Morreu, este sábado, o ex-presidente do F. C. Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, aos 87 anos (nasceu a 28 de dezembro de 1937). O presidente mais titulado da história do futebol deixou uma marca no clube e no futebol português. Lutava, desde 2021, contra um cancro na próstata.
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Nasceu na freguesia de Cedofeita, cresceu no Porto, uma cidade que sempre defendeu até às entranhas, lutou pela regionalização e fez do F. C. Porto um dos maiores clubes nacionais e uma imagem de marca no estrangeiro. Pinto da Costa deixou um legado de 69 troféus no futebol nacional que o tornam no presidente mais titulado de sempre no panorama internacional, mas para que a obra ganhasse esta dimensão superlativa teve de construir alicerces sólidos num clube que não tinha a força do Benfica e do Sporting, quando ganhou as primeiras eleições, em 1982, como candidato único.
A partir daí, apostou tudo para ter equipas competitivas, treinadores capazes e criou um estilo combativo ao centralismo de Lisboa que ganhou adeptos e o tornaram numa figura capaz de ultrapassar as fronteiras do desporto. Criticou ministros, autarcas e alimentou polémicas com presidentes rivais à custa de um discurso afiado, musculado e inteligente. Fez muitas inimigos, mas colecionou amizades fraternas com Ramalho Eanes, antigo presidente da República, e Fernando Martins, líder do Benfica quando Pinto da Costa chegou à presidência.
Ao longo de 42 anos na liderança do F. C. Porto, colocou o clube numa dimensão superior: duas vezes campeão europeu, uma Taça UEFA, uma Liga Europa, uma Supertaça e duas Taças Intercontinentais, além de episódios de sucesso interno como a conquista do pentacampeonato, um feito único no panorama português. Neste percurso ganhou ainda a fama de negociador implacável, capaz de comprar jogadores por preços acessíveis e depois transferi-los por valores elevados, além de conseguir ver talento onde nem todos conseguiam perceber onde estava a qualidade. A contratação de Paulo Futre ao Sporting, que depois viria a ser transferido para o Atlético de Madrid, em 1987, por 2,3 milhões de euros, é o primeiro grande negócio.
Viveu vários amores, era um homem culto, amante da poesia, gostava de ouvir fado e estudou num colégio religioso, em Santo Tirso. Toda a imagem do homem de sucesso também sofreu abalos repentinos como aconteceu logo após a conquista do título de campeão europeu, em 2004, quando se viu envolvido no processo Apito Dourado, tendo sido suspenso por dois anos. Travou uma grande batalha contra o Benfica no caso dos emails e foi perdendo a popularidade junto dos sócios quando o F. C. Porto esteve quatro anos sem ganhar o campeonato, entre 2013 e 2017, deixando a SAD sem a saúde financeira de outros tempos.
Em 2021 foi-lhe diagnosticado um cancro na próstata, um segredo que só os amigos mais íntimos sabiam, mas nem isso o impediu de se candidatar à presidência do F. C. Porto em abril de 2024, quando o clube estava abalado pelo rasto de violência da assembleia-geral de 13 de novembro de 2023. No duelo com André Villas-Boas, que tinha sido o treinador escolhido para uma época de glória, em 2010/11, acabou copiosamente derrotado com apenas 19% dos votos. Nos últimos meses, publicou o livro "Azul até ao fim" com algumas passagens polémicas, revelando quem não queria que marcasse presença no funeral.
Pinto da Costa, de 87 anos, estava casado com Cláudia Campo, deixa dois filhos, Alexandre e Joana, e cinco netos.