer do efeito bola de neve. Com esta quebra de receitas e, no geral, haver menos dinheiro a entrar nos clubes, estes vão ser forçados a vender jogadores com mais regularidade e baixar os salários das suas estrelas. Noutras alturas as equipas podiam conseguir manter os atletas e tinham um poder de negociação mais forte.
Esta crise financeira vai levar alguns clubes a vender os melhores talentos, o que vai prejudicar a sua performance dentro de campo. Craques como Camavinga, Doku, Sven Botman e até Mbappé são as jovens promessas mais relevantes, como referiu Laurie Withwell à mesma publicação.
Até os clubes mais ricos como PSG, Mónaco, Nice (investidor privado) e Troyes (detidos pelo Grupo City) estão a sofrer perdas, visto que vão ter um buraco enorme nas finanças, pois têm um grande poder de contratar jogadores mais caros ou que recebem salários mais avultados.