Jurgen Klopp resistiu a um início sofrível e mantém-se à frente dos "reds" desde 2015, confirmando a tendência histórica do gigante de Anfield, que só mudou 20 vezes de treinador desde 1892.
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Há muitas coisas que fazem do Liverpool um clube especial, mítico, admirado mundialmente. Troféus, títulos e conquistas desportivas, desde logo. Mas isso também têm muitos outros. Já Anfield, a bancada "The Kop", que chegou a albergar 30 mil pessoas em pé, ou o hino "You"ll Never Walk Alone" têm direitos reservados. São partes indissociáveis da identidade dos "reds", ao ponto de falar nisso significar, automaticamente, pensar no gigante de Merseyside e, por estes dias, imaginar a montanha (inexpugnável?) que o Benfica tem que escalar na quarta-feira à noite para chegar às meias-finais da Liga dos Campeões.
Na segunda mão dos quartos de final, as águias terão pela frente uma das melhores equipas do Mundo, nascida, construída e alimentada por Jurgen Klopp, que chegou ao clube em 2015 e que, apesar da ausência de vitórias nos primeiros anos, contou com a paciência que é cada vez mais escassa na vertigem em que se tornou o futebol, mas que, afinal, é outro dos aspetos que diferenciam o Liverpool: o alemão é apenas o 20.º treinador da história do clube. Em 130 anos.
Para dar mais algum contexto a este facto, basta dizer que o F. C. Porto contratou o 20.º treinador (sem contar com interinos) em 1955 (Dorival Yustrich). Já o 20.º treinador do Sporting foi Mário Imbelloni, contratado em 1959, enquanto Jimmy Hagan passou à história, em 1970, como o 20.º treinador da história do Benfica.
Numa altura em que os treinadores são carne para canhão, contratados e despedidos num piscar de olhos, e em que não fazem mais (e não é pouco) do que tentar sobreviver, é quase inacreditável perceber que desde que John McKenna - em parceria com Edward Barclay - se tornou, em 1892, no primeiro treinador oficial de sempre do Liverpool, só outros 19 tiveram o privilégio de ocupar esse cargo. Em Anfield, eles resistiram a maus resultados, crises, descidas de divisão e até a guerras mundiais. Nos primeiros 67 anos da existência dos "reds", que foram também os mais irregulares e menos vitoriosos, o clube teve apenas oito treinadores, incluindo Tom Watson, o homem que esteve mais tempo à frente da equipa (19 anos).
Shankly e Paisley, a dupla de ouro
Em dezembro de 1959, o Liverpool estava no segundo escalão do futebol inglês pela quinta época consecutiva. Acabava de ser eliminado da FA Cup por um clube amador e vivia, talvez, o período mais negro. Essa derrota contra o Worcester City seria, no entanto, a mãe de muitas vitórias e do período mais brilhante da história do clube. Nos 25 anos seguintes, os "reds" ganhariam 31 troféus, entre eles nove campeonatos e as primeiras três Ligas dos Campeões.
Foi Bill Shankly quem tirou o Liverpool da miséria e, até 1974, traçou todo o plano que, depois, Bob Paisley, ex-adjunto de Shankly, aproveitaria para se tornar no treinador que mais troféus levou para Anfield. Seguiu-se Joe Fagan, outro discípulo de Shankly, que juntou mais três títulos à coleção, e Kenny Dalglish, o único que comandou a equipa em duas ocasiões, sendo que na primeira conduziu os "reds" a nove troféus e na segunda conquistou mais um. Entre 1959 e 1991, o Liverpool venceu 43 competições com apenas quatro treinadores diferentes.
Klopp, o outro "milagreiro"
Aos poucos, o efeito Shankly foi esmorecendo e as décadas que se seguiram não foram famosas. O Liverpool esteve 30 anos sem ser campeão inglês, lutar por troféus era uma raridade e viu os rivais ficarem mais fortes, principalmente o Manchester United, que teve em Alex Ferguson o "seu" Bill Shankly. Duas Taças de Inglaterra, uma Taça UEFA e uma Liga dos Campeões foram salvando a honra. A sensação de que era preciso outro "milagreiro" começava a ganhar músculo. E ele apareceu.
Em outubro de 2015, chegou o 20.º treinador e aquele que, provavelmente, daqui a uns anos disputará com Bill Shankly o trono do mais importante da história do clube. Em sete anos, Jurgen Klopp reergueu o gigante e tornou o Liverpool outra vez temível. Fez dos "reds" campeões ingleses pela primeira vez desde 1991, conquistou uma das seis Ligas dos Campeões do clube e esta temporada ainda pode fazer o que nenhum outro conseguiu em Inglaterra: conquistar os quatro troféus que disputa (um deles, a Taça da Liga, já está).
Ao todo, Klopp, que também é o treinador do Liverpool com melhor média de vitórias, já conquistou cinco troféus, confirmando, por outro lado, a boa percentagem de acerto que o clube mostra na escolha dos donos do banco. Dos 20 escolhidos, só sete (um deles interino) não contribuíram para o enriquecimento do palmarés dos "reds".
Todos os treinadores do Liverpool: John McKenna, Tom Watson, David Ashworth, Matt McQueen, George Patterson, George Kay, Don Welsh, Phil Taylor, Bill Shankly, Bob Paisley, Joe Fagan, Kenny Dalglish (duas vezes), Ronnie Moran (interino), Graeme Souness, Roy Evan, Gérard Houllier, Rafael Benítez, Roy Hodgson, Brendan Rodgers e Jurgen Klopp
Nacionalidades dos treinadores: Irlandesa, inglesa, escocesa, francesa, espanhola, norte-irlandesa e alemã
Treinador mais tempo no cargo: Tom Watson (entre 1896 e 1915)
Treinador com mais jogos: Bill Shankly (783)
Treinador com mais troféus: Bob Paisley (20)
Treinador com melhor média de vitórias: Jurgen Klopp (62,3%)
Treinador menos tempo no cargo: Roy Hodgson (seis meses)